Filha única de um dos maiores chefes da máfia italiana-americana, Isabella Bianchi sempre viveu sob rígida proteção, com sua vida traçada por alianças que ela não escolheu. Entre elas, um noivado arranjado com Romeu Castellani, CEO de uma bilionária empresa, que a via apenas como uma obrigação. Prestes a completar dezoito anos, Isabella sofre um atentado brutal que tira a vida de seus pais e a deixa gravemente ferida. Sozinha e com o contrato ainda em vigor, ela é forçada a se casar com Romeu, um casamento frio, celebrado no hospital onde ela luta para se reerguer. Durante três anos, Isabella vive isolada em uma mansão gélida, cuidada apenas pelo silêncio e pela indiferença do marido que ela amava em segredo. Quando finalmente tenta se aproximar, descobre a traição que a destrói: Romeu tem uma amante, seu verdadeiro amor. Partida, ela decide pedir o divórcio e, pela primeira vez, escolher a si mesma. O que Isabella não esperava era despertar em Romeu uma fúria cega e um ciúmes avassalador. Acostumado ao controle e à distância, ele se vê obrigado a encarar os sentimentos que sempre negou. Mas talvez seja tarde demais para recuperar a mulher que ele jamais soube valorizar. Entre dores do passado e novas batalhas, Romeu terá que provar se é capaz de mudar antes que Isabella vá embora para sempre.
Ler maisO vapor do café subia devagar na xícara branca, mas Isabella mal percebia. Os dedos estavam entrelaçados no colo, frios apesar do sol fraco da manhã. O café era pequeno, charmoso, e ela havia escolhido uma mesa no canto, longe dos olhares. Ainda não se sentia à vontade em lugares públicos, não depois do acidente. As roupas largas escondiam o corpo, mas não a ansiedade.Ela não sabia se estava nervosa por encontrar a amiga de infância depois de tanto tempo… ou por tudo que vinha sentindo nas últimas noites.— Isa?Ela levantou os olhos. Bia estava ali, com o mesmo sorriso de sempre, talvez mais maduro, talvez mais triste, mas ainda dela. Trocadas as primeiras palavras, o abraço foi tímido. E ráp
A cozinha estava mergulhada em penumbra, iluminada apenas pela luz amarelada da luminária sob o armário. Era tarde, tarde demais para estar acordada, mas Isabela não conseguia dormir desde o último embate com Romeu na noite anterior, naquela mesma cozinha. Desde o último quase-toque. Desde aquela maldita promessa.“Quando você implorar, eu não vou ter piedade.”Aquelas palavras grudaram nela como suor. Ela estava de costas, pegando algo na geladeira, quando sentiu a presença atrás de si. Outra vez, o calor, o cheiro. A tensão que se instalava antes mesmo que ele dissesse uma palavra.— Você anda perambulando muito de madrugada — ele disse, com aquela voz arrastada. — Vai acabar tropeçando em problemas. Tipo eu.Ela girou devagar. Usava apenas um short de algodão e uma regata fina, sem sutiã. Ele olhou, devorou, mas se manteve impassível. Quase.— O que quer, Romeu?— Ainda tentando descobrir se a fome é sua ou minha.Ela deu uma risada seca.— Talvez eu devesse descobrir isso nos braç
Os dias seguintes se arrastaram com uma lentidão cruel. Isabela mal percebia o tempo passar. As horas pareciam diluídas em névoa, enquanto ela tentava se esconder de tudo, dele, principalmente. Passava a maior parte do tempo trancada no quarto ou no ateliê improvisado, pincelando telas em branco com a urgência de quem precisa calar uma voz interna. Tentava pintar qualquer coisa que não tivesse o contorno daquele olhar queimando sua pele. Mas ele estava em tudo: nas cores, nos traços, até no ar que respirava. Romeu era a ausência que preenchia cada fresta.Ele não invadia mais seus espaços. Não como antes. Não com palavras. Mas estava por toda parte. Uma presença silenciosa, insuportavelmente presente. Passava por ela no corredor e sorria como se soubesse de um segredo que ela ainda não havia descoberto. Sentava à mesa do café sem dizer nada, mas a olhava por cima da xícara, devagar, como quem degusta um sabor que conhece de cor. Às vezes, só para provocá-la, a chamava de “senhora Cast
O silêncio da madrugada era cortado apenas pelo som do vento balançando as janelas. Isabela não dormia, não conseguia. A tempestade da noite anterior havia deixado uma inquietação grudada na pele, como o toque de Romeu que ainda queimava sua memória. Ela virou na cama pela milésima vez, a camisola leve colando no corpo por causa do suor frio.Foi quando a maçaneta girou e ela se sentou num susto.— De novo, não... — murmurou para si mesma, quando viu a silhueta dele surgindo na penumbra do quarto.— Ouvi um barulho — disse ele, sem parecer muito convincente. — Tudo bem por aqui?Ela cruzou os braços sobre o peito, puxando o lençol para cobrir as pernas.— Se for pra invadir meu quarto toda vez que ouvir o vento, vou precisar trocar de casa ou você de ouvidos, Romeu.Ele riu, encostando a porta atrás de si.— Eu fiquei... preocupado.— Você nunca se preocupou comigo.— E você nunca andou pela casa de camisola.Ela sentiu o calor subir pelo rosto.— Não estou andando pela casa. Estou no
No dia seguinte Isabella estava na sala de leitura, encolhida no sofá com um livro entre as mãos. Já era tarde e era uma noite silenciosa, abafada, e o som da chuva caindo lá fora criava um ritmo hipnótico. Ela usava um robe de cetim, curto, frouxamente amarrado à cintura. As pernas nuas se estendiam sobre o tapete, os pés descalços tocando a madeira fria. Estava relaxada. Até ouvir o barulho da porta se abrindo.Ela ergueu os olhos e o viu. Romeu. De camisa preta semi aberta, mangas dobradas até os antebraços, calça social escura, cabelos um pouco desordenados. Ele entrou como quem possuía aquele lugar, como quem estava prestes a tomar o que quisesse, com ou sem permissão.— Não esperava te ver aqui a essa hora — ela murmurou, voltando os olhos ao livro numa tentativa patética de parecer indiferente.— Eu também não esperava. Mas... — ele parou perto da poltrona oposta, observando-a com intensidade — ...às vezes o universo nos prega boas peças.Ela fingiu um sorriso.— Que poético, Ro
Romeu não conseguia tirá-la da cabeça. Desde o instante em que a vira emergir da água, a pele dela brilhando sob a luz difusa da piscina, o corpo curvilíneo se revelando por entre as ondas e as cicatrizes marcando sua pele como fragmentos de uma história que ele nunca ouviu, Isabella o perseguia. Ela, tão... mulher. Tão diferente da figura apagada que ele imaginava quando pensava na esposa com quem dividia um sobrenome, mas não a vida.Naquela manhã, decidiu procurá-la. Queria esclarecer, dizer que não era nojo o que havia em seu olhar, mas surpresa. Encantamento e certamente desejo. Mas ao bater na porta do estúdio, foi recebido com o silêncio duro e indiferente de sempre. Ela não queria vê-lo.Mais tarde, foi obrigado a vê-la. O avô, inflexível como sempre, havia imposto um jantar de aparências naquela noite. A imprensa andava murmurando sobre o casal recluso, e ele queria fotos, sorrisos, uma imagem pública perfeita. Romeu estava de pé ao lado da mesa, consultando o relógio, quando
Era só uma imagem, uma única imagem. Mas ela grudou nele como uma maldição. Romeu apertou os olhos, apoiando as mãos no volante do carro estacionado. Respirou fundo, tentando focar no que estava fazendo ali, precisava buscar documentos na empresa, uma tarefa simples, prática, sem margem para devaneios.Mas lá estava ela, de novo. Emergindo da água como uma ninfa ferida, com a pele úmida e as cicatrizes reveladas como mapas de dor. A forma como a toalha escorregava pelos ombros, revelando a curva delicada da clavícula. O cabelo encharcado, colado ao rosto. O olhar em choque, a raiva, a mágoa.E ele, um idiota paralisado, apenas olhando. Como se nunca tivesse visto uma mulher antes. Romeu bateu a cabeça levemente contra o encosto do banco. Aquilo estava virando obsessão.Passou o dia inteiro tentando evitar o pensamento. No café da manhã, errou a quantidade de açúcar no café. Na reunião com o avô, não ouviu metade do que foi dito. Quando saiu da sala, levou um esporro e nem reagiu.E ago
A mansão estava silenciosa naquela tarde nublada, com um clima morno que deixava tudo levemente fora de lugar. Romeu percorria os corredores em busca de algo que nem sabia definir. Havia tido um dia insuportável no escritório do avô e voltara para casa mais cedo, esperando pelo menos algum silêncio.Passou pela porta dupla da ala oeste e, por puro impulso, desceu as escadas até a parte térrea do jardim interno. Ali, atrás de uma porta de vidro fosco que nunca usava, ficava a piscina aquecida, mais um dos luxos da mansão que ele jamais aproveitava.Ia passar reto, mas um som o deteve. Água. Movimentos suaves, ondulações. Ficou curioso e sem motivo aparente, empurrou a porta. O vapor quente o envolveu de imediato, e seus olhos levaram um segundo para se acostumar à névoa que flutuava sobre o ambiente iluminado apenas por luzes suaves, embutidas nas laterais da piscina. E então ele a viu, Isabella.Sozinha, no centro da água, os braços boiando ao lado do corpo, a cabeça levemente inclinad
— Bom dia. — Isabella falou com um sorrisinho debochado assim que ele entrou na cozinha, sem sequer levantar os olhos do pão que passava na manteiga.Romeu parou no vão da porta, como se ponderasse se era seguro entrar.— Dormiu bem? — ela completou, lambendo a faca com naturalidade e sem nenhum pudor. Estava de camiseta larga e short de moletom, com uma meia de cada cor. Nenhum traço da esposa recatada e insegura que ele estava acostumado a ver.Ele pigarreou, desconfiado.— Não exatamente.— Hm. Que pena. Eu dormi como uma pedra — respondeu, mordendo o pão com gosto. Depois piscou para ele. — O tapa me aliviou.Romeu arqueou as sobrancelhas, andando devagar até a cafeteira. O maxilar ainda doía. O ego, mais ainda.— Você tem um braço forte — murmurou, sem olhá-la. — Para alguém tão... delicada.— É o que dá passar três anos ignorando o básico da sua esposa. A gente desenvolve talentos ocultos.Ela deu uma risadinha e bebeu seu suco, como se estivesse falando do clima. Romeu a observa