Capítulo 2

O vestido preto que Isabella usava era simples demais para a grandiosidade da sala. O tecido leve roçava suas pernas trêmulas enquanto ela se encolhia em uma das poltronas luxuosas, sentindo o coração bater alto demais para seu pequeno peito suportar.

A mansão Castellani exalava opulência fria. Nada ali parecia acolhedor. Nem mesmo as flores brancas espalhadas em vasos de cristal conseguiam suavizar a atmosfera de poder e opulência. Era como estar dentro de uma catedral construída para adorar o sucesso e a ambição, duas coisas que, agora, não significavam nada para ela.

Isabella apertou os dedos em seu colo, sentindo suas cicatrizes recém-formadas. O cheiro de antisséptico parecia impregnar sua pele, apesar de já ter deixado o hospital. Ela era uma sombra do que fora, e sabia disso.

Aos dezoito anos, Isabella Bianchi havia perdido tudo. Seus pais, sua casa e seu futuro. Restava apenas um contrato assinado anos atrás, um acordo que lhe dava um novo sobrenome, mas não garantia nada além disso.

A porta dupla se abriu com um rangido seco. Ela ergueu o olhar a tempo de ver Romeu Castellani entrar, impecável em seu terno escuro, com a expressão de alguém que estava ali apenas por obrigação.

Romeu não pertencia oficialmente à máfia. Era um magnata, um CEO bilionário, respeitado no mundo dos negócios. Mas seu padrinho, um dos mais antigos e temidos líderes da família mafiosa, a quem Romeu chamava de "Vovô", era o elo invisível que o mantinha preso àquela teia de promessas e lealdade. E foi esse elo que agora o obrigava a cumprir o contrato.

Ele parou diante dela, mantendo uma distância calculada.

— Isabella — disse, a voz cortante como vidro.

Ela tentou sorrir, mas seus lábios trêmulos mal se moveram.

— Senhor Castellani — respondeu num sussurro.

Ele franziu levemente a testa.

— Somos marido e mulher agora. — As palavras pairaram no ar, vazias de significado.

O casamento havia acontecido dois meses antes, no quarto frio de um hospital. Apenas assinaturas apressadas e testemunhas indiferentes. Uma cerimônia feita para selar um dever, não um sentimento.

— Quero deixar algumas coisas claras — Romeu continuou, os olhos frios como aço. — Eu cuidei do seu tratamento. Pagarei sua reabilitação. Você terá tudo que precisar... financeiramente. Creio que imagine que a família e o vovô cuidarão dos bens de sua família até completar vinte e um anos.

Ela ouviu cada palavra como se fossem punhais. Tudo que precisar. Tudo, menos ele.

— Sim, eu imaginei, obrigada — murmurou.

Romeu desviou o olhar, como se a mera visão dela fosse desconfortável.

— Vovô exige que você esteja sob minha proteção — disse ele. — Mas não precisa esperar mais do que isso.

Isabella mordeu o lábio inferior, sentindo o gosto amargo da humilhação. Ela não esperava amor, não mais. Mas o desprezo silencioso era como ácido derramado sobre suas feridas ainda abertas.

— Entendo — respondeu, com uma dignidade que ela mesma não sabia de onde tirava.

Por um instante, um lampejo de algo, pena, talvez, atravessou o rosto de Romeu. Mas desapareceu rápido demais para que ela pudesse se agarrar a isso.

Ele deu meia-volta.

— Você vai ficar em um dos quartos de hóspedes. Terá enfermeiras e fisioterapeutas à disposição. Não interfira nos meus assuntos, Isabella. — Ele hesitou antes de acrescentar, numa voz mais baixa: — E tente não esperar o que eu não posso oferecer.

A porta se fechou atrás dele com um clique suave. Isabella ficou sozinha na imensa sala dourada, sentindo a solidão pesar como uma segunda pele.

Não havia mais volta, ela era a Sra. Castellani. Uma esposa de nome, uma obrigação. Um pedaço de uma promessa feita entre homens que escolheram seu futuro. Isabella respirou fundo, sentindo a dor nas costelas ainda frágeis, a perna latejando sob a calça larga. Mas a dor física era suportável. O que a consumia por dentro era a morte silenciosa dos sonhos de menina, aqueles que, um dia, ingenuamente, imaginaram que Romeu Castellani poderia olhar para ela com algo que se parecesse com amor.

Ela ergueu o queixo. Se era assim que seria, então aprenderia a sobreviver nesse novo mundo, sozinha.

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