O leve bater na porta fez Isabella se sobressaltar. Era Romeu que a chamava. Desde que se mudara para o quarto de hóspedes logo após o casamento, ele raramente a chamava. Ela franziu o cenho, largando o livro que mal lia. Era estranho ele procurar por ela agora. Só podia ser algo referente ao divorcio.
— Pode entrar — disse, cautelosa.
Romeu abriu a porta com cuidado. Estava de jeans escuro, camisa dobrada nos antebraços e aquele olhar que ela conhecia bem, mas que, estranhamente, parecia diferente naquela noite.
— O que você quer? — ela perguntou de imediato, desconfiada.
Ele hesitou por um segundo antes de avançar dois passos para dentro do quarto. Manteve uma distância respeitosa.
— Vim conversar. Precisamos ponderar sobre algumas coisas, talvez tenhamos nos precipitado. — A voz dele soou estranhamente calma.
Isabella ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Está bêbado?
Romeu soltou uma risada curta, como se tivesse esperado aquela pergunta.
— Não. Só... pensando melhor nas coisas.
Ela o observou, desconfiada. Aquilo não fazia sentido, nada em Romeu mudava do dia para a noite sem uma boa razão.
— Se for sobre o divórcio, eu só estou esperando os papéis para assinar— cortou, seca.
— Eu sei. — Ele se aproximou mais um passo, sem forçar. — Mas eu queria propor uma coisa antes.
Ela estreitou os olhos.
— Propor o quê?
— Que a gente tente se conhecer de verdade. Conviver. Sem pressa, sem pressão. — Romeu falava num tom calmo, como se cada palavra tivesse sido pensada mil vezes antes de ser dita. — Se no final você ainda quiser o divórcio... eu aceito.
Isabella piscou, confusa por um momento. Depois, a desconfiança cresceu rápido em seu peito.
— Meu avô mandou você fazer isso, não foi?
Romeu hesitou. Foi um momento quase imperceptível, mas ela captou.
— Não. — respondeu firme. — Essa decisão é minha.
Ela riu, seca.
— Você esquece que eu cresci ouvindo as desculpas da máfia. Sei reconhecer uma mentira disfarçada de meia-verdade.
Ele não respondeu. Apenas a encarou com um misto de desafio e algo... quase vulnerável.
— E a sua amante? — disparou ela, sem rodeios, o olhar cortante.
Dessa vez, Romeu pareceu realmente pego de surpresa. O silêncio dele foi resposta suficiente.
— Vai continuar saindo com ela enquanto “tenta me conhecer”? — Isabella ergueu o queixo, desafiadora.
— Não. — A resposta dele veio dura, seca. — Eu vou terminar tudo.
— Vai? — Isabella deixou escapar uma risada irônica. — Então ainda não terminou.
— Ainda hoje. — Romeu insistiu, firme. — Se você aceitar tentar.
Ela cruzou os braços com mais força, como se precisasse se proteger. Olhou para ele, para aquele homem que era ao mesmo tempo tão familiar e tão estranho.
— Eu não confio em você, Romeu. — Sua voz saiu mais baixa, mas cheia de convicção. — E não é agora, do nada, que isso vai mudar.
Ele assentiu devagar, aceitando o golpe sem reagir.
— Entendo. — O olhar dele, no entanto, permaneceu fixo nela, como se se recusasse a desistir.
Um silêncio pesado caiu entre os dois. Ele respirou fundo, como se estivesse ponderando se deveria dizer algo mais. Mas ao fim, apenas deu meia-volta e caminhou até a porta. Antes de sair, lançou-lhe um último olhar, cheio de uma determinação silenciosa.
— Boa noite, Isabella.
Ela não respondeu. Apenas ficou ali, imóvel, ouvindo o som da porta se fechando atrás dele. O coração batendo rápido demais e a mente cheia de perguntas que não queria fazer. Romeu estava jogando, era óbvio. Algo havia mudado na situação deles, e ela era capaz de apostar que a visita que ele fizera ao avô tinha algo a ver com isso. Sabia que aquela batalha mal tinha começado e ela deveria estar preparada. E pior: uma parte dela, muito pequena e muito traiçoeira, queria ver o que ele seria capaz de fazer.