Capítulo 4

Isabella deixou o escritório de forma intepestiva, tomada pela raiva, tropeçou na escada e caiu.

Romeu que ja saia do escritório atras dela correu e chegou a tempo de segurá-la.

Isabella recusou sua ajuda, e o afastou abruptamente. Chorou silenciosamente com amargura e subiu as escadas com dificuldade. Se arrastou de volta ao quarto, a bengala batendo no chão a cada passo irregular.

A dor física era um incômodo constante, mas nada se comparava ao vazio que corroía seu peito.

Ela não era tola, sabia como as pessoas a viam agora. Deformada, destruída, uma sombra da menina que fora um dia. Sua perna manca, a pele marcada... um lembrete vivo de que a vida lhe havia sido tirada de forma cruel e definitiva. E, de uma forma ainda mais dolorosa, sabia que Romeu jamais a desejara e jamais a desejaria. Ele a havia tolerado, sim, por obrigação, mas amor... aquele tipo de amor que ela sempre imaginara, não existia mais.

Mal entrou no quarto e ouviu as batidas fortes na porta. Antes que pudesse responder, Romeu entrou sem cerimônia. Seu olhar era frio, duro, como se estivesse lidando com algo que desejava exterminar. Como se ela fosse um incômodo a ser eliminado de sua vida.

— Você entra sem ser convidada e vai embora como uma criança birrenta? — A voz dele cortava o ar, carregada de sarcasmo, de desprezo. Ele a observava, seu olhar incisivo, como se a vê-la ali fosse um castigo.

Isabella se levantou com esforço, endireitando o corpo da melhor forma que podia. Não era mais uma menina frágil. Ela aprendera a lutar com suas próprias limitações, mas agora sabia que estava no limite. Seus olhos eram firmes, mas dentro de si, o medo e a dor estavam misturados de maneira inextricável.

— Eu já tomei minha decisão — disse, olhando-o nos olhos, mesmo que isso lhe custasse toda a força que ainda restava. — Quero o divórcio.

Romeu soltou uma risada seca, sem humor, uma risada de desprezo.

— Você acha que pode simplesmente romper um acordo feito há anos? — Ele se aproximou, seus passos pesados como o peso da decisão que ele acreditava que ela jamais tomaria. — O avô jamais aceitará isso. Você sabe o que ele representa.

— Eu sei — sussurrou ela, a garganta apertada, mas com uma força que Romeu não esperava. — Mas também sei que agora sou maior de idade. Tenho vinte e um anos, Romeu. Sou capaz de enfrentar qualquer um, até mesmo ele, para me livrar de você.

Romeu a encarou por um longo momento. Seus olhos negros faiscavam com algo próximo ao desprezo, mas havia algo mais ali. Um desconforto disfarçado de arrogância, um desconforto que ele se recusava a admitir. Ele não sabia como reagir. Sempre a tinha como uma figura submissa, alguém que ele poderia controlar, mas agora ela se mostrava diferente, mais forte. Por um breve momento, ele pareceu vacilar.

— Muito bem. — Ele cruzou os braços, a expressão carregada de desdém. — Se quer tanto se livrar de mim, farei os papéis. O mais rápido possível.

Isabella sentiu as pernas fraquejarem, mas se manteve firme. Seu corpo estava exausto, mas sua mente era inquebrável. Ela tinha finalmente tomado o controle de sua vida, e não importava mais o que ele pensasse ou sentisse.

— Obrigada — disse, quase sem voz, a dor se tornando um peso em suas palavras. Não eram palavras de gratidão, mas de alívio. Um alívio amargo, mas necessário.

Romeu deu um passo à frente, o olhar ainda mais frio, cruel. Ele queria pôr ela no seu devido lugar. Como ela ousava tomar uma atitude tão ousada? Ele queria esmagar qualquer resquício de orgulho que ela ainda pudesse ter.

— Não pense que é porque tem esse corpo mutilado que vai conseguir piedade de mim, Isabella. — Sua voz era cortante como uma navalha, cortando o silêncio com a brutalidade de suas palavras. — Eu te assumi por obrigação. Sempre foi por obrigação. Você não passa de um fardo.

As palavras dele a atravessaram como lâminas afiadas, rasgando qualquer esperança que ainda restava dentro dela. Não era a primeira vez que ele a fazia se sentir assim, mas agora, depois de tudo, as palavras dele ainda tinham o poder de feri-la profundamente.

Isabella piscou para conter as lágrimas, mas não conseguiu impedir que uma rolasse pela bochecha. Era uma lágrima de dor, de perda, de frustração. Ele nunca a amara, nunca sequer se importara. Era só um fardo para ele, uma responsabilidade que ele aceitara por causa do que representava. E ela já não suportava mais.

— Olhe para você — cuspiu ele, com rancor. — Quem, em sã consciência, se interessaria por algo tão... quebrado e desinteressante?

Ela sentiu a humilhação consumir suas forças. Cada palavra dele era um golpe que ela não estava mais disposta a aguentar. Mas, em vez de ceder à dor, ela se manteve firme, tentando controlar o tremor da voz.

— Eu já sei disso — murmurou, com um fio de voz. — Não precisa me lembrar.

Por um momento, algo relampejou no rosto de Romeu, uma faísca de desconforto, talvez arrependimento. Mas foi tão rápido que Isabella poderia ter imaginado. Ele se virou sem dizer mais nada, batendo a porta atrás de si com força, fazendo o som ecoar pela mansão vazia.

Sozinha novamente, Isabella permitiu-se desabar. Seu corpo deslizou contra a parede até se encolher no chão. Abraçou os joelhos magros, sentindo a perna mutilada latejar com a pressão. Um soluço escapou, dolorido e abafado. Ela era uma mulher quebrada, e, pela primeira vez, não tentou esconder essa verdade de si mesma. Ela não era mais a menina que esperava que Romeu a amasse, que ela fosse suficiente para ele. Ela era uma mulher, sozinha, e agora sabia que a verdadeira força viria de dentro, não de alguém que jamais a quis de verdade.

Ela ficaria bem. Mas, por enquanto, ela precisava chorar. E chorar era tudo o que restava a fazer.

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