Mundo ficciónIniciar sesiónAlice Vitali é uma artista brilhante, mas desesperada. Peter Blackwood é um bilionário italiano que não aceita "não" como resposta. Quando seus mundos colidem em um leilão de luxo, o interesse dele por ela se torna uma obsessão instantânea. Ele vê a escuridão que ela esconde e lhe oferece uma saída... por um preço. Presa em seu jogo de sedução e poder, Alice terá que decidir o quanto vale sua liberdade. E se ela está disposta a perder a alma no processo.
Leer másO ar no Museu de Arte Moderna não cheirava a tinta, como deveria. Cheirava a ambição refrigerada e a notas de cem dólares recém-impressas.
A atmosfera era densa, quase sólida. Lustres de cristal choravam luz sobre uma multidão que se movia como um cardume de peixes tropicais venenosos — mulheres envoltas em sedas que custavam mais que a minha vida inteira, homens em ternos cortados com a precisão de um bisturi.
Eu não pertencia àquele lugar. Eu era uma mancha de tinta fresca em um tapete persa imaculado.
Meu nome é Alice Vitali. Minhas mãos estão sempre manchadas de grafite ou acrílico. Meu mundo é sujo, real e caótico. Mas esta noite... esta noite eu era uma fraude embrulhada em seda azul-marinho emprestada.
Passei a mão pelo tecido do vestido da Carol. Ele deslizava sobre a minha pele como água fria, um lembrete constante de que aquela não era a minha pele.
— Aproveita, Alice. É a sua chance de ouro. — A voz da Carol ecoava na minha cabeça. — Enfia o portfólio na cara dele.
O desespero tem um gosto amargo, como café queimado. A conta do hospital da minha mãe pulsava na minha mente, um metrônomo marcando o tempo que eu não tinha. Eu não estava ali para socializar. Eu estava ali para caçar.
Respirei fundo. O ar condicionado gelou meus pulmões. Ergui o queixo.
Vamos lá. Atuar.
Não caminhei como uma intrusa. Caminhei como se fosse a dona do museu prestes a despejar todos eles. Meus passos no mármore polido tinham ritmo. Click, clack, click, clack.
Meus olhos varreram o salão, ignorando as taças de cristal e os sorrisos de porcelana, até pousarem no meu alvo.
Antônio Bastos.
Ele estava parado perto de uma escultura abstrata, parecendo um sapo em um terno brilhante. O olhar dele varria o salão, não buscando arte, mas carne.
Engoli o nojo. Aproximei-me.
Esperei o momento exato em que ele ficou sozinho, girando sua taça de champanhe com tédio.
— Senhor Bastos?
Minha voz não tremeu. Ela cortou o ruído ambiente.
Ele se virou. Os olhos dele, úmidos e pequenos, não encontraram meu rosto. Eles desceram, pesados e físicos, escorregando pelo meu pescoço, parando no decote do vestido, avaliando a mercadoria antes mesmo de ver a vendedora.
— Pois não, querida? — A palavra "querida" saiu da boca dele como um insulto oleoso.
Senti a minha pele pinicar, como se tivesse encostado em algo podre.
— Sou Alice Vitali. Artista plástica. — Fui direta. Sem rodeios. — Enviei meu portfólio digital semana passada. A série "Fúria Silenciosa". É sobre a beleza na destruição.
— Ah... Alice. — O sorriso dele se alargou, mas não chegou aos olhos. Ele deu um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal com a confiança de quem nunca ouviu um "não". O cheiro dele me atingiu: charuto velho e hortelã artificial. — Lembro vagamente. Mas vendo você pessoalmente... a arte no papel parece tão... sem vida.
Ele estendeu a mão.
O tempo desacelerou. Vi os dedos dele, grossos e com anéis de ouro, aproximarem-se do meu braço nu.
Ele tocou. Um roçar leve, "acidental", que desceu do meu ombro até o cotovelo.
Foi como se ele tivesse me queimado com um cigarro.
— Você tem uma... textura fascinante, Alice — ele murmurou, o olhar preso nos meus seios. — Diga-me... você já modelou? O corpo, às vezes, vale mais que a tela.
O mundo parou. O som da festa virou um zumbido distante.
A raiva não veio quente. Veio gelada. Cristalina.
Toda a minha luta, todas as minhas telas, minha mãe no hospital, minha alma... reduzidas a um pedaço de carne para um velho rico.
A Alice "passiva" teria recuado. A Alice "educada" teria rido.
Eu dei um tapa na mão dele.
Não foi forte, mas foi nítido. O som de pele contra pele estalou no ar entre nós.
Ele recuou, piscando, chocado.
— Não me toque — minha voz saiu baixa, vibrando com uma violência contida. — Eu pinto. Eu crio. E se o senhor tivesse metade do olho clínico que diz ter, saberia que a única coisa à venda aqui é o meu talento. Não eu.
O sorriso oleoso dele morreu. O rosto ficou vermelho, manchado de ofensa e arrogância.
— Uma pena — ele sibilou, o tom mudando de sedutor para cruel em um segundo. — Mulheres com temperamento são um investimento ruim. Elas quebram fácil. Se mudar de ideia sobre... usar seus atributos... ligue para minha secretária.
Ele me deu as costas. Descartada. Lixo.
Fiquei ali, parada, o coração batendo tão forte que doía nas costelas. A adrenalina era um veneno correndo nas minhas veias. Eu queria gritar. Queria derrubar aquela escultura ridícula. Queria incendiar aquele salão inteiro com a minha raiva.
Foda-se ele. Foda-se o dinheiro. Foda-se tudo.
Eu precisava sair. Agora. Antes que eu fizesse algo que me levasse para a cadeia.
Girei nos calcanhares, cega. O mundo era um borrão de luzes e cores distorcidas. Eu não via as pessoas; via obstáculos.
Eu marchava em direção à saída, uma tempestade em um vestido azul.
Eu não vi o homem.
Eu só senti o impacto.
BAM.
Não foi como bater em uma pessoa. Foi como colidir com uma parede de granito revestida de cashmere.
O choque foi brutal. Meu corpo ricocheteou. A taça de champanhe que eu tinha pegado de uma bandeja — e que estava cheia até a borda — voou da minha mão como um projétil.
O tempo congelou.
Eu vi, com uma clareza alucinante, o líquido dourado desenhar um arco perfeito no ar. Brilhante. Cintilante.
E aterrissar.
Não no chão.
Mas no peito largo, sólido e impecavelmente vestido de escuro do homem à minha frente.
O som do cristal se estilhaçando no chão foi o ponto final da minha vida.
O silêncio se abriu ao nosso redor como uma cratera.
Levantei os olhos, o pânico finalmente perfurando a bolha da minha raiva, pronta para brigar, pronta para fugir, pronta para qualquer coisa.
E então... eu olhei nos olhos dele.
O tempo no hospital passou rápido demais, como areia escorrendo entre os dedos. Peter, surpreendentemente, nos deu espaço. Ele ficou no corredor, atendendo ligações do império, deixando-me sozinha com Lúcia por quase uma hora. Eu me sentei na beirada da cama enquanto minha mãe comia uma gelatina vermelha com a voracidade de quem estava redescobrindo o paladar. Conversamos sobre coisas banais — a novela que ela perdeu, a vizinha fofoqueira do Bixiga, o clima. Mas, nas entrelinhas, falávamos sobre sobrevivência. — Ele é um homem difícil, Alice — disse ela, raspando o pote. — Mas ele te olha como se você fosse a única cor no mundo dele. — Ele me olha como se eu fosse um investimento, mãe. — Investimentos a gente protege. Paixões a gente consome. — Ela me olhou séria. — Só certifique-se de que você é quem segura o fósforo no final. A frase dela ficou girando na minha cabeça quando me despedi. Beijei a testa dela, prometendo voltar em breve, e saí para o corredor. Peter estava lá, en
O elevador desceu em silêncio, mas o ar entre nós crepitava. Eu ainda sentia a marca da boca dele no meu seio, escondida agora sob uma blusa de seda nova que ele me obrigou a vestir em três minutos. Entramos no Maybach. O motorista, treinado para ser invisível, fechou a divisória de vidro imediatamente. Estávamos no nosso aquário blindado. Peter se acomodou no banco de couro, exalando aquela calma irritante de quem acabou de reafirmar sua divindade. Ele pegou o tablet, pronto para voltar aos seus impérios e números, como se não tivesse acabado de me devorar contra uma parede. Eu olhei para ele. Para a linha dura do maxilar. Para as mãos grandes que me seguraram com tanta força. A raiva e o desejo se misturaram no meu estômago, criando uma bomba relógio. Ele achava que eu estava domada? Ele achava que eu estava ali, encolhida de vergonha? Não. Sem pensar, movida puramente pelo instinto do caos que eu havia pintado, eu me joguei. Não esperei. Atravessei o espaço entre os bancos e
Acordei com a adrenalina ainda correndo nas minhas veias. A visão da tela, com suas linhas azuis frias escondendo a rede silenciosa de carmim, era o meu triunfo. Mas eu sabia: o triunfo era apenas a isca. A fúria de Peter seria o anzol. Eu me vesti com o linho neutro e desci. Peter estava me esperando no estúdio. Ele não estava em sua mesa. Estava parado, as mãos nos bolsos da calça preta, olhando para a tela. Ele não se virou quando entrei. A luz da manhã inundava a sala, revelando a complexidade da minha rebeldia. O silêncio era insuportável. — O Caos sob a Ordem — disse ele, a voz baixa, preenchendo o espaço. Ele não estava perguntando. Estava diagnosticando. — Você pegou a estrutura fria do meu império e a usou como máscara. Mas o que a sustenta... a rede de sangue, a fúria. É a sua assinatura. — É a verdade — respondi, parando a uma distância segura, mas sem desviar o olhar. Ele se virou. Não havia raiva nos olhos dele. Havia uma satisfação gelada. O Imperador não se zangava
As paredes do estúdio eram minhas. Mas a tela era dele. Fazia vinte e quatro horas que Peter havia me dado a ordem surreal: pintar a Ordem, a Geometria, o seu Poder. E me ameaçado com o cancelamento da visita à minha mãe caso eu falhasse. Eu estava parada diante da tela branca. Eu odiava o comando. Odiava a pressão do prazo. Mas acima de tudo, eu odiava o fato de que a ideia dele era irresistível. Pintar a estrutura fria de um império era um desafio que a artista em mim não podia ignorar. Comecei com a frieza que ele exigia. Tons de azul-cobalto e prata metálico. Linhas retas. Formas geométricas que imitavam a arquitetura dos prédios dele, do hall do seu banco. Eu estava pintando uma prisão de cristal. Eu não o via. Mas eu o sentia. Eu sentia os olhos dele. Sabia que as câmeras invisíveis da cobertura estavam direcionadas para o estúdio. O Peter não precisava estar aqui para exercer sua vigilância. O seu poder era onipresente. À meia-noite, exausta e suja de tinta fria, eu estav
O silêncio na cobertura era diferente do habitual. Não era o vazio da riqueza, era o silêncio que precede a execução. Peter estava sentado em sua mesa de escritório, o paletó pendurado no encosto da cadeira, a camisa branca imaculada, as mangas dobradas na altura do antebraço. Ele parecia ter passado as últimas horas limpando cada vestígio de vulnerabilidade. Eu entrei no escritório. Não bati. Ele não me convidou. O ar ali cheirava a café forte e a uma frieza calculada que vinha diretamente dele. — Sente-se — ordenou ele, sem levantar o olhar de um tablet de vidro onde gráficos coloridos se moviam. — Prefiro ficar de pé — retruquei, cruzando os braços, a postura desafiadora. O sorriso da minha mãe e o aperto de mão dela ainda eram minha armadura. Ele suspirou, o som de quem está lidando com uma criança irritante. — Você me desafiou no hospital, Alice. Usou a fraqueza da minha família para me forçar a uma negociação. Você conseguiu sua visita. Isso é bom. Isso mostra que você está
Peter estava à minha espera no hall de entrada da cobertura. Havia trocado o terno cinza-chumbo por um azul-marinho mais discreto, mas a armadura continuava impecável. Ele estava de volta ao Imperador, os olhos de tempestade vazios de qualquer emoção. Eu vestia uma calça de linho e uma blusa solta que ele tinha comprado—simples, mas caras. A rebeldia do vestido champanhe tinha ficado na lavanderia. Hoje, eu precisava de discrição para proteger minha mãe. — O carro está pronto — disse ele, a voz fria. — E os arranjos? — perguntei, cruzando os braços, exigindo o detalhe do contrato. — O andar inteiro está sob segurança privada. O Doutor Mendes estará nos esperando. Você terá sua hora. Sem fotos. Sem interrupções. — Peter não me olhava. Olhava para o celular, revendo algo sobre a logística. — Você não faz nada pela metade — constatei, sentindo um misto de gratidão e ressentimento. O dinheiro dele era um portal para a salvação, mas também para o inferno. O Maybach deslizou pelo asfa
Último capítulo