Comprada Pelo Bilionário
Comprada Pelo Bilionário
Por: Yas
Capitulo 01

O ar no Museu de Arte Moderna não cheirava a tinta, como deveria. Cheirava a ambição refrigerada e a notas de cem dólares recém-impressas.

A atmosfera era densa, quase sólida. Lustres de cristal choravam luz sobre uma multidão que se movia como um cardume de peixes tropicais venenosos — mulheres envoltas em sedas que custavam mais que a minha vida inteira, homens em ternos cortados com a precisão de um bisturi.

Eu não pertencia àquele lugar. Eu era uma mancha de tinta fresca em um tapete persa imaculado.

Meu nome é Alice Vitali. Minhas mãos estão sempre manchadas de grafite ou acrílico. Meu mundo é sujo, real e caótico. Mas esta noite... esta noite eu era uma fraude embrulhada em seda azul-marinho emprestada.

Passei a mão pelo tecido do vestido da Carol. Ele deslizava sobre a minha pele como água fria, um lembrete constante de que aquela não era a minha pele.

— Aproveita, Alice. É a sua chance de ouro. — A voz da Carol ecoava na minha cabeça. — Enfia o portfólio na cara dele.

O desespero tem um gosto amargo, como café queimado. A conta do hospital da minha mãe pulsava na minha mente, um metrônomo marcando o tempo que eu não tinha. Eu não estava ali para socializar. Eu estava ali para caçar.

Respirei fundo. O ar condicionado gelou meus pulmões. Ergui o queixo.

Vamos lá. Atuar.

Não caminhei como uma intrusa. Caminhei como se fosse a dona do museu prestes a despejar todos eles. Meus passos no mármore polido tinham ritmo. Click, clack, click, clack.

Meus olhos varreram o salão, ignorando as taças de cristal e os sorrisos de porcelana, até pousarem no meu alvo.

Antônio Bastos.

Ele estava parado perto de uma escultura abstrata, parecendo um sapo em um terno brilhante. O olhar dele varria o salão, não buscando arte, mas carne.

Engoli o nojo. Aproximei-me.

Esperei o momento exato em que ele ficou sozinho, girando sua taça de champanhe com tédio.

— Senhor Bastos?

Minha voz não tremeu. Ela cortou o ruído ambiente.

Ele se virou. Os olhos dele, úmidos e pequenos, não encontraram meu rosto. Eles desceram, pesados e físicos, escorregando pelo meu pescoço, parando no decote do vestido, avaliando a mercadoria antes mesmo de ver a vendedora.

— Pois não, querida? — A palavra "querida" saiu da boca dele como um insulto oleoso.

Senti a minha pele pinicar, como se tivesse encostado em algo podre.

— Sou Alice Vitali. Artista plástica. — Fui direta. Sem rodeios. — Enviei meu portfólio digital semana passada. A série "Fúria Silenciosa". É sobre a beleza na destruição.

— Ah... Alice. — O sorriso dele se alargou, mas não chegou aos olhos. Ele deu um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal com a confiança de quem nunca ouviu um "não". O cheiro dele me atingiu: charuto velho e hortelã artificial. — Lembro vagamente. Mas vendo você pessoalmente... a arte no papel parece tão... sem vida.

Ele estendeu a mão.

O tempo desacelerou. Vi os dedos dele, grossos e com anéis de ouro, aproximarem-se do meu braço nu.

Ele tocou. Um roçar leve, "acidental", que desceu do meu ombro até o cotovelo.

Foi como se ele tivesse me queimado com um cigarro.

— Você tem uma... textura fascinante, Alice — ele murmurou, o olhar preso nos meus seios. — Diga-me... você já modelou? O corpo, às vezes, vale mais que a tela.

O mundo parou. O som da festa virou um zumbido distante.

A raiva não veio quente. Veio gelada. Cristalina.

Toda a minha luta, todas as minhas telas, minha mãe no hospital, minha alma... reduzidas a um pedaço de carne para um velho rico.

A Alice "passiva" teria recuado. A Alice "educada" teria rido.

Eu dei um tapa na mão dele.

Não foi forte, mas foi nítido. O som de pele contra pele estalou no ar entre nós.

Ele recuou, piscando, chocado.

— Não me toque — minha voz saiu baixa, vibrando com uma violência contida. — Eu pinto. Eu crio. E se o senhor tivesse metade do olho clínico que diz ter, saberia que a única coisa à venda aqui é o meu talento. Não eu.

O sorriso oleoso dele morreu. O rosto ficou vermelho, manchado de ofensa e arrogância.

— Uma pena — ele sibilou, o tom mudando de sedutor para cruel em um segundo. — Mulheres com temperamento são um investimento ruim. Elas quebram fácil. Se mudar de ideia sobre... usar seus atributos... ligue para minha secretária.

Ele me deu as costas. Descartada. Lixo.

Fiquei ali, parada, o coração batendo tão forte que doía nas costelas. A adrenalina era um veneno correndo nas minhas veias. Eu queria gritar. Queria derrubar aquela escultura ridícula. Queria incendiar aquele salão inteiro com a minha raiva.

Foda-se ele. Foda-se o dinheiro. Foda-se tudo.

Eu precisava sair. Agora. Antes que eu fizesse algo que me levasse para a cadeia.

Girei nos calcanhares, cega. O mundo era um borrão de luzes e cores distorcidas. Eu não via as pessoas; via obstáculos.

Eu marchava em direção à saída, uma tempestade em um vestido azul.

Eu não vi o homem.

Eu só senti o impacto.

BAM.

Não foi como bater em uma pessoa. Foi como colidir com uma parede de granito revestida de cashmere.

O choque foi brutal. Meu corpo ricocheteou. A taça de champanhe que eu tinha pegado de uma bandeja — e que estava cheia até a borda — voou da minha mão como um projétil.

O tempo congelou.

Eu vi, com uma clareza alucinante, o líquido dourado desenhar um arco perfeito no ar. Brilhante. Cintilante.

E aterrissar.

Não no chão.

Mas no peito largo, sólido e impecavelmente vestido de escuro do homem à minha frente.

O som do cristal se estilhaçando no chão foi o ponto final da minha vida.

O silêncio se abriu ao nosso redor como uma cratera.

Levantei os olhos, o pânico finalmente perfurando a bolha da minha raiva, pronta para brigar, pronta para fugir, pronta para qualquer coisa.

E então... eu olhei nos olhos dele.

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