O tempo no hospital passou rápido demais, como areia escorrendo entre os dedos.
Peter, surpreendentemente, nos deu espaço. Ele ficou no corredor, atendendo ligações do império, deixando-me sozinha com Lúcia por quase uma hora.
Eu me sentei na beirada da cama enquanto minha mãe comia uma gelatina vermelha com a voracidade de quem estava redescobrindo o paladar. Conversamos sobre coisas banais — a novela que ela perdeu, a vizinha fofoqueira do Bixiga, o clima. Mas, nas entrelinhas, falávamos sobre sobrevivência.
— Ele é um homem difícil, Alice — disse ela, raspando o pote. — Mas ele te olha como se você fosse a única cor no mundo dele.
— Ele me olha como se eu fosse um investimento, mãe.
— Investimentos a gente protege. Paixões a gente consome. — Ela me olhou séria. — Só certifique-se de que você é quem segura o fósforo no final.
A frase dela ficou girando na minha cabeça quando me despedi. Beijei a testa dela, prometendo voltar em breve, e saí para o corredor. Peter estava lá, en