Capitulo 06

Senti a mão dela na minha. Fria, trêmula, mas o aperto era forte.

Alice Vitali.

Ela não tinha ideia. Ela achava que isso era um encontro casual, um acidente de percurso. Ela não sabia que eu tinha decorado o nome dela antes mesmo de saber a cor dos olhos dela ao vivo.

Olhei para ela, envolta no meu paletó , o cabelo preto bagunçado pelo vento, os lábios vermelhos de quem tinha bebido o sangue dos inimigos. Ela era magnífica.

— Vamos — ela disse.

Eu queria levá-la ali mesmo. Pressioná-la contra o vidro frio da varanda e mostrar a ela exatamente o tipo de "negociação" que eu tinha em mente. Mas não.

Paciência.

Eu era um caçador paciente. Eu esperei meses pela oportunidade perfeita. Não ia estragar tudo agora com pressa.

Guiei-a de volta para o salão. O calor da festa nos atingiu, junto com o barulho.

Senti os olhares. As "cobras" . Bastos observando de longe, com a mão no rosto onde ela o tinha agredido. Ricardo Vargas, com seu sorriso de hiena, analisando minha nova companhia.

Eu apertei a mão de Alice um pouco mais forte. Um aviso para eles. Ela é minha.

— Não olhe para eles — murmurei perto do ouvido dela, sentindo o cheiro de jasmim e tinta que vinha da pele dela. — Eles não importam. Eles são cenário. Nós somos a peça principal.

— Eles estão olhando — ela sussurrou, tensa ao meu lado.

— Deixe que olhem. É a única coisa que eles vão conseguir de você a partir de agora.

Atravessamos o salão como se fôssemos a realeza em exílio. Eu não parei para cumprimentar ninguém. Não acenei. Meu foco estava inteiramente na mulher ao meu lado, na tensão que irradiava do corpo dela, na forma como ela tentava manter a cabeça erguida mesmo estando apavorada.

Corajosa.

Chegamos à saída. O valet já tinha o meu carro pronto — eles sabiam que eu não gostava de esperar.

O Maybach preto reluzia sob as luzes da entrada. O santuário.

O segurança abriu a porta traseira.

Parei antes de entrar. Virei-me para Alice.

— Última chance de correr, piccola — eu disse, testando-a. — Uma vez que você entrar nesse carro, a porta do seu mundo antigo se fecha.

Ela olhou para o carro. Olhou para a rua. Olhou para mim.

Eu vi a dúvida nos olhos dela. O medo. Mas então, eu vi aquela chama. A "fúria" que tinha criado o quadro na minha parede.

— Eu não tenho mais mundo antigo, Peter — ela disse, a voz firme. — Ele está morrendo em uma cama de hospital. O único mundo que me interessa é aquele onde ela sobrevive.

Sorri. Xeque-mate.

— Então entre — eu disse, gesticulando para o interior escuro e luxuoso do carro. — Vamos discutir o preço da sua alma com o conforto que ela merece.

Ela entrou. A seda do vestido dela deslizou pelo couro.

Eu entrei logo atrás, fechando a porta. O silêncio nos engoliu.

— Para a cobertura, Angelo — ordenei ao motorista.

O carro deslizou pela noite. Eu me recostei no banco, observando-a. Ela estava no meu território agora. Sem plateia. Sem distrações.

Só eu, ela, e a "negociação" mais importante da minha vida.

— Então, Alice... — comecei, minha voz preenchendo o espaço pequeno entre nós, criando uma intimidade forçada e deliciosa. — Diga-me. O que mais você quer saber antes de vender sua liberdade?

Ela se virou para mim, os olhos brilhando na penumbra.

— Tudo — ela respondeu. — Eu quero saber tudo. Quem é você, por que eu, e o que, exatamente, você quer fazer comigo quando "fechar a porta do mundo lá fora".

Eu senti meu corpo reagir instantaneamente. O desafio. A inteligência.

— Tudo? — soltei uma risada baixa. — Cuidado com o que deseja, minha artista. A verdade pode ser muito mais... alucinógena... do que você imagina.

Eu me inclinei para frente.

— Mas já que estamos indo para a minha casa... eu vou te contar uma história.

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