Mundo de ficçãoIniciar sessãoSaí do carro cambaleando, sentindo como se tivesse acabado de cair de um penhasco. O prédio que se erguia à nossa frente era imponente, feito de vidro e aço escuro, com janelas que pareciam olhos vazios me observando. Uma fortaleza. A fortaleza de Peter Blackwood.
Ele estava parado ao lado do carro, o vento da noite bagunçando levemente seus cabelos, mas sem tirar a perfeição do seu terno. Seus olhos cinzentos estavam fixos em mim, uma expectativa silenciosa que me fazia sentir como se ele pudesse ver a batida frenética do meu coração sob a pele.
"Bem-vinda ao seu novo lar, Alice", ele disse, a voz sem emoção, mas com um toque de ironia que me arrepiou.
"Novo lar?", zombei, tentando esconder o pavor que me gelava por dentro. "Isso aqui parece mais uma prisão de luxo."
Ele riu, um som baixo e perigoso. "A diferença é mínima para quem não sabe apreciar a vista. Venha."
Ele não esperou por uma resposta. Simplesmente se virou e caminhou em direção à entrada, um portal giratório de vidro que se abria com um silvo eletrônico. O segurança, que parecia um gorila de terno, postou-se ao lado da porta, um lembrete físico de que a fuga não era uma opção.
O lobby era... inacreditável. Mármore polido que refletia minha imagem distorcida, obras de arte abstratas nas paredes (que eu reconheci como valendo uma fortuna), e uma iluminação discreta que criava um ambiente de luxo opressor. A recepcionista, impecável em seu uniforme, mal piscou para nós. Esse era o mundo dele. Eu era a intrusa.
Entramos em um elevador particular, todo espelhado. A porta de aço escuro se fechou, e o silêncio se tornou ainda mais pesado. As luzes fracas do teto criavam um jogo de reflexos que multiplicavam a imagem de Peter ao meu redor. Ele estava por toda parte. Uma legião de predadores me observando.
Meu reflexo, com o vestido emprestado e o cabelo levemente despenteado, parecia deslocado, frágil. E a cada segundo, a adrenalina se misturava com uma onda de desejo que me deixava tonta. O cheiro dele estava mais forte ali, me envolvendo, me asfixiando.
"Não parece confortável com espelhos", Peter observou, quebrando o silêncio. Seus olhos estavam fixos no meu reflexo, e então no meu rosto.
"Não gosto de ser observada", retruquei, sentindo meu corpo tenso.
"Mas você é uma artista, não é? Artistas buscam o olhar. Querem ser vistas. Admiradas."
"Minha arte busca o olhar. Eu não."
Ele sorriu, aquele sorriso que prometia mais perigo do que qualquer ameaça. "Uma contradição deliciosa. Mas, querida Alice, aqui você será observada. Por mim. Sempre."
Aquelas palavras. Um arrepio percorreu minha espinha, e não era de frio. Não era de medo puro. Era de uma excitação sombria que eu não queria admitir. Eu estava lutando contra a minha própria atração, contra a parte de mim que se sentia desafiada e secretamente... desejada.
O elevador subiu, subiu, subiu. Eu sentia a pressão nos ouvidos, como se estivéssemos ascendendo a outro plano de existência. Para o inferno particular dele.
A porta se abriu no último andar.
E ali estava. A cobertura.
Era um universo à parte. Janelas do chão ao teto revelavam um panorama de São Paulo que se estendia até o infinito. Mármore, vidro, aço. Móveis de design minimalista, mas com um conforto que gritava "milionário". E arte. Esculturas abstratas, pinturas que eu reconheci de revistas de luxo.
Ele me levou até a sala de estar, um espaço gigantesco com um sofá em formato de "L" que parecia uma nuvem de algodão. No centro, uma mesa de centro de vidro maciço. Peter parou, de frente para mim, e seus olhos cinzentos faiscaram com uma intenção que me fez prender a respiração.
"Tenho uma proposta para você, Alice", ele disse, a voz baixa, mas potente. "Uma proposta que vai resolver todos os seus problemas. Incluindo a saúde da sua mãe e sua dívida."
Meu coração martelou. Era isso. O momento da verdade. O preço.
"Qual é o preço?", perguntei, tentando manter a voz estável, mas o som saiu um pouco trêmulo.
Ele se aproximou. Cada passo dele era um ataque. Eu podia sentir o calor do seu corpo, o perfume dele me inebriando. Ele parou a poucos centímetros de mim, a intensidade do seu olhar me atravessando. Minhas mãos estavam suadas.
Ele estendeu a mão, mas não tocou meu rosto. Seus dedos roçaram a pele exposta do meu pescoço, descendo lentamente até a base do meu ombro, onde o tecido do vestido Carol havia escorregado um pouco. O toque era leve, mas a eletricidade que percorreu meu corpo foi avassaladora. Meu corpo reagiu antes que minha mente pudesse processar.
"O preço," ele sussurrou, a voz rouca, seus olhos fixos na minha boca, "é... você."
Ele se inclinou, e eu jurei que ele ia me beijar. Meu corpo se tencionou, minha boca se abriu em antecipação. O desejo era uma onda, um tsunami prestes a me engolir. Eu estava pronta para me afogar.
Mas ele não me beijou.
Em vez disso, ele inclinou a cabeça um pouco, seus lábios roçando o lóbulo da minha orelha. A proximidade era torturante.
"Por um ano", ele continuou, a voz um sussurro quente que fez meus pelos se arrepiarem, "você viverá aqui. Minha convidada. Minha assistente. Minha companhia exclusiva. Minha... propriedade."
Ele se afastou, o sorriso predador voltando aos seus lábios. Seus olhos desceram para o meu corpo, fixando-se no centro da minha virilha, em chamas.
"Eu te darei o mundo, Alice. E você... você me dará tudo de você."
A temperatura na sala pareceu subir dez graus. O desejo era uma força quase incontrolável, me puxando para ele. Meu corpo ansiava por mais daquele toque, daquela proximidade, mesmo que minha mente gritasse "perigo".
"E se eu disser não?", provoquei, minha voz mal mais que um sussurro.
"Você não vai", ele respondeu, a certeza em sua voz era inabalável. "Porque eu já sei o que você quer. E você já sabe que, no fundo, você me quer também. Essa é a nossa moeda de troca, Alice. O fogo que queima entre nós. Você só precisa ter a coragem de aceitá-lo."
Ele se virou e foi até uma mesa de centro, onde um contrato de couro preto já o esperava. Ele o abriu com um gesto firme. A caneta de ouro maciço estava lá, brilhando sob a luz.
Meus olhos se fixaram no contrato. Minha liberdade contra a vida da minha mãe. E contra o desejo que ele acabara de acender em mim. O jogo tinha acabado de começar.







