Mundo ficciónIniciar sesiónA pergunta dele, "Correndo de alguém, senhorita?", não era uma pergunta de verdade. Era uma armadilha. E eu, com a boca seca e o coração batendo um samba na minha caixa torácica, me vi presa no brilho gélido dos olhos dele.
Ele não esperou uma resposta. Aquele sorriso predador se aprofundou, um convite silencioso para um jogo que eu nem sabia que tinha começado. O cheiro dele me atingiu de novo – algo caro, amadeirado, com um toque cítrico que gritava "eu sou o dono do mundo". Era sufocante, excitante.
"Não", consegui gaguejar, a voz saindo mais fraca do que eu queria. "Só... procurando um pouco de ar."
"O ar aqui é pesado," ele disse, os olhos percorrendo meu rosto, demorando-se nos meus lábios. Eu juro que senti um calor me subir pela espinha. "Mas talvez você goste de pesos, senhorita...?"
"Vitali", completei, quase sem querer. "Alice Vitali."
"Alice." O nome rolou na língua dele como um vinho fino. Cada sílaba, uma carícia e uma promessa. Ele não precisou perguntar meu sobrenome. Ele já sabia. Essa certeza dele me gelou. "Peter Blackwood."
Ele não estendeu a mão. Não fez nenhum gesto de cumprimento. Apenas me observou. A cada segundo sob o olhar dele, eu sentia minhas defesas ruindo. Era como se ele estivesse lendo cada pensamento na minha cabeça, cada mentira que eu contava, cada desespero que me trouxe ali. Ele via através da minha roupa emprestada, do meu sorriso forçado. Ele via a Alice que pintava em becos, a Alice que chorava pela mãe, a Alice que estava pronta pra vender a alma.
Meus olhos voaram para a tatuagem de anime na minha nuca, estrategicamente escondida pelo cabelo ondulado. Aquela tatuagem era um pedaço de mim, uma parte da minha história. Mas a forma como o olhar dele pousou ali, mesmo que por um segundo, me fez sentir... nua. Exposta.
"Sua arte é... interessante, Alice."
Minha boca se abriu em choque. "Minha... minha arte? Como você..."
"Eu coleciono arte", ele cortou, como se minha pergunta fosse irrelevante. "E você, Alice, parece-me uma peça bastante... única."
Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. Eu poderia sentir o calor do corpo dele irradiando através do tecido caro do seu terno. O ar ficou eletrizante, denso, pesado. Eu deveria recuar, fugir. Mas meus pés estavam plantados no chão, presos no lugar por uma força invisível que vinha dele.
"Acha que eu sou uma obra de arte?", provoquei, tentando recuperar um pouco do meu sarcasmo habitual. Era uma tentativa patética de me defender.
Os olhos cinzentos dele brilhavam com um divertimento perigoso. "Uma obra-prima. Selvagem. Indomável." Ele estendeu a mão, mas não para me tocar. Ele pegou uma mecha do meu cabelo preto que havia caído sobre meu ombro, enrolando-a entre os dedos com uma delicadeza assustadora. Eu estremeci com o contato, com a intimidade inesperada. "E as obras-primas, Alice... valem qualquer preço para serem adquiridas."
O toque dele em meu cabelo era um fio de seda que se transformou numa corrente. Eu olhei para ele, para o rosto esculpido, para a boca que prometia coisas proibidas. Meus olhos caíram para a tatuagem de garras de dragão no dorso da mão dele. Uma pequena marca, quase imperceptível, mas que gritava poder. Ele era um dragão, e eu estava presa em sua toca.
"Eu não estou à venda", sussurrei, tentando soar firme, mas minha voz falhou.
Ele soltou meu cabelo. O sorriso dele, agora, era quase gentil, mas com uma malícia que me fez querer correr e ao mesmo tempo implorar por mais.
"Tudo está à venda, Alice. É só encontrar o preço certo."
Ele se virou, deixando-me ali, parada no meio do salão, com o coração batendo feito louco. Meu corpo ainda formigava onde ele esteve perto. Eu não sabia quem era aquele homem, mas a forma como ele me olhava... me fazia sentir como uma caça. E a sensação, por mais assustadora que fosse, era terrivelmente excitante.
Ele desapareceu na multidão de ricos, mas o cheiro dele, a sensação de seu olhar, ficou gravado na minha pele. Eu sabia que Peter Blackwood não era alguém que cruzava seu caminho por acidente. Ele cruzava seu caminho para te possuir.
E eu, de repente, tive um pressentimento. Um pressentimento gelado de que o meu mundo, o meu desespero, havia acabado de chamar a atenção de algo muito, muito mais perigoso do que qualquer dívida.







