Mundo de ficçãoIniciar sessãoElara Montrose Valmonte Vasquez acreditava que o amor era o alicerce de tudo — até descobrir que um coração puro também pode ser usado como moeda. Casada com um homem que parecia o ideal, ela viu o sonho desmoronar em silêncio. Entre aparências e segredos, Elara aprendeu que nem todo “sim” no altar vem acompanhado de amor — alguns vêm de contratos, interesses e promessas que nunca deveriam ter sido feitas. Dois anos de casamento bastaram para transformar a esperança em ferida. Quando a verdade veio à tona, ela não gritou, não implorou, não se vingou. Ela apenas foi embora. Mas o destino, generoso com quem escolhe recomeçar, colocou em seu caminho um homem que não precisava do sobrenome dela para enxergar seu valor. Em uma viagem que começa como fuga e termina como renascimento, Elara descobre que o amor verdadeiro não humilha, não esconde, não negocia — ele liberta.
Ler maisUMA MULHER INVISÍVEL
O salão estava lotado. As luzes do auditório refletiam em centenas de rostos ansiosos, famílias sorrindo, flores nas mãos e câmeras piscando como se quisessem eternizar aquele instante. Mas o meu lugar, ao lado da fileira reservada para os convidados, estava vazio. Meu nome foi chamado. — Elara Montrose Valmonte Vasquez. O som ecoou pelo microfone com solenidade, mas, dentro de mim, soou como um lembrete cruel. Mais uma vez, eu estava sozinha. Aplausos preencheram o ambiente enquanto eu caminhava até o palco. O tecido claro do meu vestido de formatura balançava suavemente com cada passo, e o diploma reluzia nas mãos do reitor quando o recebi. Sorri — o tipo de sorriso que só existe para as câmeras, não para o coração. Meu marido não estava lá. Eu havia avisado, mandei mensagem pela manhã, outra à tarde, e até chequei o horário do voo dele. Nenhuma resposta. Nenhum sinal. O homem que, por dois anos, prometeu representar meu apoio, minha parceira, meu futuro... não teve tempo de presenciar o único sonho que me pertencia de verdade. Mais uma vez, Adric Morial Valeforte me lembrou que, na vida dele, eu não era esposa. Era apenas um investimento. Segurei o diploma com firmeza. “Ok, querido marido, agora eu cumpri a minha parte. Este era o último item do acordo, que meu pai exigiu. Você tem sua empresa salva, eu assumo a minha empresa , liberdade.” Desci do palco sob aplausos que pareciam vir de outro mundo. — Elara! — chamou minha colega, Vivienne, com aquele tom doce de quem tenta não demonstrar pena. — Onde está o seu marido, ele não veio? Pensei que ele viria hoje. Forcei um sorriso. — Ele precisou viajar a negócios. Vivienne arqueou as sobrancelhas, cruzando os braços. — Ele sempre “precisa viajar”, não é? Até parece que a sua vida não tem importância. Olhei para ela e respondi apenas: — Os negócios dele são mais importantes. Mas o que importa é que eu concluí o curso, e vou poder assumir a empresa, mas agora vou tirar férias de trinta dias. — Férias amiga? — ela riu, surpresa — e sozinha novamente? — Sim, o Adric vive viajando, nem vai notar minha ausência, estou precisando relaxar. — Quando voltar de viagem podemos marcar um almoço, que você acha Vivi? Você já está empregada? — Não amiga, ao contrário de você, vou ralar atrás de trabalho, — responde Vivienne rindo. — Espero conseguir algo nesses trinta dias, o aluguel não pode atrasar né? — Leva teu currículo na empresa, você vai ser minha assistente, quando eu retornar, você já vai estar ambientada Vivi — Sério amiga? — Não é brincadeira né?— pergunta Vivienne. — Amanhã mesmo leve ao RH, sua vaga já está garantida Vivi. —Agora deixa eu ir, pois preciso embarcar em um cruzeiro. Virei as costas antes que minhas lágrimas me denunciassem. Cheguei em casa com o vestido ainda no corpo, o diploma embaixo do braço e a sensação de que cada passo ecoava dentro de uma casa sem alma. O retrato de casamento na parede era a ironia perfeita — uma mentira emoldurada. Coloquei o diploma sobre a mesa e respirei fundo. No celular, as notificações piscavam. Fotos novas. Marla Lancaster, sempre elegante, sorrindo para a câmera. “As viagens de negócios com ele continuam rendendo memórias”, dizia a legenda. O rosto dele não aparecia — apenas o terno cinza que eu mesma havia escolhido meses atrás, a mão dele segurando a taça ao fundo, o reflexo do relógio que eu reconheceria em qualquer lugar. Ela não precisava mostrar mais nada. Eu entendi. “Aproveite a sua eterna lua de mel , querido Adric, porque, para mim, acabou.” Abri a gaveta da escrivaninha. Os papéis do divórcio estavam prontos. Eu já tinha ido ao advogado, lido cada cláusula e assinado onde era preciso. A última assinatura seria dele. Peguei o envelope, deslizei os documentos para dentro e acrescentei a aliança, o anel de noivado e uma carta curta: “Você está livre, Adric, para viver seu relacionamento. Agora você assina os papéis do divórcio, e será um homem sem amarras. Para mim, já deu, dois anos de humilhações, e desprezo, a mulher que salvou suas empresas. E para Marla, sempre as viagens e atenção. Eu nunca precisei de você — sempre foi você quem precisou de mim, meu dinheiro foi útil não foi? Ah, e parabéns pela gravidez de sua amante. Seja feliz.” Caminhei até o quarto dele, silenciosa. O cheiro do perfume dele ainda pairava no ar, misturado ao som constante do relógio. Deixei o envelope sobre a cama, fechei a porta e encarei o vazio por um instante. Minha mala já estava pronta. Não para uma fuga — para um renascimento. Antes mesmo de terminar o curso, eu havia me inscrito em um programa de trabalho temporário em um cruzeiro de luxo. Usei um nome diferente, troquei a cor do cabelo com uma peruca castanha, comprei óculos grandes, roupas simples. Não queria ser reconhecida como herdeira, nem como esposa de ninguém. Queria ser invisível. Durante um mês, eu seria apenas mais uma camareira, limpando cabines, arrumando camas e servindo pessoas que, como eu um dia fui, acreditavam que o amor e o status andavam de mãos dadas. Agora, eu sabia que não. Fechei a mala, olhei uma última vez para o retrato de casamento e murmurei, com serenidade: “Adeus, Elara Valeforte. Seja bem-vinda de volta, Elara Vasquez.” Saí sem olhar para trás. E, pela primeira vez em muito tempo, senti que o vento não estava me empurrando — estava me guiando.O OUTRO LADO DA SOMBRADo lado de fora do imponente edifício, que se erguia como um guardião sombrio contra o céu noturno, um homem permaneceu imóvel dentro de um carro escuro, estacionado a alguns metros de distância.— O motor estava desligado, e seus olhos, atentos como os de um falcão, rastrearam cada movimento, revelando uma vigilância que ia muito além de qualquer aparência casual. —A atmosfera ao redor estava impregnada de tensão, como se o ar estivesse carregado de segredos não revelados. O detetive, contratado por Isaac Norwood, não era inexperiente; ao longo dos anos, ele aprendera que a paciência é um dos pilares fundamentais de seu trabalho.— A experiência lhe ensinará que decisões apressadas não apenas comprometem uma investigação, mas muitas vezes resultam em conclusões equivocadas — armadilhas tendidas pelas sombras do desconhecido que poderiam ter sido evitadas com uma observação cuidadosa.Enquanto a noite se adentra, ele no
O QUE NÃO FOI DITO Nathaniel ficou ajoelhado diante dela por alguns instantes, com a mão delicadamente apoiada sobre sua barriga arredondada, como se temesse quebrar algo sagrado. —O suave movimento sob seus dedos o desarmou por completo.— Aqueles dois pequenos seres estavam ali, vivos, reagindo à sua presença de uma forma que ele ainda tentava compreender, não se tratava de ilusão ou sonho.— Elara observava em silêncio, imperturbável. Não havia espaço para rancor ou entrega naquele momento; apenas cautela, uma mulher que aprendera, à força, que amar sem limites tinha seu preço.— Eles se mexem muito — disse, em um tom sereno. — Principalmente quando alguém fala perto. —Parece que já se acostumaram com vozes.Nathaniel sorriu de forma contida, sentindo uma emoção que não conseguia descrever. — Eu… não sabia que isso existia — confessou, com um toque de timidez. — Essa sensação… Sempre estive cercado por coisas, pessoas e compromis
ONDE A VERDADE ENCONTRA O PERDÃO Nathaniel permaneceu ajoelhado por alguns momentos após tocar a barriga de Elara. — O suave movimento sob sua mão era real, não uma ilusão.— Sentiu dois pequenos sinais de vida respondendo ao seu toque, como se reconhecessem algo que ele próprio ainda tentava entender. Engoliu em seco e murmurou: — Eles... mexeram — sua voz soava rouca, carregada de emoções latentes. — Elara esboçou um leve sorriso, cansado, mas genuíno, um reflexo de suas lutas e esperanças. — Eles fazem isso quando alguém se aproxima demais. Acho que são curiosos, ou talvez apenas lembrando que estão aqui. A conexão entre eles, embora marcada por mal-entendidos e dor, parecia agora repleta de uma nova vida. — Nathaniel retirou a mão lentamente, como se temesse quebrar algo sagrado, um elo precioso não apenas de paternidade, mas de um futuro ainda incerto e cheio de promessas.— Você precisa de alguma coisa? Remédio, ág
Nathaniel permaneceu alguns segundos com o telefone ainda junto ao ouvido depois de desligar a ligação com Orhan. O silêncio do escritório parecia mais pesado do que antes. Elara estava grávida. De gêmeos. E, pela primeira vez desde que tudo ruíra, ele tinha um caminho — ainda que frágil — diante de si.Pegou o número que Orhan lhe enviara. Observou a sequência de dígitos como se aquilo fosse mais do que um contato telefônico. Era uma ponte. Ou um abismo.Ela não conhecia aquele número. Eles nunca haviam trocado telefones. No transatlântico, tudo acontecera dentro de uma bolha estranha, quase irreal, como se o mundo exterior não existisse. Agora, tudo existia. E cobrava.O telefone chamou uma vez.Duas.Na terceira, a ligação foi atendida.— Alô?A voz dela veio baixa, contida, diferente da lembrança leve que ele carregava. Mais madura. Mais cansada.Nathaniel respirou fundo antes de responder.— Elara… sou eu.
Nathaniel encontrou Orhan ao final da tarde, sentindo o peso de decisões que não podia mais reter. —A cada instante, ele sentia a urgência do tempo avançando, consumindo-o e tornando impossível corrigir os erros passados. Mesmo assim, não hesitou. — Orhan… eu preciso do número dela.— Do outro lado da linha, Orhan fez uma pausa, mostrando cautela, refletindo não apenas sobre o pedido, mas também sobre o fardo que Nathaniel carregava. — Do número da minha prima? questionou Orhan, num tom seco, mas sem faltar ao respeito. — Para quê?Nathaniel fechou os olhos, passando a mão na nuca, como se esse gesto pudesse clarear o tumulto em sua mente. — Ele se viu perdido em um mar de lembranças: os risos compartilhados com Elara, a intimidade de conversas que agora pareciam tão distantes. — Para falar com ela. Para esclarecer tudo o que aconteceu, para dizer… que estou livre. Não há mais noivado, nem casamento, nem contrato que valha mais do
O LIMITE DA IMPOSIÇÃO Isaac Norwood entrou no escritório de Nathaniel sem cerimônias, sem bater à porta ou dar qualquer aviso.— Sua presença era quase uma imposição, uma sombra que se estendia antes mesmo do pôr do sol. Acostumado a receber deferência, ele via portas se abrirem antes mesmo que seus dedos as tocassem, como se o respeito fosse um caminho já pavimentado para ele. — Nathaniel, lentamente, ergueu o olhar do tablet que segurava. —Seu rosto não demonstrava surpresa, mas sim um profundo cansaço, como se aquele confronto já estivesse antecipado desde que decidira romper o noivado.— Você não pode romper esse casamento — declarou Isaac, direto, sua voz ressoando com autoridade, como um trovão que precede uma tempestade.— Esse acordo foi firmado entre famílias. Você sabe muito bem o que está em jogo. —Nathaniel pousou o tablet sobre a mesa com uma calma quase irritante, levantando-se lentamente até ficar frente a fren










Último capítulo