Lucy sempre soube se virar sozinha. Entre saltos altos, sorrisos calculados e apresentações de tirar o fôlego na boate de luxo onde trabalha, ela construiu suas próprias armas para sobreviver num mundo que exige mais do que apenas beleza. Mas o que ela não esperava era ser desarmada por Leo Ávila — o enigmático e poderoso dono da boate, um homem que parece enxergar muito além da sua fachada impecável. Ele é tudo o que ela deveria evitar: mandão, sedutor e perigosamente irresistível. Ela é tudo o que ele não consegue controlar: indomável, sensual e cheia de segredos. Quando olhares intensos se tornam toques proibidos, e provocações se transformam em promessas não ditas, Lucy e Leo se veem presos em um jogo onde desejo e poder se confundem, ameaçando destruir as defesas que ambos construíram com tanto esforço. Mas quando sentimentos verdadeiros começam a emergir em meio às luzes da madrugada, eles precisarão enfrentar seus medos, suas cicatrizes e as consequências de se entregarem a uma paixão que pode ser tão destruidora quanto libertadora. Entre o palco e o perigo, entre o orgulho e o amor... Lucy e Leo descobrirão que algumas quedas são inevitáveis — e algumas rendições, simplesmente impossíveis de resistir.
Ler maisBoate, brilho e rotina
As luzes vibram em tons de azul e roxo enquanto caminho pelo corredor estreito da boate, o som grave da música eletrônica pulsando sob meus pés. O cheiro de perfume caro misturado ao álcool é intenso, quase embriagador. Meu nome é Lucy, tenho vinte e seis anos, e já trabalho aqui há três. Comecei servindo drinks, mas logo fui incentivada a aprender a dançar também. Hoje, misturo as duas funções com a mesma habilidade: atendo mesas durante a maior parte da noite e subo ao palco em horários marcados para apresentações que arrancam aplausos — e gorjetas generosas. O salão principal da boate se abre diante de mim em toda sua grandiosidade: uma explosão de luzes, espelhos, móveis de couro preto e mesas repletas de garrafas cintilantes. No centro, a pista de dança é uma massa viva de corpos se movendo em sintonia com a batida pesada que ecoa pelas paredes. Visto uma camisola curta de cetim branco transparente sobre uma lingerie de renda. Cada peça foi pensada para seduzir — mas também para proteger. Aqui, beleza é escudo. Aparência é tudo. Meus olhos percorrem rapidamente o ambiente até encontrarem, inevitavelmente, Leo Ávila. O dono da boate. O homem que comanda tudo ali com precisão cirúrgica. Alto, atlético, cabelos castanho-escuros alinhados com um leve desalinho proposital. Usa um terno impecável, a gravata afrouxada, revelando a força discreta da mandíbula marcada. Seu olhar é atento, frio e, ainda assim, estranhamente magnético. Leo está próximo ao bar, conversando com a gerência. Ele passa uma prancheta de mão em mão, revisando números, fazendo anotações. Sem jamais perder a consciência do que acontece à sua volta. Nossos olhos se cruzam brevemente. Nada além de uma troca educada de olhares. Inclinando levemente a cabeça, reconheço sua presença de forma respeitosa. Ele retribui com um aceno quase imperceptível. Sem parar, sigo para o bar. Foco, Lucy. Sempre profissional. — Lucy, mesa cinco e seis estão precisando de atenção — diz Clara, a supervisora da noite, entregando-me duas bandejas cheias de copos. — Entendido — respondo, pegando a bandeja com facilidade, como se fosse extensão do meu corpo. Atravesso o salão, desviando de braços levantados e gargalhadas estridentes. A música muda para uma batida mais lenta, quase sensual, e as luzes diminuem ainda mais, dando ao ambiente uma atmosfera íntima. Depois de atender as mesas, volto para buscar mais pedidos. Leo ainda está ali, observando o salão, conversando em voz baixa com um dos seguranças. Quando me aproximo para entregar a bandeja vazia no bar, ele se vira discretamente para mim. — Está tudo bem nas mesas cinco e seis? — pergunta, em um tom baixo, direto. — Sim, senhor Ávila. Clientes tranquilos até agora — respondo de maneira eficiente. — Bom. — Ele pausa por um instante, o olhar me analisando de um jeito que não sei se é avaliação ou simples atenção profissional. — Se precisar de reforço, chame um dos seguranças. Não hesite. — Pode deixar — confirmo, com um pequeno sorriso profissional. Ele ainda mantém os olhos em mim por um segundo a mais do que o necessário. Ou talvez seja só impressão minha. Então Leo volta a falar com o gerente, e eu sigo para outra área da boate. ** Mais tarde, quase no fim da noite, recolho copos vazios em uma área VIP quando sinto novamente a presença dele. — Lucy — sua voz me chama de forma calma. Viro-me imediatamente. — Senhor Ávila? Ele segura um tablet nas mãos, onde parece monitorar o movimento da casa. — Fiquei sabendo que cobriu três áreas hoje — comenta, com aquele jeito controlado que não deixa espaço para muita interpretação. — Não vi outra opção. Algumas garçonetes faltaram e a casa estava cheia. Ele faz um leve gesto de aprovação, o canto da boca quase ameaçando um sorriso que não chega a se formar. — Gosto de iniciativa. Continue assim. — Obrigada — digo, mantendo o tom neutro, mesmo sentindo um pequeno orgulho aquecendo meu peito. Ele parece querer dizer algo mais, mas desiste. Em vez disso, confere o tablet e faz uma última recomendação: — Lembre-se de descansar entre as apresentações. Não queremos ninguém exausto no meio do turno. Sei que é uma ordem mascarada de preocupação profissional. — Pode deixar, senhor. Cuidarei disso. Ele apenas inclina a cabeça e se afasta novamente, misturando-se aos corredores discretos que levam aos escritórios privados. ** Termino meu turno depois de mais algumas horas, exausta mas satisfeita. O salão, antes vibrante e lotado, agora está quase vazio. Os poucos clientes restantes murmuram conversas arrastadas enquanto a equipe começa a limpar. Quando chego à porta de saída dos funcionários, Leo está ali novamente, conversando com Clara. Ele me vê e acena levemente, chamando minha atenção. — Boa noite, Lucy — diz ele. — Boa noite, senhor Ávila — respondo com educação. — Fez um bom trabalho hoje. Você é confiável. Essas palavras me surpreendem. Leo não é de elogios fáceis. — Agradeço pela confiança — respondo, segurando o impulso de sorrir mais do que deveria. — Até amanhã. — Sua voz é grave, finalizando a conversa sem deixar espaço para mais. Assinto e sigo para fora da boate, puxando o capuz da jaqueta sobre a cabeça. A madrugada fria me envolve, cortando o calor abafado que ainda carrego da noite agitada. Enquanto caminho pela calçada deserta em direção ao ponto de ônibus, penso em como Leo Ávila, com poucas palavras, consegue deixar uma marca invisível. Respeito. Admirar de longe. Manter distância. Por enquanto, é só isso. E é melhor que continue assim.Lucy ainda segura a xícara com as duas mãos, mas o olhar agora está fixo no vazio — no passado. Na dor.— Quando eu conheci o Davi, era uma menina tentando entender o mundo. E ele parecia alguém que sabia exatamente como manipulá-lo… e a mim. Ele me cercou, me isolou, me prendeu em palavras doces que logo viraram gritos. Mas... eu nunca dormi com ele, Leo.Minha respiração prende por um segundo. Não porque não soubesse. Eu sabia. Ela já havia me contado antes, numa noite qualquer, entre um beijo e outro. Mas ouvir isso agora, nesse contexto, com essa ferida aberta, me toca de outra forma.— Nunca — ela repete, firme. — Ele tentou, muitas vezes. Usava o corpo dele como chantagem, dizia que se eu o amasse de verdade, teria que provar. Mas eu... não conseguia. Algo em mim travava. E hoje eu entendo: não era medo. Era o corpo gritando que aquilo não era amor. Que ele não era meu.Coloco a mão sobre a dela. Ela respira fundo e continua, os olhos marejados.— Você foi o primeiro. O único ho
O sábado amanhece com um céu tão azul que parece pintura. Leo já está de pé antes de mim, espalhando plásticos pelo chão do antigo quarto de hóspedes com um sorriso bobo no rosto. Ele parece uma criança ganhando o primeiro pincel.— Vai pintar isso aí com a boca de tanto sorrir? — pergunto da porta, ainda sonolenta, com a camiseta dele servindo como camisola.Ele se vira, sujo de tinta branca na bochecha, e sorri ainda mais.— Se você pedir, pinto com o corpo todo.Dou risada. Ele se aproxima e me dá um beijo melado de carinho.— Fiz café. Tem pão com requeijão, do jeitinho que você gosta.— Você acordou um outro homem?— Não. Só virei o pai mais feliz do mundo. E quero fazer tudo certo desde o primeiro prego no berço.Comemos na varanda e, depois, passo o resto da manhã ajudando a organizar as tintas, pincéis, as embalagens dos móveis novos que chegaram — e rindo com as tentativas frustradas de Leo montar a cômoda.— Isso aqui é castigo pra tudo que já fiz na vida — ele diz, sentado
Chegamos em casa com as sacolas nas mãos e o coração leve. Lucy está com o urso de pelúcia abraçado ao peito, rindo sozinha da minha empolgação na loja. Mas eu não me importo. Se pudesse, comprava o mundo inteiro pra ela. Pra eles.— A gente devia guardar tudo isso em uma caixinha especial — ela diz, entrando pela porta da frente.— Já pensei nisso. Uma caixa da gestação. Vamos guardar as primeiras roupinhas, o primeiro ultrassom, a pulseirinha do hospital… até o primeiro dente se você quiser.— Ok, já estamos entrando na fase “pai babão nível hard” — ela provoca, deixando as sacolas no sofá.Me aproximo por trás, passo os braços pela cintura dela e beijo seu ombro nu.— Você me transforma nisso. E nem precisa pedir.Ela vira o rosto para mim, e nossos lábios se tocam devagar. Um beijo calmo, íntimo, que carrega tudo o que ainda não dissemos.— Eu amo você, Leo.— E eu amo você. Com cada parte de mim.Minutos depois, estou guardando as roupinhas no armário improvisado de um quarto ain
Acordo com o sol entrando preguiçoso pelas frestas da cortina. O quarto está silencioso, mas a paz que paira no ar é tão densa que quase consigo tocá-la. Me mexo devagar, sentindo o corpo dolorido de prazer. As pernas pesadas, a pele sensível… e um sorriso idiota colado no rosto.Leo está deitado de lado, me olhando como se a noite não tivesse passado. Como se tivesse ficado ali, me vigiando, admirando, desejando.— Dormiu alguma coisa? — pergunto, com a voz ainda rouca.— Não consegui. Fiquei olhando pra você e tentando acreditar que isso aqui é real.— E conseguiu?— Ainda tô processando.Dou risada e me aproximo mais, colando meu corpo nu no dele. Ele me abraça com força, afundando o rosto no meu pescoço.— Você ronca um pouquinho — sussurra, com a voz carregada de deboche.— Mentira!— Ronca sim. Mas é fofo. Tipo um gatinho asmático.Dou um tapa leve nele, e rimos juntos. Esse tipo de bobagem entre nós é como remédio. Alívio depois do caos.— Tá com fome? — ele pergunta, deslizand
Ela me diz que me quer de novo.E eu nem hesito.Lucy está deitada ao meu lado, os olhos brilhando com aquele fogo que eu conheço tão bem. Mas agora tem algo diferente ali. Algo mais profundo. É como se ela estivesse me pedindo mais do que um corpo. Mais do que prazer.Ela quer a alma.E, por ela, eu dou.— Vem — ela sussurra, abrindo o roupão e revelando aquele corpo que me mata e me ressuscita ao mesmo tempo.O corpo da mulher que eu amo. O corpo da mãe do meu filho. O corpo que eu quase perdi e agora tenho de novo.Subo sobre ela devagar, deixando que nossos corpos se encaixem com calma. Passo os dedos pelo rosto dela, pelo pescoço, pelos seios, pela barriga ainda suave e redonda.— Você é perfeita — murmuro.— Para de falar e me ama.E eu obedeço.Beijo sua boca com doçura, depois desço pelo pescoço, pelos seios, chupando com vontade até ouvir seu gemido manhoso. Depois beijo sua barriga, sua cintura, suas coxas. A pele dela tem gosto de lar. Meus dedos se abrem entre suas pernas
A água quente escorre sobre minha pele, e os braços do Leo continuam firmes ao meu redor, mesmo debaixo do chuveiro. Ele me beija o ombro, depois encosta o rosto entre meu pescoço e a clavícula, respirando fundo. Como se quisesse gravar meu cheiro, minha pele, meu calor dentro dele.— Isso aqui… — ele sussurra. — É o que eu chamo de céu.Sorrio de olhos fechados, encostando minhas costas contra o peito dele. Seus dedos estão entrelaçados aos meus. Seus lábios, agora, beijam minha orelha, e tudo em mim se aquece ainda mais.— A água está quase morna — comento, e ele dá um risinho rouco.— E mesmo assim, você está fervendo.Viro o rosto para ele, e nossos lábios se encontram de novo. Um beijo calmo, apaixonado, cheio de promessas silenciosas. Ele desce as mãos pela minha barriga, acariciando com cuidado.— Já consigo imaginar um rostinho aqui dentro.— Já consegue até imaginar se vai ser sua cara?— Não importa o rosto… Se tiver metade do seu coração, já vai ser a melhor pessoa do mundo
Último capítulo