Lucy sempre soube se virar sozinha. Entre saltos altos, sorrisos calculados e apresentações de tirar o fôlego na boate de luxo onde trabalha, ela construiu suas próprias armas para sobreviver num mundo que exige mais do que apenas beleza. Mas o que ela não esperava era ser desarmada por Leo Ávila — o enigmático e poderoso dono da boate, um homem que parece enxergar muito além da sua fachada impecável. Ele é tudo o que ela deveria evitar: mandão, sedutor e perigosamente irresistível. Ela é tudo o que ele não consegue controlar: indomável, sensual e cheia de segredos. Quando olhares intensos se tornam toques proibidos, e provocações se transformam em promessas não ditas, Lucy e Leo se veem presos em um jogo onde desejo e poder se confundem, ameaçando destruir as defesas que ambos construíram com tanto esforço. Mas quando sentimentos verdadeiros começam a emergir em meio às luzes da madrugada, eles precisarão enfrentar seus medos, suas cicatrizes e as consequências de se entregarem a uma paixão que pode ser tão destruidora quanto libertadora. Entre o palco e o perigo, entre o orgulho e o amor... Lucy e Leo descobrirão que algumas quedas são inevitáveis — e algumas rendições, simplesmente impossíveis de resistir.
Leer másTrês dias.É esse o tempo que se passou desde que eu saí da casa da minha família com os punhos ensanguentados e o coração despedaçado.Três dias em que eu tentei dormir.Tentei me alimentar.Tentei fingir que conseguia respirar com normalidade.Não consigo.Toda hora vejo o rosto dela.Toda hora ouço o som da porta da minha casa se fechando.Toda hora me pergunto se ela chorou depois de sair.Ou se engoliu a dor em silêncio, como tantas vezes fez.Eu começo pelo mais óbvio: Felícia.Ela já me deu todas as negativas.Mas hoje, cedo, voltei até o prédio dela.Fiquei do outro lado da rua, observando.Às nove da manhã em ponto, ela sai.Caminha com passos apressados.Parece nervosa.Sigo. Não por desconfiança.Mas porque é o único fio que me resta.Ela vai até a farmácia. Compra algo.Depois para em frente a uma banca de jornais.E então, entra numa cafeteria.É ali que decido agir.---— Sei que você me viu — digo, puxando a cadeira na frente dela.Ela ergue os olhos. Não se assusta.—
Estaciono o carro em frente à mansão dos Ávila, com os olhos ardendo e os nós dos dedos ainda doloridos de tanto apertar o volante.A fachada continua imponente, fria.A mesma de sempre.Mas agora não me intimida.Me enoja.Respiro fundo, saio do carro e caminho pelo jardim perfeitamente podado.Cada passo é um lembrete: essa casa já foi meu lar.Agora é só cenário de guerra.O segurança da frente hesita quando me vê.Mas não tenta me impedir.Ele sabe que não é o momento de brincar com fogo.Abro a porta da frente com força.O som ecoa pelo hall como um trovão.Caminho com passos pesados pelo mármore brilhante, ignorando os olhares dos funcionários.Passo pelo corredor central, cruzo a sala principal e então empurro as portas duplas da sala de reuniões com violência.Meu pai está lá.Como sempre.Terno impecável, copo de uísque, papéis à mesa, expressão calma de quem acha que ainda está no controle.— Esperava que viesse mais cedo — diz ele, sem se abalar.— Você armou pra mim — falo
O mundo parece fora de foco quando abro os olhos.A luz atravessa as frestas da persiana e corta meu rosto como uma lâmina quente.A cabeça pesa.O estômago está enjoado.A garganta seca.Levo alguns segundos até perceber onde estou.Meu quarto.Mas algo está errado.Muito errado.O lençol está meio jogado no chão.Sinto um peso do meu lado esquerdo.Uma respiração leve.Um perfume que não reconheço.Viro o rosto devagar — e tudo congela.Uma mulher está deitada ao meu lado.Nua.Os cabelos escuros caídos sobre o ombro.A pele bronzeada.Um sorriso satisfeito se formando enquanto ela desperta.Minha alma quer sair correndo do meu corpo.— Que porra é essa? — sussurro, me afastando dela, o coração martelando como um tambor de guerra.Ela abre os olhos preguiçosamente e me encara com uma expressão serena.— Bom dia, Leo.A voz é familiar.Demais.Demora um segundo pra memória bater.Mas quando bate, a pancada me arranca o ar.Isadora.A filha dos Ferraz.A mulher que meu pai vinha tenta
Felícia não tenta me convencer a ficar.Ela me conhece demais.Sabe que, quando eu chego nesse ponto, não tem volta.Ela apenas senta ao meu lado, toca minha mão e diz:— Me diz o que você precisa.Suspiro fundo.— Só tempo… e um lugar onde ele não me encontre.---Passamos o dia todo juntas, em silêncio, separando roupas, documentos, dinheiro que eu havia guardado em segredo.Nada demais. Nada luxuoso. Só o suficiente pra recomeçar em outro lugar.— Eu tenho uma tia no interior — Felícia comenta. — Ela tem uma casa simples, mas confortável. Não faz perguntas.Se você quiser…— Eu quero.Ela me olha com os olhos marejados.— Não acredito que vou ficar sem você por perto.Sorrio fraco.— Não é pra sempre.Mas agora… eu preciso pensar em mim. Pensar no bebê.Pensar longe de tudo que me machucou.Ela me abraça com força.Eu aperto de volta.É estranho como, no meio do caos, algumas pessoas se tornam ainda mais sólidas.E Felícia é meu porto seguro.---Quando o dia escurece, já estou pro
Faz alguns dias que não vejo Leo.Desde aquela briga violenta com o pai dele — a segunda, a mais feia —, ele tem evitado a boate, os telefonemas, até mesmo a mim.Felícia disse que ele estava tentando resolver tudo sozinho, tentando proteger a gente, talvez… ou só se escondendo da realidade.Eu, por outro lado, não consegui esconder nada de mim mesma.Principalmente hoje.Minhas mãos tremem enquanto olho para o teste de farmácia em cima da pia.As duas linhas vermelhas brilham como faróis no meio de uma tempestade.Estou grávida.Por um momento, a única coisa que escuto é o som do meu coração, forte, martelando no peito.Não sinto medo. Não exatamente.Sinto um choque lento, profundo. Como se o mundo inteiro tivesse girado devagar demais e agora eu tivesse tropeçado na própria vida.Sento no chão frio do banheiro, encostada na parede, o teste ainda nas mãos.Penso em mil coisas ao mesmo tempo: na primeira vez que ele me tocou, nas noites em que dormi na casa dele, no jeito como ele me
Entro no gabinete do meu pai como quem entra num campo de batalha. Ele está sentado à frente da grande mesa de madeira maciça, cercado por papéis, pastas, jornais. A televisão ao fundo exibe uma coletiva política — mais uma, como se o mundo girasse em torno da imagem dele. Ele não levanta os olhos quando entro. Mas sei que me espera. Sempre espera, como um general que calcula até o último passo do inimigo. — Sentar ou vai ficar em pé mesmo? — ele pergunta, sem largar a caneta. — Prefiro manter distância — respondo. — É mais seguro assim. Ele ergue o olhar, frio como sempre. As sobrancelhas levemente erguidas. Finge surpresa, mas é só teatro. — Achei que já tivesse aceitado a realidade. — Qual realidade? A em que você decide com quem eu vou casar pra garantir uma aliança política? — Exatamente essa — ele confirma, com naturalidade repulsiva. — A aliança com os Ferraz é sólida. A filha deles é bonita, bem-educada, discreta. A esposa perfeita para um futuro deputado. Dou um
A porta da minha casa se fecha atrás de nós, abafando o mundo do lado de fora.O silêncio que se instala é denso, carregado.Não há mais vozes, discussões, olhares acusadores.Só nós dois.Lucy caminha devagar pela sala, os olhos percorrendo cada detalhe do ambiente como se buscasse alguma pista sobre mim.Ela não fala nada, mas o corpo dela fala.Está tenso, alerta, cheio de expectativa.— Você quer beber alguma coisa? — pergunto, mas minha voz sai mais baixa do que o normal.— Não. Quero só... ficar com você.Assinto e me aproximo.Paro à sua frente e toco seu rosto com a palma da mão, passando o polegar sobre sua bochecha. Ela fecha os olhos e se inclina no meu toque.— Você me salvou hoje — digo.Ela abre os olhos devagar, com um sorriso tímido.— Achei que era você quem salvava os outros.— Eu te vi defendendo sua história... defendendo a si mesma... e percebi que era isso que eu precisava ao meu lado. Alguém que não abaixa a cabeça pra ninguém.Ela segura minha mão que ainda rep
Fecho a boate com os pensamentos embaralhados. As luzes se apagam aos poucos, uma a uma, e o salão vai mergulhando em sombras, mas o calor da mão da Lucy ainda está em mim. A forma como ela me olhou, como me tocou… aquilo mexeu comigo mais do que qualquer coisa nos últimos anos. Sento na beirada do palco, os cotovelos apoiados nos joelhos, tentando organizar tudo dentro de mim. Mas aí escuto passos suaves. E antes que eu me vire, já sei que é ela. — Achei que já tivesse ido embora — digo, sem encará-la. — Não consegui. Fiquei preocupada. Ela se aproxima devagar, e meu corpo responde antes da razão. Ela senta ao meu lado, o perfume leve envolvendo o ar entre nós. — Você brigou feio com seu irmão, né? Assinto, encarando o chão. — Ele disse que eu tava destruindo a imagem da nossa família… por sua causa. — E você? Acredita nisso? — ela pergunta com a voz baixa, quase um sussurro. Olho para ela. E é como olhar para a resposta que eu nem sabia que procurava. — Não. Você não
A boate finalmente esvazia, as luzes vão se apagando uma a uma, deixando o ambiente mergulhado em uma penumbra suave. Felícia se despede com um abraço apertado, prometendo que amanhã será um novo dia.Fecho a porta atrás dela e me viro para encontrar Leo parado no meio do salão, as mãos enterradas nos bolsos da calça, o rosto mergulhado nas sombras.Ele parece exausto.Não apenas fisicamente. É uma exaustão que vem de dentro, que pesa nos ombros, que escurece o brilho nos olhos. A exaustão de quem lutou uma guerra invisível e perdeu muito pelo caminho.Me aproximo devagar, sentindo o coração apertar no peito.Ele ergue os olhos quando me vê e, por um instante, o homem forte, o dono de tudo, desaparece. No lugar dele vejo o menino que talvez nunca tenha tido permissão para ser vulnerável. O menino que precisou ser perfeito, imbatível, digno de um sobrenome que hoje ele escolheu abandonar.Toco seu rosto com as pontas dos dedos, acariciando a linha firme do seu maxilar tenso.Leo fecha