capítulo 3

Estou me arrumando para o show desta noite, passando um batom vermelho intenso enquanto encaro meu reflexo no espelho. A boate está lotada — uma sexta-feira de movimentação pesada — e sei que vou precisar estar impecável.

— Lucy! — ouço Felícia me chamar da porta do camarim. — O Leo pediu para você dar uma passada no escritório dele antes de entrar no palco.

Sinto um frio na barriga. Ele raramente me chama antes das apresentações. Normalmente, é tudo muito prático entre nós — orientações rápidas, olhares firmes, instruções diretas. Nada além disso.

— Agora? — pergunto, ajeitando o vestido curto que uso sobre a lingerie do show.

— Agora. — Ela confirma, arregalando os olhos como se dissesse "boa sorte".

Respiro fundo e caminho pelos corredores, sentindo os olhares curiosos de alguns colegas. Subo as escadas para o andar reservado e bato de leve na porta.

— Entra. — a voz grave de Leo me alcança.

Abro a porta devagar. Ele está sentado em sua mesa, a gravata afrouxada e a camisa social branca com as mangas dobradas até os cotovelos. Uma imagem tão poderosa que meu corpo reage sem permissão, um calor súbito subindo pela pele.

— Pedi para vir aqui porque quero ajustar o número de hoje — ele diz, sem rodeios, encarando-me com intensidade. — O cliente especial que está na casa hoje prefere números mais... provocativos.

Sinto meu estômago se revirar.

— Eu já preparei algo sensual, como sempre. — tento manter a voz firme.

— Quero mais do que sensualidade. Quero provocação. — Leo se levanta, dando a volta na mesa, parando perto demais de mim. — Você consegue fazer isso, Lucy?

Seus olhos prendem os meus, me desafiando. Sei que ele não está falando apenas do show. Ele está testando meus limites, minha coragem... e talvez algo mais.

— Consigo — respondo, sem desviar o olhar.

O canto da boca dele se curva em um sorriso quase imperceptível.

— Ótimo. Mostre a eles do que é feita.

Por um segundo, ficamos presos naquele espaço apertado, onde o ar parece mais pesado e denso. Meu coração b**e descompassado, e minha mente grita para eu sair dali antes que faça alguma besteira.

— Com licença, preciso ir me preparar. — digo rapidamente, virando para a porta.

— Lucy — ele chama antes que eu alcance a maçaneta. — Você está deslumbrante esta noite.

Congelo no lugar, sentindo um calor ruborizar minhas bochechas. Quando me viro para ele, seu olhar já mudou, frio e profissional novamente.

Saio do escritório com passos rápidos, tentando recompor a respiração.

---

A música pulsa alto quando entro no palco. As luzes me cegam parcialmente, mas consigo ver a silhueta de Leo em seu camarote reservado, com um copo de whisky na mão, observando cada movimento meu.

Lembro das suas palavras. Mais do que sensualidade. Provocação.

Deslizo pela barra de pole dance com movimentos lentos e calculados, deixando cada gesto ser mais ousado do que o habitual. Meus olhos procuram os dele, e quando nossos olhares se encontram, sinto algo se romper dentro de mim.

É como se estivéssemos sozinhos naquele lugar cheio de gente.

Eu danço para ele. Só para ele.

Quando termino o número, a boate explode em aplausos, mas minha atenção está toda voltada para o olhar escuro e indecifrável de Leo.

Desço do palco ainda tremendo, suando frio. Corro para o camarim, querendo me esconder da sensação avassaladora que tomou conta de mim.

Felícia aparece ao meu lado minutos depois.

— Você estava incrível! — ela exclama, os olhos brilhando de empolgação. — Sério, até eu fiquei arrepiada!

Forço um sorriso.

— Obrigada. — digo, tentando parecer natural.

Antes que possa relaxar, um segurança da casa aparece na porta do camarim.

— Lucy, o chefe quer falar com você. De novo.

Meu coração dispara.

De novo?

Respiro fundo e sigo pelo corredor, passando pelas luzes baixas e pela música que continua vibrando no ambiente.

Bato na porta do escritório e entro quando ouço o "entre".

Dessa vez, Leo está em pé, encostado na janela de vidro que dá vista para a pista de dança lá embaixo.

Ele se vira devagar.

— Fez exatamente o que pedi. — Sua voz é baixa, quase um ronronar. — E superou todas as expectativas.

Engulo em seco.

— Só fiz meu trabalho.

— Fez mais do que isso. — Ele caminha até mim. Cada passo é como um golpe nos meus nervos já sensíveis. — Você dominou aquele palco. Você dominou a atenção de todos... inclusive a minha.

Paro de respirar.

Leo para tão perto que posso sentir o calor do seu corpo, o cheiro do seu perfume — uma mistura de couro e especiarias que me deixa tonta.

— Preciso ser honesto com você, Lucy — sua voz baixa roça minha pele como uma carícia. — Está ficando difícil manter as coisas apenas profissionais entre nós.

Minha cabeça gira.

Isso não pode estar acontecendo.

Não deveria acontecer.

Mas a tensão entre nós é tão palpável que poderia ser cortada com uma faca.

— Leo... — começo, mas não sei o que dizer.

Ele estuda meu rosto por longos segundos, então, com um gesto lento e decidido, desliza os dedos pela lateral do meu rosto, como se estivesse memorizando cada linha, cada curva.

— Você deveria voltar para o salão — ele diz, a voz rouca. — Antes que eu me esqueça de todas as regras que estabeleci para mim mesmo.

Saio quase tropeçando, o coração martelando dentro do peito, a pele em chamas.

Se antes havia alguma linha entre nós, hoje ela foi definitivamente cruzada.

E eu não sei se quero voltar para o lado seguro outra vez.

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