Voltar à rotina da boate depois da viagem era como andar sobre cacos de vidro.
Cada passo, cada canto, cada pequeno gesto me lembrava dele.
De tudo o que não dissemos.
De tudo o que ficou preso entre nós.
Eu tentei ser forte.
Tentei me esconder atrás do trabalho.
Tentei agir como se nada tivesse acontecido.
Mas era impossível.
Não quando ele estava sempre ali.
Observando.
Tentando se aproximar.
Tentando... consertar o que quebrou.
Mas talvez fosse tarde demais.
Estou organizando papéis no pequeno escritório da boate quando sinto a presença dele.
Sei que é ele antes mesmo de levantar os olhos.
Sei pelo silêncio pesado que toma conta do ambiente.
Sei pelo jeito como minha pele arrepia.
Suspiro, tentando me concentrar no que estou fazendo.
Mas é inútil.
— Lucy. — a voz dele rasga o ar, baixa e tensa.
Fecho os olhos por um segundo, buscando forças.
Quando me viro, ele já atravessou a porta.
Está ali, de pé, parecendo tão perdido quanto eu me sinto.
Por um instante, ninguém diz nada.
O sil