Boate, brilho e rotina
As luzes vibram em tons de azul e roxo enquanto caminho pelo corredor estreito da boate, o som grave da música eletrônica pulsando sob meus pés. O cheiro de perfume caro misturado ao álcool é intenso, quase embriagador. Meu nome é Lucy, tenho vinte e seis anos, e já trabalho aqui há três. Comecei servindo drinks, mas logo fui incentivada a aprender a dançar também. Hoje, misturo as duas funções com a mesma habilidade: atendo mesas durante a maior parte da noite e subo ao palco em horários marcados para apresentações que arrancam aplausos — e gorjetas generosas. O salão principal da boate se abre diante de mim em toda sua grandiosidade: uma explosão de luzes, espelhos, móveis de couro preto e mesas repletas de garrafas cintilantes. No centro, a pista de dança é uma massa viva de corpos se movendo em sintonia com a batida pesada que ecoa pelas paredes. Visto uma camisola curta de cetim branco transparente sobre uma lingerie de renda. Cada peça foi pensada para seduzir — mas também para proteger. Aqui, beleza é escudo. Aparência é tudo. Meus olhos percorrem rapidamente o ambiente até encontrarem, inevitavelmente, Leo Ávila. O dono da boate. O homem que comanda tudo ali com precisão cirúrgica. Alto, atlético, cabelos castanho-escuros alinhados com um leve desalinho proposital. Usa um terno impecável, a gravata afrouxada, revelando a força discreta da mandíbula marcada. Seu olhar é atento, frio e, ainda assim, estranhamente magnético. Leo está próximo ao bar, conversando com a gerência. Ele passa uma prancheta de mão em mão, revisando números, fazendo anotações. Sem jamais perder a consciência do que acontece à sua volta. Nossos olhos se cruzam brevemente. Nada além de uma troca educada de olhares. Inclinando levemente a cabeça, reconheço sua presença de forma respeitosa. Ele retribui com um aceno quase imperceptível. Sem parar, sigo para o bar. Foco, Lucy. Sempre profissional. — Lucy, mesa cinco e seis estão precisando de atenção — diz Clara, a supervisora da noite, entregando-me duas bandejas cheias de copos. — Entendido — respondo, pegando a bandeja com facilidade, como se fosse extensão do meu corpo. Atravesso o salão, desviando de braços levantados e gargalhadas estridentes. A música muda para uma batida mais lenta, quase sensual, e as luzes diminuem ainda mais, dando ao ambiente uma atmosfera íntima. Depois de atender as mesas, volto para buscar mais pedidos. Leo ainda está ali, observando o salão, conversando em voz baixa com um dos seguranças. Quando me aproximo para entregar a bandeja vazia no bar, ele se vira discretamente para mim. — Está tudo bem nas mesas cinco e seis? — pergunta, em um tom baixo, direto. — Sim, senhor Ávila. Clientes tranquilos até agora — respondo de maneira eficiente. — Bom. — Ele pausa por um instante, o olhar me analisando de um jeito que não sei se é avaliação ou simples atenção profissional. — Se precisar de reforço, chame um dos seguranças. Não hesite. — Pode deixar — confirmo, com um pequeno sorriso profissional. Ele ainda mantém os olhos em mim por um segundo a mais do que o necessário. Ou talvez seja só impressão minha. Então Leo volta a falar com o gerente, e eu sigo para outra área da boate. ** Mais tarde, quase no fim da noite, recolho copos vazios em uma área VIP quando sinto novamente a presença dele. — Lucy — sua voz me chama de forma calma. Viro-me imediatamente. — Senhor Ávila? Ele segura um tablet nas mãos, onde parece monitorar o movimento da casa. — Fiquei sabendo que cobriu três áreas hoje — comenta, com aquele jeito controlado que não deixa espaço para muita interpretação. — Não vi outra opção. Algumas garçonetes faltaram e a casa estava cheia. Ele faz um leve gesto de aprovação, o canto da boca quase ameaçando um sorriso que não chega a se formar. — Gosto de iniciativa. Continue assim. — Obrigada — digo, mantendo o tom neutro, mesmo sentindo um pequeno orgulho aquecendo meu peito. Ele parece querer dizer algo mais, mas desiste. Em vez disso, confere o tablet e faz uma última recomendação: — Lembre-se de descansar entre as apresentações. Não queremos ninguém exausto no meio do turno. Sei que é uma ordem mascarada de preocupação profissional. — Pode deixar, senhor. Cuidarei disso. Ele apenas inclina a cabeça e se afasta novamente, misturando-se aos corredores discretos que levam aos escritórios privados. ** Termino meu turno depois de mais algumas horas, exausta mas satisfeita. O salão, antes vibrante e lotado, agora está quase vazio. Os poucos clientes restantes murmuram conversas arrastadas enquanto a equipe começa a limpar. Quando chego à porta de saída dos funcionários, Leo está ali novamente, conversando com Clara. Ele me vê e acena levemente, chamando minha atenção. — Boa noite, Lucy — diz ele. — Boa noite, senhor Ávila — respondo com educação. — Fez um bom trabalho hoje. Você é confiável. Essas palavras me surpreendem. Leo não é de elogios fáceis. — Agradeço pela confiança — respondo, segurando o impulso de sorrir mais do que deveria. — Até amanhã. — Sua voz é grave, finalizando a conversa sem deixar espaço para mais. Assinto e sigo para fora da boate, puxando o capuz da jaqueta sobre a cabeça. A madrugada fria me envolve, cortando o calor abafado que ainda carrego da noite agitada. Enquanto caminho pela calçada deserta em direção ao ponto de ônibus, penso em como Leo Ávila, com poucas palavras, consegue deixar uma marca invisível. Respeito. Admirar de longe. Manter distância. Por enquanto, é só isso. E é melhor que continue assim.