Mundo de ficçãoIniciar sessãoHelena Vasconcellos é uma advogada talentosa que vê sua vida desmoronar após uma traição pessoal e uma demissão injusta. Sem alternativas, ela aceita um cargo temporário na Imperium Capital, uma empresa dominada pelo enigmático e implacável CEO Arthur Delacroix — o mesmo homem que, anos atrás, esteve envolvido na ruína da empresa de seu pai. O reencontro entre os dois é explosivo. Helena entra em um mundo corporativo onde lealdade é moeda rara e decisões são tomadas com sangue frio. Mas o que começa como um embate entre orgulho e ressentimento logo se transforma em uma atração perigosa e irresistível. Arthur, acostumado a controlar tudo e todos, se vê desarmado pela coragem e inteligência de Helena. E ela, por sua vez, precisa decidir se pode confiar no homem que representa tudo o que ela jurou combater. Quando um escândalo ameaça destruir a reputação de Arthur e colocar Helena no centro de uma guerra jurídica, ambos terão que enfrentar seus fantasmas — e descobrir se o amor pode sobreviver ao peso do passado e ao jogo cruel do poder.
Ler maisHelena Vasconcellos encarava o espelho do elevador como quem se preparava para uma batalha. O blazer preto impecável escondia a insegurança que latejava em seu peito. Ela havia passado os últimos dois meses tentando se reerguer após o colapso de sua vida pessoal e profissional. Agora, ali estava ela: prestes a começar como assistente jurídica na Imperium Capital, uma das empresas mais temidas do país.
O elevador parou no 38º andar. As portas se abriram com um som metálico, revelando um ambiente de vidro, aço e silêncio. O escritório parecia uma galeria de arte corporativa — minimalista, elegante e absolutamente intimidador.
— Helena Vasconcellos? — chamou uma voz feminina, firme e educada.
Ela se virou e encontrou uma mulher loira, de coque apertado e olhar clínico.
— Sou Beatriz, diretora de RH. O senhor Delacroix está em reunião, mas pediu que você fosse apresentada à equipe jurídica imediatamente.
Helena assentiu, tentando manter a postura. O nome Delacroix ecoava em sua mente como um alerta. Arthur Delacroix, o CEO da Imperium, era conhecido por sua frieza, decisões impiedosas e uma ascensão meteórica que deixava rastros de empresas quebradas — inclusive a de seu pai.
Ela foi conduzida por corredores silenciosos até uma sala ampla, onde três advogados digitavam freneticamente em seus notebooks. Beatriz fez as apresentações rápidas e saiu, deixando Helena com um manual de procedimentos e uma pilha de contratos para revisar.
— Você vai se acostumar — disse um dos advogados, sem tirar os olhos da tela. — Só não tente impressionar o Arthur. Ele não se impressiona com ninguém.
Helena sorriu de canto. Veremos.
Duas horas depois, Beatriz voltou com um convite inesperado:
— O senhor Delacroix quer que você participe da reunião de diretoria. Ele disse que é “bom testar os novos em campo”.
Helena engoliu seco. Não esperava ser jogada aos leões tão cedo. Mas recusaria? Jamais.
A sala de reuniões era um aquário de vidro com vista para a cidade. Arthur Delacroix estava na cabeceira da mesa, impecável em um terno cinza, olhos fixos em um tablet. Ele não olhou para Helena quando ela entrou, mas sua presença dominava o ambiente.
— Vamos começar — disse ele, sem levantar a voz, mas com autoridade suficiente para silenciar todos.
A reunião girava em torno da aquisição de uma empresa de tecnologia. Um dos diretores, nervoso, tentava justificar os riscos da operação. Arthur o interrompeu com um gesto.
— Você teve três semanas para apresentar um plano viável. E me trouxe dúvidas. Está demitido.
Silêncio absoluto. O diretor empalideceu, tentou argumentar, mas Arthur já havia voltado ao tablet.
Helena observava tudo com o coração acelerado. A frieza dele era real. Mas havia algo mais — uma tristeza contida, uma raiva silenciosa. Ela reconhecia aquele tipo de dor. Era familiar.
Após a reunião, Helena foi chamada à sala do CEO. Arthur estava em pé, olhando pela janela.
— Você é filha de Álvaro Vasconcellos, não é? — disse ele, sem se virar.
Helena congelou. Não esperava que ele soubesse.
— Sou — respondeu, firme.
— Seu pai me processou há sete anos. Disse que eu destruí a empresa dele.
— E você destruiu.
Arthur se virou, finalmente encarando-a. Seus olhos eram de um azul cortante, mas havia surpresa em seu rosto.
— Você tem coragem. Gosto disso.
— Não estou aqui para agradar — disse Helena. — Estou aqui para trabalhar. Mas não esqueço o que aconteceu.
Arthur sorriu de canto, um sorriso sem alegria.
— Então estamos quites. Eu também não esqueço nada.
Ele se aproximou, parando a poucos passos dela.
— Veremos se sua memória atrapalha sua eficiência.
Helena manteve o olhar firme.
— Veremos se sua arrogância atrapalha sua liderança.
Por um segundo, o silêncio entre eles foi quase palpável. E então, Arthur voltou à sua mesa.
— Pode ir. Mas esteja pronta. Aqui, ninguém sobrevive sendo medíocre.
Helena saiu da sala com o coração disparado. Ela sabia que havia cruzado uma linha. Mas também sabia que, pela primeira vez em muito tempo, estava viva.
Clara acordou antes do sol. A mala já estava pronta, encostada na parede do quarto. Não era grande. Não precisava ser. Ela não levava tudo só o essencial: cadernos, uma blusa vermelha, um livro de Helena, um bilhete de Arthur, e a certeza de que partir não era abandono. Era escolha. A cidade ainda dormia. O Instituto seguia em silêncio, como se respeitasse sua decisão. As mulheres que ela escutou, acolheu e levantou agora caminhavam com as próprias pernas. E Clara… Clara queria descobrir até onde as suas podiam ir. --- Não havia dor. Havia desejo. Desejo de ver o mundo com outros olhos. De se apaixonar por outras causas. De se perder em outras ruas. De se encontrar em outros espelhos. Ela não partia por falta. Partia por excesso. Excesso de vontade. De vida. De amor por si mesma. --- Na mesa da cozinha, um bilhete de Helena: “Vai. Mas não esquece que você é raiz, mesmo quando vira vento.” E outro de Arthur: “O mundo precisa da sua escuta. Mas você também precisa se
A casa estava silenciosa naquela manhã de setembro. Clara preparava café com calma, enquanto Helena regava as plantas do quintal e Arthur lia um livro encostado na varanda. Não havia urgência. Não havia pressa. Só presença. Ali, entre os gestos cotidianos, morava o amor. --- Clara havia crescido. Não só em idade, mas em consciência. O Instituto florescia, as mulheres se reuniam, os projetos ganhavam força. Mas o que mais a sustentava era saber que, por trás de tudo, havia raízes firmes: seus pais. Helena, depois de anos sendo solo para os outros, havia finalmente se permitido florescer. Criou um grupo de mulheres maduras, escreveu textos que tocavam, dançou sem medo, vestiu vermelho. Descobriu que ainda havia tempo e que o tempo agora era dela. Arthur, sempre discreto, continuava sendo o silêncio que escuta, o gesto que sustenta, o olhar que acolhe. Nunca precisou de palco. Seu amor era feito de espera, de chá na porta, de mãos que seguram sem apertar. --- Naquela tarde,
ClaraHoje acordei com vontade de escrever sobre eles. Meus pais. Helena e Arthur. Não como mãe e pai. Mas como pessoas. Como história. Como amor que me formou.Porque às vezes, a gente cresce tanto tentando ser diferente que esquece de olhar pra quem nos ensinou a ser.---Minha mãe é força. Mas não aquela força dura, que empurra. É força que sustenta. Que levanta. Que cala quando precisa. Que fala quando ninguém mais tem coragem.Ela me ensinou a pensar. A questionar. A não aceitar o mínimo. E também me ensinou que ser mulher não é carregar tudo é escolher o que vale a pena carregar.---Meu pai é silêncio. Mas não ausência. É silêncio que escuta. Que observa. Que segura sem apertar. Que espera sem cobrar.Ele me ensinou a respirar. A confiar. A entender que presença não precisa de palavras. E que amar também é saber quando não dizer nada.---Eles são diferentes. E talvez por isso funcionem. Minha mãe é vento. Meu pai é terra. E eu? Eu sou mistura.---Hoje, no Instituto, uma mulh
ArthurHelena sempre foi movimento. Mesmo quando estava parada, ela vibrava. Tinha aquele jeito de pensar rápido, de falar com firmeza, de entrar num ambiente e mudar a temperatura sem levantar a voz.Eu me apaixonei por isso. Pela força. Pela clareza. Pela forma como ela parecia saber quem era mesmo quando duvidava.---Nos conhecemos num evento sobre educação. Ela falava sobre mulheres e política pública. Eu falava sobre juventude e território. Ela me interrompeu com uma pergunta que desmontou meu argumento. E eu soube: ali estava alguém que não aceitava menos do que verdade.Depois daquele dia, tudo foi rápido. Mas nunca raso.---Helena não era de gestos românticos. Era de presença. De cuidado. De olhar atento. E eu aprendi a amar assim sem espetáculo, mas com profundidade.Quando Clara nasceu, Helena virou outra. Mãe, sim. Mas também guerreira. Ela não dormia, não parava, não reclamava. Só fazia. E eu? Eu tentava acompanhar.---Teve um tempo em que a gente se desencontrou. Não
HelenaAcordei com o som da chuva fina batendo na janela. O céu estava cinza, mas não triste. Era um cinza que abraçava. Que pedia pausa. Que dizia: respira.E eu respirei.---Clara saiu cedo, como sempre. Deixou um bilhete com um desenho de um relógio e a frase: “O tempo é seu. Use como quiser.”Sorri. Porque ela tá aprendendo a me ver como mulher, não só como mãe. E eu... tô aprendendo a me ver como tempo. Não só como função.---Fiz café devagar. Sentei na varanda. Olhei o quintal molhado. E pensei: por tantos anos, vivi correndo. Correndo atrás de metas, de estabilidade, de segurança. Correndo atrás de Clara, de mim, de tudo.Mas agora... quero caminhar.---No Instituto, o grupo de mulheres mais velhas cresceu. A gente se reúne toda quarta. Sem pressa. Sem pauta. Só presença.Hoje, uma delas — Célia — disse:— Eu sempre achei que o tempo era inimigo. Agora vejo que ele só quer ser respeitado.E aquilo me tocou. Porque é isso. O tempo não quer ser vencido. Quer ser vivido.---
HelenaAcordei antes do sol. O silêncio da casa me envolvia como um cobertor antigo — familiar, mas áspero. Clara ainda dormia. Arthur já estava no quintal, como sempre, mexendo na terra com aquela paciência que só ele tem.Fiquei sentada na beira da cama, olhando minhas mãos. Elas já seguraram tanta coisa. Clara recém-nascida. Pratos de jantares que ninguém agradeceu. Documentos de reuniões que me deixaram exausta. Mas hoje... estavam vazias.E pela primeira vez, isso não me assustou.---Fui até o quintal. Arthur me olhou e sorriu.— Dormiu bem?— Dormi leve.Ele assentiu. E eu soube que ele entendeu.---Depois do café, Clara saiu correndo pro Instituto. Me deixou um beijo na testa e um “te amo” apressado. E eu fiquei ali, com a xícara na mão, pensando: e se agora for minha vez?Minha vez de começar algo. De plantar algo só meu. De ser semente.---Fui até o quarto de hóspedes, onde guardamos coisas antigas. Encontrei uma caixa com meus cadernos da juventude. Textos, poemas, ideias
Último capítulo