A coletiva havia terminado há horas, mas Helena ainda sentia o calor das luzes, o peso dos olhares, o impacto das palavras. A verdade estava exposta, e Elias Navarro, pela primeira vez, parecia acuado. Mas a vitória não trouxe alívio — trouxe inquietação.
Ela estava em sua sala, revisando os últimos relatórios, quando ouviu a batida na porta. Arthur entrou sem esperar resposta, como sempre. Mas havia algo diferente em sua postura. Ele não estava ali como CEO. Estava ali como homem.
— Precisamos conversar — disse ele, fechando a porta atrás de si.
Helena se levantou, cautelosa.
— Sobre o conselho?
— Não. Sobre nós.
A palavra pairou no ar como uma faísca. “Nós.” Um pronome perigoso, carregado de tudo que eles tentavam evitar.
— Arthur... — começou ela, mas ele se aproximou, devagar, como quem desafia uma fronteira invisível.
— Você me enfrentou. Me desafiou. Me salvou. E ainda assim, continua tentando manter distância. Por quê?
Helena recuou um passo, mas não por medo — por instinto. Ele estava perto demais. E ela sabia que, se não recuasse, não conseguiria manter o controle.
— Porque isso é complicado. Porque você é complicado.
Arthur sorriu, um sorriso lento, quase provocador.
— E você não é?
Ela sentiu o coração acelerar. Ele estava jogando com fogo. E ela... ela estava prestes a se queimar.
— Eu não vim aqui pra discutir sentimentos — disse ela, tentando manter a voz firme.
— Não. Você veio pra me enfrentar. E agora está fugindo.
Helena cerrou os punhos.
— Eu não fujo.
Arthur deu mais um passo. Agora, estavam a centímetros de distância. Ela podia sentir o calor do corpo dele, o perfume discreto, o olhar que parecia atravessá-la.
— Então por que está tremendo?
Ela não respondeu. Porque era verdade. Porque ele a desestabilizava de um jeito que ninguém jamais conseguiu. Porque, por mais que tentasse negar, havia algo entre eles — algo que crescia a cada confronto, a cada silêncio, a cada toque não dado.
Arthur levantou a mão, devagar, e tocou o rosto dela com a ponta dos dedos. Um gesto leve, quase reverente.
— Você é a única pessoa que me faz esquecer que estou no controle.
Helena fechou os olhos por um segundo. Só um segundo. Mas foi o suficiente para sentir o mundo girar.
— Isso não pode acontecer — sussurrou ela.
— Já está acontecendo.
Ele se aproximou mais, e ela não recuou. Os lábios estavam quase se tocando, e o ar entre eles parecia eletrificado. Mas antes que o momento se consumasse, Helena se afastou, abruptamente.
— Eu não sou uma distração, Arthur. E não vou ser mais uma peça no seu jogo.
Arthur a olhou, sério.
— Você nunca foi uma peça. Você é o tabuleiro inteiro.
Ela respirou fundo, tentando recuperar o controle.
— Se cruzarmos essa linha, não tem volta.
— Então me diga que não quer. Que não sente. Que não pensa nisso toda vez que estamos juntos.
Helena o encarou. E não disse nada. Porque não podia mentir.
Arthur se aproximou novamente, mas dessa vez, não tocou. Apenas olhou. E depois, virou-se para sair.
— Quando estiver pronta para parar de fugir... me avise.
A porta se fechou atrás dele, e Helena ficou ali, sozinha, com o coração em chamas e a mente em guerra.
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Naquela noite, ela não foi pra casa. Ficou no escritório, tentando se convencer de que tudo aquilo era um erro. Que o desejo não podia se misturar com o trabalho. Que Arthur era perigoso — não só para sua carreira, mas para seu coração.
Mas cada vez que fechava os olhos, via o olhar dele. Sentia o toque. O calor. A promessa não dita.
Ela se levantou, pegou a bolsa e saiu. Não sabia pra onde ia — só sabia que precisava respirar.
Mas ao entrar no elevador, ele estava lá.
Arthur.
Sozinho.
O silêncio entre eles era denso. Ela entrou, e ele não disse nada. Apenas olhou. E ela olhou de volta.
O elevador começou a descer. E com cada andar, a tensão aumentava.
No décimo andar, ele falou.
— Você deveria estar em casa.
— Você também.
No oitavo, ele se aproximou.
— Ainda está fugindo?
— Ainda estou tentando resistir.
No sexto, ele tocou sua mão.
— E está conseguindo?
Ela olhou para ele. E naquele momento, soube que não havia mais resistência. Só desejo. Só verdade.
No quarto andar, ele a puxou devagar, como quem pede permissão. E ela não recusou.
No segundo, os lábios se encontraram. Um beijo lento, intenso, carregado de tudo que havia sido contido por tempo demais.
Quando o elevador chegou ao térreo, eles se separaram. Mas não disseram nad
a. Porque palavras não eram suficientes.
Arthur saiu primeiro. Helena o seguiu. E naquele instante, soube que a linha havia sido cruzada.
E que não havia mais volta.