Helena
Acordei antes do sol. O silêncio da casa me envolvia como um cobertor antigo — familiar, mas áspero. Clara ainda dormia. Arthur já estava no quintal, como sempre, mexendo na terra com aquela paciência que só ele tem.
Fiquei sentada na beira da cama, olhando minhas mãos. Elas já seguraram tanta coisa. Clara recém-nascida. Pratos de jantares que ninguém agradeceu. Documentos de reuniões que me deixaram exausta. Mas hoje... estavam vazias.
E pela primeira vez, isso não me assustou.
---
Fui até o quintal. Arthur me olhou e sorriu.
— Dormiu bem?
— Dormi leve.
Ele assentiu. E eu soube que ele entendeu.
---
Depois do café, Clara saiu correndo pro Instituto. Me deixou um beijo na testa e um “te amo” apressado. E eu fiquei ali, com a xícara na mão, pensando: e se agora for minha vez?
Minha vez de começar algo. De plantar algo só meu. De ser semente.
---
Fui até o quarto de hóspedes, onde guardamos coisas antigas. Encontrei uma caixa com meus cadernos da juventude. Textos, poemas, ideias