A fenda

Helena caminhava pelo corredor da Imperium com passos calculados. O salto ecoava no piso de mármore como um metrônomo de tensão. Desde que as fotos dela com Arthur haviam sido entregues anonimamente, ela sabia que alguém estava jogando sujo. E não era Elias — pelo menos, não diretamente.

Ela havia passado os últimos dois dias revisando contratos, cruzando registros de acesso, rastreando e-mails internos. E agora, tinha algo. Um nome. Um padrão. Mas ainda não tinha certeza.

Arthur a esperava em sua sala, tenso. O rosto estava mais fechado do que o habitual, e os olhos, embora atentos, pareciam cansados.

— Descobriu alguma coisa? — ele perguntou, sem rodeios.

Helena jogou um envelope sobre a mesa.

— Alguém do setor de compliance está repassando informações para fora. Os acessos às câmeras de segurança foram feitos por um login que pertence a... Beatriz.

Arthur franziu o cenho.

— Sua amiga?

Helena assentiu, mas o gesto foi lento, doloroso.

— Ela tinha acesso. E estava próxima demais de tudo. Mas ainda não sei se foi ela ou se alguém usou o login dela.

Arthur se levantou, caminhando até a janela.

— Se for ela, estamos mais expostos do que imaginamos.

Helena sentiu o estômago revirar. Beatriz era sua confidente, sua âncora. A ideia de que ela pudesse estar envolvida era como uma rachadura em tudo que Helena acreditava.

— Preciso confrontá-la — disse Helena, decidida.

Arthur se virou.

— Não sozinha.

Ela negou com a cabeça.

— Isso é pessoal. E se eu não resolver, nunca mais vou confiar em ninguém.

---

Naquela noite, Helena foi até o apartamento de Beatriz. O prédio era antigo, mas acolhedor. Ela subiu os degraus com o coração acelerado, cada passo uma pergunta sem resposta.

Beatriz abriu a porta com um sorriso cansado.

— Você veio. Achei que ia me evitar.

Helena entrou sem responder. Sentou-se no sofá, encarando a amiga.

— Preciso saber a verdade. Alguém usou seu login para acessar as câmeras da Imperium. E as fotos que recebi... vieram de lá.

Beatriz empalideceu.

— Eu... eu não sabia. Juro. Mas agora que você falou... tem algo que preciso te contar.

Helena se inclinou, tensa.

— Diz.

Beatriz respirou fundo.

— Há semanas, um homem me procurou. Disse que queria informações sobre a Imperium. Me ofereceu dinheiro. Eu recusei. Mas dias depois, meu computador foi invadido. Achei que fosse só um vírus. Agora vejo que não era.

Helena sentiu um nó na garganta.

— Você contou isso pra alguém?

— Não. Tive medo. E vergonha.

Helena se levantou, caminhando até a janela.

— Esse homem... você lembra o nome?

Beatriz hesitou.

— Ele se apresentou como Victor. Disse que trabalhava para uma empresa de auditoria. Mas eu pesquisei e não encontrei nada.

Helena se virou lentamente.

— Victor...

O nome ecoou em sua mente. Ela já o tinha visto. Em um contrato antigo. Como consultor externo da Vanguardis — a empresa envolvida na fusão.

Ela pegou o celular e ligou para Arthur.

— Temos um novo nome. Victor. Ligado à Vanguardis. E provavelmente por trás da chantagem.

Arthur ficou em silêncio por um segundo.

— Então a fusão ainda está contaminada.

Helena olhou para Beatriz, que agora chorava em silêncio.

— E nós estamos no meio disso.

---

Na manhã seguinte, Helena chegou à Imperium antes do sol nascer. Precisava de acesso aos arquivos da fusão. Precisava entender quem era Victor — e o que ele queria.

No sistema, encontrou o contrato. Victor Andrade. Consultor externo. Mas havia algo estranho: o CPF dele estava vinculado a uma empresa que havia sido investigada por lavagem de dinheiro dois anos atrás.

Ela imprimiu tudo. E correu até a sala de Arthur.

— Ele não é só um consultor. É um infiltrado. E está ligado a uma rede de empresas fantasmas que Elias tentou usar na fusão.

Arthur leu os documentos com o cenho franzido.

— Isso muda tudo. Se expusermos isso, a fusão será cancelada. E Elias será investigado formalmente.

Helena assentiu.

— Mas antes, precisamos encontrar Victor. E provar que ele está por trás das ameaças.

Arthur olhou para ela com intensidade.

— Está pronta pra ir até o fim?

Helena respirou fundo.

— Já estou no meio. Não tem mais volta.

---

Naquela tarde, Helena recebeu uma ligação anônima.

— Você está cavando fundo demais, doutora. Cuidado pra não cair.

Ela congelou. A voz era masculina, calma, mas ameaçadora.

— Quem é você?

— Alguém que sabe onde você mora. E o que você fez ontem à noite.

A ligação caiu.

Helena olhou ao redor, como se esperasse ver alguém observando. Mas não havia ninguém. Só o silêncio. E o medo.

Ela correu até Arthur.

— Ele me ligou. Disse que sabe onde eu moro. E o que fiz ontem.

Arthur cerrou os punhos.

— Então ele está mais perto do que pensamos.

Helena olhou para ele, os olhos ardendo.

— E se ele estiver dentro da Imperium?

Arthur se aproximou, devagar.

— Então vamos arrancá-lo pela raiz.

---

Naquela noite, Helena recebeu um envelope em casa. Sem remetente. Dentro, havia uma única folha.

“Você acha que venceu. Mas ainda não viu nada.”

E junto, uma foto.

Ela e Arthur.

Dormindo.

No quarto dela.

A imagem era recente. Intensa. Invasiva.

Helena caiu sentada no sofá, o coração disparado.

Alguém esteve lá.

Alguém os observou.

E agora, tudo estava em risco.

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