Leon, CEO, tem 41 anos e um passado marcado por cicatrizes: visíveis e invisíveis. Preso a uma cadeira de rodas e aos próprios fantasmas, ele acreditava que nada mais poderia tocá-lo... até que Isis apareceu. Com apenas 21 anos, olhar inocente e um corpo que exala desejo, ela entra na vida dele como uma tempestade doce e perigosa. O que começa com uma simples proximidade vira tentação.
Ler maisCapítulo 1
O portão de ferro lentamente com um rangido abafado. Dois jardineiros conversavam baixo enquanto cuidavam dos arbustos na lateral do jardim. Um outro, mais velho, cuidava das flores que margeavam o caminho de pedras até a entrada principal. Era uma rotina silenciosa, como sempre, para os funcionários. A casa em si era imponente. Um lugar bonito, mas... sem vida. E no centro da fachada frontal, havia um enorme painel de vidro. Uma janela que ocupava quase toda a parede da sala de estar, como uma moldura para um quadro vivo. Atrás daquele vidro, havia um homem. Sentado em uma poltrona reclinável adaptada, ele parecia esculpido ali. Imóvel. Os braços repousando sobre o apoio, os olhos fixos no jardim que mudava a cada estação: mas ele, não. Leon. Seu corpo estava ali, mas sua alma... talvez ainda estivesse no asfalto daquela noite. *** Dentro da casa, o ar era fresco, silencioso, perfumado com flores, depositadas por vários ambientes, como a lavanda. Tapetes felpudos, estantes alinhadas, quadros emoldurados com sobriedade. Cada detalhe parecia ter sido escolhido para alguém que, agora, já não se importava com nada. - Quer um café? - perguntou Caio. Isis balançou a cabeça, nervosa. Seus olhos, inquietos, captavam cada canto do ambiente. - Você pode deixar a bolsa ali - disse ele, apontando para um banco perto da parede. Ela obedeceu. Tinha vinte e um anos, a expressão jovem e o olhar firme, mas havia algo nela que ia além da idade. Um cansaço antigo, escondido sob a maquiagem leve e o rabo de cavalo que havia sido amarrado às pressas. - Eu sei que isso não é um trabalho comum - disse Caio, apoiando-se no balcão da cozinha, de frente para ela. - Mas eu não quero alguém com jaleco branco. Já temos médicos, fisioterapeutas, psicólogos... e nenhum deles alcançou ele. - E você acha que eu vou alcançar? - ela perguntou, com curiosidade. Caio olhou em direção à sala, onde Leon ainda estava, imóvel, encarando o jardim através do vidro. - Eu acho que... você tem algo que ninguém aqui tem. Um jeito. Uma calma. Uma presença. Não sei explicar. - Ele suspirou. - E, sinceramente, estou ficando sem opções. Isis cruzou os braços, pensativa. - O que exatamente espera que eu faça? - Converse com ele. Assista televisão. Leia em voz alta. Coloque música. Leve ele pro jardim. Fale sobre o seu dia, conte histórias... qualquer coisa. Mesmo que ele pareça uma estátua, acredite: ele escuta. Ela o olhou nos olhos. - E por que eu? - Porque quando você entrou naquela porta, ele piscou. Foi a primeira coisa que ele fez em dois anos. Isis se calou. O som de um relógio badalando preencheu o silêncio entre os dois. Caio apontou para a sala, onde Leon estava. - Ele está ali. E ele precisa de alguém que não tenha medo do silêncio. Ela respirou fundo, pegou sua bolsa e caminhou em direção à sala. Quando se aproximou da grande janela de vidro, sentiu um arrepio. Ela parou diante dele. - Oi, Leon. Sou a Ísis. Fui contratada pra ficar aqui com você. E... bom, parece que temos um longo caminho pela frente. Espero que você não se incomode com gente que fala demais. Ele não respondeu. Claro que não. Mas, por um instante, o sol refletiu nos olhos dele... e Ísis jurou ter visto um leve brilho. Caio virou-se para Ísis, mantendo o tom baixo. - Lembre-se, Ísis... ele pode não responder, mas isso não significa que não escute. Às vezes acreditamos que ele se mexe, mas ninguém conseguiu ter certeza. A jovem assentiu, o rosto demonstrando mais do que simples curiosidade. Havia um traço de compaixão que Caio reconheceu de imediato e por isso a havia escolhido. - Eu entendo. - ela respondeu com a voz doce. - Mesmo que ele não reaja, eu vou tratá-lo como se pudesse. Vou ler pra ele, contar histórias, falar do mundo lá fora... quem sabe um dia ele queira voltar a viver nele. Caio sorriu pela primeira vez naquele dia, o alívio atravessando seus traços cansados. - É tudo que eu espero, Ísis. Só isso. Que ele volte a viver. Ela observou Leon por um instante. O homem naquela poltrona parecia uma escultura viva. Cabelos loiros levemente desalinhados, olhos verdes que encaravam um ponto invisível no horizonte. Ele era bonito, mesmo naquele estado ausente, e havia algo nele que a tocava, uma tristeza densa que parecia pedir socorro em silêncio. - Ele costumava sorrir? - ela perguntou, quase num sussurro. Caio fechou os olhos por um segundo. - Sorria muito. Tinha um senso de humor afiado. E era teimoso... mais do que você pode imaginar. Acredite, Ísis, esse homem aí já viveu como poucos. Só que agora... parece preso em algum lugar entre o ontem e o nunca mais. Ela se aproximou da poltrona devagar, parando ao lado dele, sem invadir seu espaço. Leon não se moveu. Mas Caio viu algo. Talvez uma contração quase imperceptível no canto da boca. Ou teria sido sua imaginação? Ele não disse nada. Apenas deixou que Ísis ocupasse o espaço que antes ninguém ousava preencher. Caio olhou para o relógio no pulso e soltou um suspiro resignado. - Eu preciso ir, Ísis. O trabalho me chama - disse com um sorriso cansado. - Mas qualquer coisa, meu número está salvo no telefone da casa. E a enfermeira passa por aqui à tarde, só pra checar a medicação dele. Isis assentiu com um leve movimento de cabeça. - Pode deixar. Eu vou cuidar bem dele. Caio se aproximou de Leon, agachou-se ao lado da poltrona e falou baixo, como costumava fazer todos os dias, mesmo sem resposta. - Fica bem, irmão. Ela vai estar aqui com você. Tenta não ignorar tanto assim, tá? Leon não reagiu. Continuou olhando pela janela como se nada ao redor o tocasse. Mas Caio já se acostumara com o silêncio. Ainda assim, insistia, porque amar alguém também era isso: continuar mesmo sem retorno. Levantou-se e lançou um último olhar a Ísis. - Boa sorte - disse num tom gentil. - E... obrigado por aceitar esse desafio. Ela apenas sorriu, um sorriso que carregava fé. Caio saiu. Ísis puxou uma cadeira próxima a ele e se sentou com calma, cruzando as pernas. - Bom... então somos só nós dois agora. O silêncio permaneceu, mas não a intimidou. Com a ponta dos dedos, ela tocou suavemente o braço da poltrona onde Leon apoiava a mão, não nele, mas perto. - Sabe, Leon... eu não vim aqui pra te curar. Não sou médica, nem psicóloga. Mas eu posso ficar. Ficar, se você deixar. Ela não esperava resposta. Mas, por um instante, sentiu o ar mudar. Como se, naquele silêncio, ele tivesse escutado... e aceitado.Capítulo 10Assim que chegaram em casa, Caio ajudou Rosie a descer do carro. Ela parecia cansada, com os olhos vermelhos e o corpo exausto. Ele pegou o irmão e o colocou na cadeira de rodas enquanto falava com Rosie.- Você precisa comer alguma coisa e dormir um pouco - disse com suavidade, afastando uma mecha de cabelo do rosto dela. - Eu vou me sentir melhor se souber que você está descansando, de verdade.Rosie tentou protestar, mas ele segurou suas mãos com firmeza.- A gente ainda tem um caminho longo pela frente, e você precisa estar bem - insistiu.Ela assentiu com um leve movimento de cabeça, sem forças para discutir. Antes de ir para o quarto, ela lançou um olhar em direção ao Leon. Ísis, observava tudo em silêncio da porta.Caio se voltou para ela.- Ísis, você pode cuidar dele por mim enquanto a Rosie descansa?- Claro que sim - respondeu com doçura, aproximando-se da cadeira. - Vai descansar, Rosie. Eu cuido dele.Rosie, cansada, forçou um sorriso de agradecimento.Ísis po
Capítulo 9Na estrada, Rosie olhava para Leon que ainda estava com o rosto corado.— Ele está mais quente, senhor. Estamos perto?— Sim. Mais cinco minutos.Rosie apertou os dedos com força. Nunca o vira assim. Mesmo inconsciente, Leon costumava parecer calmo. Mas agora, estava tudo fora do normal.Ela lançou um olhar preocupado para Caio.— Se essa febre for alguma consequência do acidente... ou de algo que não sabíamos...— Eu não vou perder meu irmão. — A voz de Caio soou grave. — Nem agora, nem nunca.Na entrada da emergência, as luzes brancas ofuscaram por um instante os olhos de Caio. Ele saiu do carro antes mesmo de desligar o motor e gritou por ajuda. Dois enfermeiros correram com uma maca e, juntos, retiraram Leon do banco traseiro.Rosie vinha logo atrás, com os documentos em mãos, explicando a situação enquanto empurravam a maca pelos corredores do hospital.Caio caminhava ao lado da maca, o maxilar travado de tanta tensão e a respiração irregular. Ele odiava hospitais. O c
Capítulo 8Quando retornou para a casa, com os cabelos levemente bagunçados pelo vento e a pele aquecida pelo sol, Ísis mal acreditou no que viu ao entrar pela porta dos fundos.Leon estava na sala, na cadeira de rodas, usando uma calça jeans escura, sapatos de couro e uma camisa branca impecavelmente passada, com os primeiros botões abertos, revelando parte do peito.Ela parou na porta, com os olhos arregalados.- Como você conseguiu deixar ele mais bonito? - perguntou para Rosie, boquiaberta.Rosie deu de ombros com um sorriso vitorioso no rosto.- Eu não fiz nada. Ele é natural... um gatão de primeira - disse com um brilho divertido nos olhos.Caio chegou bem no momento em que Rosie falava que o irmão era um gatão de primeira. Parou na entrada da sala com as sobrancelhas erguidas e um sorriso provocador se formando nos lábios.— Olha só… parece que cheguei na hora certa — disse, cruzando os braços. — Então agora andam elogiando meu irmão pelas costas?Rosie sorriu um pouco envergon
Capítulo 7Rosie apareceu no corredor com uma bandeja nas mãos, trazendo chá e biscoitos.— Está brigando com os próprios pensamentos outra vez? — perguntou com um sorriso de canto, colocando a bandeja sobre a mesinha ao lado do sofá.— Eu? Imagina… só tô… processando as coisas — disfarçou, mas seu tom nervoso a entregava.— Sei — Rosie arqueou a sobrancelha. — E "as coisas" têm nome?Ísis cruzou os braços, olhando para a imensa vidraça da janela que dava para o jardim.— Bom... Tem um rosto lindo e me tira o juízo sem nem abrir os olhos direito.Rosie soltou uma risada baixa.— Menina, você tá mesmo enfeitiçada. Tá parecendo aquelas histórias que a minha avó contava. Só falta o príncipe acordar com um beijo.Ísis mordeu o lábio inferior, tentando conter o sorriso involuntário.— E se ele acordar… e for um idiota?— Aí você dá meia-volta e parte pra outro. Mas… e se ele for tudo o que você sonhou?Essa pergunta ecoou dentro dela. Ísis encarou a janela novamente.— Na verdade, o que me
Capítulo 6Ísis ainda tremia. Sentia como se fosse desmaiar. Mesmo assim, saiu da sala devagar, os olhos fixos na cena à sua frente: o segurança arrastava a mulher para fora, enquanto ela gritava, reclamando de dor e ameaçando processar todos.- Vocês vão pagar por isso! Isso é abuso! - ela esbravejava, contorcendo-se.***Longe dali, Caio assistia tudo pela câmera de segurança. Quando viu Ísis com o ferro de mexer a brasa da lareira, imaginou imediatamente o pior.- Hum... - murmurou, pensativo, enquanto passava a mão na barba por fazer, que começava a despontar no rosto. - Essa menina... Quase matou a mulher com um ferro?Um sorriso se insinuou no canto de sua boca, entre curioso e impressionado.***Ísis voltou para a sala em silêncio. Guardou o ferro ao lado da lareira com mãos ainda trêmulas. Caminhou até Leon e se agachou diante dele.Ele continuava imóvel, como se nada tivesse acontecido, os olhos baixos, o rosto pálido. Mas foi ao encarar os lábios dele que a raiva voltou com
Capítulo 5Caio tomou um gole, respirou fundo e continuou, mais sério:— Ela tem feito coisas que nenhum terapeuta conseguiu, Leon. Está acordando algo em você... eu vejo isso. Você pode não responder com palavras, mas seu olhar mudou. Seu silêncio está diferente. Tem escuta. Tem alma.Ele recostou-se na poltrona, deixando a xícara sobre a mesinha.— Eu não espero que você pule dessa cadeira amanhã. Mas, se puder ouvir uma verdade... acho que você não está tão longe de voltar. E, se voltar... ela vai estar aqui com você.O silêncio entre eles permaneceu, mas dessa vez. Mas ele veio cheio de esperanças.Caio lançou um olhar rápido para a porta, depois voltou os olhos para Leon.— Ela é brasileira. Você já tinha visto uma antes? — perguntou num tom leve, quase divertido. — É muito linda...No corredor, Rosie passava devagar, indo para o quarto. Ao ouvir a voz de Caio falando de Ísis, seus passos vacilaram por um segundo. Parou atrás da porta entreaberta, o coração ficou apertado.Seus o
Último capítulo