Helena
Acordei com o som da chuva fina batendo na janela. O céu estava cinza, mas não triste. Era um cinza que abraçava. Que pedia pausa. Que dizia: respira.
E eu respirei.
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Clara saiu cedo, como sempre. Deixou um bilhete com um desenho de um relógio e a frase:
“O tempo é seu. Use como quiser.”
Sorri. Porque ela tá aprendendo a me ver como mulher, não só como mãe. E eu... tô aprendendo a me ver como tempo. Não só como função.
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Fiz café devagar. Sentei na varanda. Olhei o quintal molhado. E pensei: por tantos anos, vivi correndo. Correndo atrás de metas, de estabilidade, de segurança. Correndo atrás de Clara, de mim, de tudo.
Mas agora... quero caminhar.
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No Instituto, o grupo de mulheres mais velhas cresceu. A gente se reúne toda quarta. Sem pressa. Sem pauta. Só presença.
Hoje, uma delas — Célia — disse:
— Eu sempre achei que o tempo era inimigo. Agora vejo que ele só quer ser respeitado.
E aquilo me tocou. Porque é isso. O tempo não quer ser vencido. Quer ser vivido.
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