Helena caminhava pelos corredores da Imperium Capital com passos firmes, mas o coração em descompasso. A reunião com o conselho havia sido um campo minado, e Arthur, como sempre, jogava com cartas que ela ainda não sabia ler. Ele não a contradisse, não a expôs — mas também não a defendeu. Era como se estivesse testando seus limites, esperando para ver se ela quebraria.
Ao entrar em sua sala, jogou a pasta sobre a mesa e se deixou cair na poltrona. O celular vibrou. Uma mensagem de Beatriz, sua melhor amiga:
“Você está bem? Vi o noticiário. Arthur está sendo investigado?”
Helena franziu o cenho. Investigado? Ela não sabia de nada. Abriu o navegador e digitou o nome dele. Manchetes pipocaram: “CEO da Imperium sob suspeita de manipulação de mercado”, “Delacroix envolvido em esquema de fusão fraudulenta?”
— Droga — murmurou, sentindo o peso da responsabilidade cair sobre seus ombros. Se isso fosse verdade, ela estava no meio de um furacão.
Antes que pudesse reagir, a porta se abriu sem aviso. Arthur entrou, tenso, os olhos como lâminas.
— Você viu? — ele perguntou, sem rodeios.
— Vi agora. Por que não me avisou?
— Porque não há nada para avisar. É fumaça. Alguém está tentando me desestabilizar antes da fusão com a Vanguardis. E eu preciso que você descubra quem.
Helena se levantou, cruzando os braços.
— Você quer que eu investigue seus inimigos enquanto nem sei se posso confiar em você?
Arthur se aproximou, devagar, como quem pisa em terreno instável.
— Você confia em fatos. Então aqui vai um: se essa fusão não acontecer, centenas de empregos serão cortados. Inclusive o seu. E outro fato: você é a única pessoa aqui que não tem rabo preso. É por isso que te escolhi.
Helena sentiu a raiva se dissolver em algo mais perigoso: curiosidade. Por que ele confiava nela? Por que, entre tantos advogados, escolher justo a mulher que tinha todos os motivos para odiá-lo?
— E se eu descobrir que você está mesmo envolvido?
— Então espero que tenha coragem de me derrubar.
A tensão entre eles era palpável. Helena desviou o olhar, tentando recuperar o controle.
— Preciso de acesso aos contratos da fusão, às comunicações internas e à lista de acionistas minoritários.
Arthur assentiu.
— Já está no seu e-mail. E Helena...
Ela o encarou.
— Seja rápida. Eles vão tentar te usar como escudo. Ou como alvo.
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Naquela noite, Helena mergulhou nos documentos. A fusão com a Vanguardis parecia legítima, mas havia cláusulas estranhas: transferências de ações para empresas de fachada, movimentações financeiras em paraísos fiscais, e um nome que aparecia com frequência — Mauro Ferraz, um ex-diretor da Imperium que havia sido demitido meses antes por “conduta imprópria”.
Ela ligou para Beatriz, que trabalhava em um jornal financeiro.
— Preciso de tudo que você tiver sobre Mauro Ferraz. E rápido.
— Isso tem a ver com o Arthur?
— Tem a ver com algo maior. E eu não sei se estou do lado certo.
Beatriz suspirou.
— Você nunca está, Helena. Mas sempre encontra uma saída.
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Dois dias depois, Helena estava diante de Mauro, em um café discreto no centro de São Paulo. Ele parecia nervoso, mas curioso.
— Você quer saber sobre Arthur? — ele disse, mexendo no café sem beber. — Ele não é inocente. Mas também não é o vilão que pintam.
— Então quem é?
Mauro olhou ao redor, como se temesse ser ouvido.
— A fusão com a Vanguardis foi ideia dele, sim. Mas alguém está manipulando os bastidores. Alguém que quer tomar o controle da Imperium sem levantar suspeitas. E está usando Arthur como bode expiatório.
— Quem?
— Um nome que você já viu nos contratos: Elias Navarro. Ele controla metade das empresas de fachada envolvidas. E tem ligações com políticos que querem a Imperium enfraquecida.
Helena sentiu o estômago revirar. Elias era membro do conselho. Um dos que a haviam recebido com sorrisos falsos e elogios vazios.
— Por que está me contando isso?
— Porque você ainda acredita em justiça. E porque, se Elias vencer, ninguém mais vai poder enfrentá-lo.
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De volta à empresa, Helena confrontou Arthur.
— Elias Navarro está por trás disso. Ele quer te tirar do jogo e assumir o controle da fusão.
Arthur não pareceu surpreso.
— Eu sei. Mas não posso acusá-lo sem provas. E se eu fizer isso, ele me destrói.
— Então me deixe fazer isso.
Arthur a encarou, como se visse algo nela que não havia percebido antes.
— Você está disposta a se queimar por mim?
Helena respirou fundo.
— Não por você. Pela verdade.
Ele sorriu, um sorriso raro, quase triste.
— Então vamos à guerra.