Nove anos atrás, Clarice Preston encontrou Sterling Davis pela primeira vez. Foi um daqueles momentos que marcam uma vida inteira, um amor à primeira vista que parecia eterno. Três anos atrás, Clarice entrou para a poderosa família Davis como esposa de Sterling. Ela acreditava que aquele casamento seria o começo de uma vida inteira de amor e cumplicidade. Durante esses três anos, ela o amou como nunca amou ninguém. Fez de tudo para conquistá-lo, engoliu o próprio orgulho, sacrificou seus sonhos e sua essência, tudo para tentar aquecer o coração frio daquele homem e se tornar a mulher que ele mais amava. Mas o coração de Sterling permaneceu inalcançável. Seus olhos, sua atenção, seu afeto... Tudo sempre foi dedicado a outra: Teresa Fonseca, a cunhada. Então, o destino foi cruel. No mesmo dia em que Clarice descobriu que estava grávida, Teresa anunciou publicamente que também esperava um filho. Clarice reuniu coragem e perguntou ao marido: — E se eu estiver grávida, o que você faria? A resposta dele foi fria como gelo: — Abortar. Ela tentou mais uma vez: — E a Teresa? Ela está grávida, também vai abortar? Ele respondeu sem hesitar: — Ela terá o bebê. Esse será o primeiro neto da família Davis. Foi o suficiente. Clarice viu seu mundo desmoronar. Desiludida e sem mais esperanças, ela decidiu pedir o divórcio. Mas Sterling não aceitou. Ele rasgou os papéis do divórcio, a prendeu contra a porta e, com uma voz carregada de possessividade, declarou: — Você é minha mulher. E será minha para sempre. Clarice não se deixou intimidar. Levou o caso para o tribunal. Mas, antes que o divórcio fosse finalizado, um acidente quase levou seu bebê. Desesperada para proteger seu filho, Clarice fugiu, escondendo a gravidez e desaparecendo da vida de Sterling. Anos depois, ela voltou. Forte, independente e determinada. Mas Sterling a encontrou. Com um sorriso frio, ele disse: — Clarice, você roubou meu filho. Agora é hora de acertarmos as contas.
Ler maisJaqueline estava irritada e tentou se soltar, estendendo a mão em direção a ele. — Me solta agora, Simão! Antes que ele pudesse desviar, as unhas de Jaqueline acabaram arranhando o rosto dele, deixando uma longa marca de sangue na pele. Simão apertou o maxilar. Ele sempre tentava manter a calma na frente de Jaqueline, mas, com a situação entre eles tão desgastada e ela cada vez mais fora de controle, sua paciência já tinha se esgotado. Clarice, observando a cena, pensou que Simão conseguia ser ainda pior do que Sterling. Jaqueline, constrangida, mordeu os lábios antes de falar: — Simão, se você ousar fazer isso comigo, eu nunca vou te perdoar! Simão passou a mão pelo rosto, sentindo o sangue nos dedos. Sua expressão ficou ainda mais sombria. — Não importa se você vai me perdoar ou não. De qualquer jeito, você vai ficar comigo para sempre. Ele sempre a tratou com cuidado, mas agora ela estava ali, em um bar, atrás de desconhecidos. Se ela não dava valor a ele, então el
— Vou pegar um copo de água. Dirija com cuidado! — Rita disse, apressada, antes de desligar o celular. Ela não esperava que Simão dissesse algo tão direto como “você é minha futura esposa”. Será que ele gostava tanto dela a ponto de estar ansioso para se casar? Enquanto pensava nisso, decidiu que, naquela noite, conversaria com os pais sobre os preparativos do casamento. Afinal, a família Azevedo era tradicional, e os rituais seriam numerosos e demorados para organizar. Só de imaginar o casamento com Simão, o coração de Rita começou a bater mais rápido. Casar com alguém que se ama era o sonho de muitas mulheres, e agora parecia que esse sonho estava prestes a se tornar realidade para ela. Do lado de fora, dentro do carro, Simão colocou o celular no banco ao lado e acendeu um cigarro. A fumaça o envolvia, mas ele não conseguia tirar da cabeça os olhos marejados de Jaqueline. “Casar com Rita não vai mudar nada entre mim e a Jaqueline. Por que ela não entende isso?”, ele pensava
O coração de Simão apertou por um instante ao encarar os olhos marejados de Jaqueline. Ele sentiu um incômodo estranho no peito, mas não conseguia entender exatamente o porquê. — Se eu preciso me curvar ao seu controle para não sofrer essas punições, então vá em frente, faça o que quiser! Só que, depois disso, eu vou embora de Londa e nunca mais volto. — A voz dela era firme, mas carregada de dor. Essa cidade que a feriu tão profundamente só traria mais tristeza se ela permanecesse. Melhor partir e esquecer o que os olhos não precisariam mais ver. Simão imediatamente soltou o pulso dela, como se o peso das palavras tivesse tirado sua força. Jaqueline massageou o próprio pulso e, com um sorriso leve, disse calmamente: — Mas, antes de você agir, lembre-se de me avisar. Assim, posso me preparar com antecedência. Com isso, ela abriu a porta do carro e saiu. O barulho seco da porta sendo fechada ecoou no silêncio, e Simão sentiu como se o ar tivesse ficado rarefeito. Ele abaixou o
Jaqueline estava tão preocupada com Clarice que, por um momento, até esqueceu a dor causada pela notícia do encontro de Simão. Clarice desligou o celular e desceu rapidamente as escadas para esperar Jaqueline. Enquanto isso, Jaqueline desligou a ligação, trocou de roupa às pressas e saiu apressada de casa. Mas, ao abrir a porta, deu de cara com o rosto familiar de Simão. — Tão tarde assim, para onde você está indo? — Simão perguntou, com a expressão claramente irritada. Jaqueline abaixou a cabeça, evitando olhar para ele. — Eu não quero te ver agora. Volte para casa! Ela precisava de um tempo para colocar os pensamentos em ordem. — Jaqueline, você está fazendo birra comigo? — O tom de Simão era áspero. — Eu te disse aquilo não para que você se afastasse de mim! Jaqueline levantou o rosto e olhou diretamente para ele. — Então quer dizer que, mesmo estando com ela, você não pensou em me deixar em paz, é isso? A ideia de Simão querer que ela aceitasse ser a outra, vive
Alguns segundos depois, Clarice abriu a mensagem. Era uma selfie de Teresa. No fundo da foto, na parede, estava pendurado um quadro com uma foto de casamento que Teresa havia mandado editar, colocando ela e Sterling como se fossem os noivos. Clarice lembrou que, quando ela mesma havia colocado a foto original naquele mesmo lugar, Sterling a ridicularizou com comentários sarcásticos. Mas, na época, ela ainda acreditava no casamento e queria construir uma vida longa e feliz ao lado dele, ignorando suas provocações. Por insistência dela, a foto ficou pendurada ali por três anos. No dia em que Clarice saiu da Mansão Davis, com toda a correria para organizar sua mudança, ela acabou esquecendo de tirar a foto e destruí-la. Agora, com o divórcio recém-assinado, Teresa já tinha se mudado para a mansão. Teresa parecia mesmo não ter perdido tempo. Clarice pensou na ironia da situação. Durante o jantar na Mansão Davis, Sterling ainda teve a audácia de provocá-la. Por sorte, ela já havia
Túlio decidiu não insistir na pergunta. Ele sabia que, se Clarice estivesse grávida, mais cedo ou mais tarde ele descobriria. As palavras de Túlio fizeram Clarice apertar instintivamente os dedos ao redor da pequena caixa. O metal pressionava sua palma, causando uma dor leve. Será que Túlio sabia de sua gravidez? — Esqueça, finja que eu não perguntei. — Túlio disse, percebendo que a pergunta a deixara desconfortável. Ele não queria forçá-la e preferiu deixar o assunto para lá. Ao ver a expressão de desânimo que passou rapidamente pelo rosto de Túlio, Clarice sentiu um aperto no coração. Ela abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida por batidas na porta. — Quem é? — Túlio perguntou, com a voz firme. — Sou eu. — Sterling respondeu do lado de fora. Clarice olhou para Túlio e disse: — Vovô, eu vou indo agora. Ela se levantou, pronta para sair. — Tudo bem. Mas cuidado no caminho. Quando chegar em casa, me avise, senão vou ficar preocupado. — Túlio respondeu, sem i
— Clarice, eu sei que isso não é justo com você, mas... — Túlio fez uma pausa, e seus olhos começaram a marejar. — Eu já estou velho, minha saúde não é boa. Talvez um dia eu durma e não acorde mais. Clarice sentiu um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras. Instintivamente, apertou a pequena caixa em suas mãos. — Vovô, não fale assim! Você vai viver muitos e muitos anos! Túlio sorriu de forma suave, como quem já havia aceitado as voltas da vida. — Já vivi muito, Clarice. Já não tenho medo da morte. Se eu partir, não quero que você fique triste. Apenas viva a sua vida da melhor forma. Ele sabia que devia muito a Clarice, que, em sua tentativa de protegê-la, acabava pedindo demais. Agora, tudo o que ele queria era que ela tivesse alguém para amá-la e cuidar dela. Clarice olhou para o sorriso tranquilo de Túlio e sentiu uma inquietação no coração. Por um momento, teve a impressão de que ele estava se despedindo. — Vovô... — Ela começou a falar, mas foi interrompida pelo to
Enquanto Teresa experimentava e descartava uma peça de roupa após a outra, o tempo passava sem que ela percebesse. Mas, em seu coração, havia uma sensação de plenitude que ela jamais havia sentido antes. Naquele momento, tudo o que ela queria era encontrar Sterling o mais rápido possível. No escritório, a luz amarelada do abajur projetava sombras irregulares sobre os móveis antigos, impregnando o ambiente com um ar de história e mistério. O cheiro de madeira envelhecida pairava no ar, denso e carregado de memórias. Clarice estava parada diante da ampla mesa de madeira maciça, com as mãos entrelaçadas de forma nervosa. Seus olhos, cheios de incerteza e tensão, buscavam respostas nas paredes silenciosas. Túlio se levantou lentamente de sua cadeira. Ele caminhou até um armário de madeira escura, cujo aspecto antigo sugeria que ele havia visto mais décadas do que qualquer um naquela casa. Com cuidado, ele abriu a porta e retirou de lá uma pequena caixa delicada. A superfície da ca
Ao ouvir a voz de Túlio, Clarice congelou por um instante. Em seguida, entendeu o que ele queria dizer e imediatamente abaixou a cabeça para olhar embaixo da mesa. O pé de Túlio estava preso sob o dela. Naquele momento, ela percebeu que, tomada pela raiva, havia pisado sem pensar, sem sequer prestar atenção na direção. — Desculpa, vovô… — Clarice disse rapidamente, com as bochechas coradas, tentando se justificar. — A culpa é sua! — Túlio rebateu, bufando. Ele entendeu muito bem o que havia acontecido. Afinal, ele também já fora jovem. Mas, por não querer incentivar a reaproximação entre os dois, decidiu descontar a irritação em Sterling. — Isso é tudo culpa sua! — Vovô, você está sendo injusto! — Sterling protestou, claramente incomodado. Ele sabia que, no passado, Túlio sempre tentava unir os dois, mas naquela noite parecia que o avô estava contra ele. — Comam logo! — Túlio ordenou, lançando um olhar exasperado para os dois antes de soltar um suspiro cansado. Mesmo as