O clima na Imperium Capital havia mudado. Os corredores pareciam mais silenciosos, os olhares mais cautelosos. A notícia do afastamento de Elias Navarro se espalhara como pólvora, e embora ninguém comentasse abertamente, todos sabiam que algo grande estava acontecendo.
Helena sentia o peso da vitória, mas também o peso da responsabilidade. Ela havia mexido em estruturas que estavam há anos intactas. E agora, tudo que restava era esperar pela reação.
Arthur a chamou para uma reunião privada. Quando ela entrou em sua sala, ele estava de pé, olhando pela janela, como se buscasse respostas no horizonte.
— Elias está se movimentando — disse ele, sem virar o rosto. — Está tentando convencer os acionistas de que fui eu quem manipulou os contratos.
Helena se aproximou, cautelosa.
— Você tem aliados no conselho. Eles sabem a verdade.
— Verdade não é suficiente, Helena. É preciso controle. E Elias ainda tem influência demais.
Ela cruzou os braços.
— Então o que fazemos?
Arthur finalmente se virou. Seus olhos estavam cansados, mas determinados.
— Vamos expor tudo. Publicamente. Com documentos, gravações, tudo que você reuniu. Mas antes... há algo que você precisa saber.
Helena sentiu um arrepio. A frase carregava um peso que ela não conseguia ignorar.
— O que é?
Arthur caminhou até sua mesa, abriu uma gaveta e tirou uma pasta. Entregou a ela com mãos firmes.
— Isso é o relatório da falência da empresa do seu pai. Você sempre acreditou que eu estava envolvido. Mas a verdade é mais complexa.
Helena pegou a pasta com dedos trêmulos. Abriu devagar, como quem desenterra um fantasma. Os documentos mostravam transações, decisões do conselho, e uma assinatura que ela não esperava ver: Elias Navarro.
— Elias foi quem pressionou o conselho a cortar os investimentos. Eu tentei impedir. Mas fui voto vencido.
Ela olhou para Arthur, incrédula.
— Por que nunca me disse isso?
— Porque achei que você não acreditaria. E porque, de certa forma, eu me sentia culpado. Eu era parte daquele sistema. Mesmo tentando resistir, não fiz o suficiente.
Helena sentiu o chão se mover sob seus pés. Anos de raiva, de dor, de certezas — tudo desmoronando.
— Você deixou que eu te odiasse.
— Talvez eu achasse que merecia.
O silêncio entre eles era denso. Mas não havia mais espaço para máscaras.
— Eu não sei o que pensar — disse ela, baixinho.
— Pense no que você quer fazer agora. Porque Elias vai atacar. E precisamos estar prontos.
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Naquela noite, Helena não conseguiu dormir. As palavras de Arthur ecoavam em sua mente. Ela releu os documentos, cruzou informações, buscou entender o que havia realmente acontecido. E, pela primeira vez, viu seu pai como parte de um jogo maior — um homem que confiou demais, que foi traído por aqueles que deveriam protegê-lo.
Ela pensou em Arthur. No homem que ela havia odiado, temido, admirado. E agora, compreendido.
Na manhã seguinte, ela entrou em sua sala com um novo plano.
— Vamos convocar uma coletiva de imprensa. Mas não para atacar Elias. Vamos mostrar os dados, os documentos, e deixar que a verdade fale por si.
Arthur a olhou com surpresa.
— Você quer jogar limpo?
— Quero jogar certo. Se Elias cair por causa da verdade, então será uma queda justa.
Ele sorriu, um sorriso contido, mas genuíno.
— Você é melhor do que todos nós.
Helena se aproximou, sem pensar. Estava tão perto que podia sentir o calor da pele dele, o cheiro discreto do perfume. Arthur não se afastou.
— E você é mais humano do que deixa transparecer.
Por um instante, o mundo parou. Os olhos se encontraram, e tudo que havia sido dito, tudo que havia sido sentido, parecia convergir naquele momento.
Mas antes que qualquer palavra fosse dita, o celular de Helena vibrou. Uma mensagem de Beatriz:
“Elias convocou uma coletiva. Vai te acusar de falsificação.”
Helena mostrou a mensagem a Arthur. Ele cerrou os punhos.
— Ele está desesperado.
— E perigoso.
Arthur pegou o telefone.
— Prepare a sala de imprensa. Hoje à tarde. Vamos mostrar tudo.
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A coletiva foi marcada para as 16h. Helena passou o dia organizando os documentos, preparando os argumentos, revisando cada detalhe. Arthur confiava nela — e agora, ela precisava provar que merecia essa confiança.
Às 15h45, a sala estava cheia. Jornalistas, acionistas, funcionários. Todos esperando por respostas.
Arthur abriu a coletiva com um discurso breve. Depois, passou a palavra para Helena.
Ela respirou fundo e começou.
— Nos últimos meses, a Imperium Capital foi alvo de uma tentativa de manipulação interna. Documentos foram adulterados, cláusulas foram inseridas em contratos com o objetivo de beneficiar empresas ligadas a membros do conselho. Hoje, apresentamos provas dessas ações — e mostramos quem está por trás delas.
Ela exibiu os documentos, as gravações, os relatórios. Cada palavra era precisa, cada dado incontestável.
No final, olhou para a plateia.
— A verdade não é uma arma. É um escudo. E hoje, escolhemos usá-la.
A sala ficou em silêncio. Depois, aplausos tímidos começ
aram — e cresceram. Arthur se aproximou, colocou a mão no ombro dela.
— Você salvou a empresa.
Helena olhou para ele.
— E talvez tenha salvado a mim mesma.