Mundo de ficçãoIniciar sessãoRose Almeida nasceu para lutar. Filha de um mestre lendário, cresceu entre tatames e medalhas, tornando-se uma das melhores em sua área: guarda-costas. Disciplinada, fria e focada, nunca deixou que o coração interferisse no trabalho. Até receber a missão de proteger Pedro Nascer. Rico, arrogante e egocêntrico, ele vive assombrado pela morte da noiva em um acidente que ele mesmo causou. Perdido entre culpa e excessos, Pedro não aceita ordens de ninguém — muito menos de uma mulher que insiste em desarmá-lo com cada olhar firme e cada golpe certeiro. Mas a proximidade entre os dois transforma a repulsa inicial em algo mais perigoso do que qualquer ameaça externa: desejo. E Rose sabe que se envolver com Pedro pode destruir tudo o que ela construiu… mas resistir a ele será sua luta mais difícil. Entre dever e paixão, disciplina e caos, uma pergunta permanece: até onde um coração pode se proteger antes de finalmente se render?
Ler maisO som das luvas batendo no saco de areia ecoava pelo tatame vazio, onde o cheiro de madeira envernizada e suor impregnado parecia contar histórias de lutas passadas. Rose Almeida mantinha o ritmo firme, como se cada soco fosse uma resposta para os fantasmas que insistiam em persegui-la. O suor escorria pelo rosto, molhando a camiseta preta, mas ela não diminuía o ritmo. Não era apenas treino — era um ritual, um lembrete diário de quem ela era e do que havia prometido a si mesma: nunca baixar a guarda.
Seu pai sempre dizia que a luta não estava apenas nos ringues ou nas ruas, mas também dentro de nós. “Disciplina é força. Emoção é fraqueza”, repetia Mestre Kano, um dos mais respeitados instrutores de artes marciais do país. E Rose, como boa filha, havia transformado essa frase em lema de vida. A respiração dela era compassada, quase mecânica. Direita, esquerda, joelhada. A mente estava focada, até que a porta da academia se abriu de repente. — Rose! — a voz grave de Mestre Kano ecoou, carregada de urgência. Ela se virou, enxugando o suor com o antebraço. O pai raramente interrompia seus treinos. Isso só podia significar problema. — O que foi, pai? — perguntou, ajeitando as luvas. Ele entrou, acompanhado de um homem de terno impecável, que parecia sufocar naquele ambiente de tatames gastos e sacos de pancada manchados pelo tempo. O sujeito tinha expressão séria, daqueles que nunca sorriem por obrigação. — Temos uma missão para você — disse Mestre Kano, trocando um olhar rápido com o homem ao lado. — E não é qualquer missão. Rose arqueou uma sobrancelha. Já tinha trabalhado como segurança em eventos privados, missões discretas para empresários e até mesmo proteção de celebridades, mas havia algo diferente na tensão no rosto do pai. — Do que se trata? O homem de terno pigarreou antes de falar: — Você já ouviu falar de Pedro Nascer? Rose não precisou pensar muito. O sobrenome Nascer estampava revistas, sites de fofoca e capas de negócios. Herdeiro de um império de empresas milionárias, Pedro era tão famoso por seu dinheiro quanto por suas polêmicas. Acidentes, brigas em baladas, romances conturbados com modelos. Um homem que parecia colecionar escândalos tanto quanto carros esportivos. — Quem não ouviu? — respondeu ela, com desdém. — Mais uma criança rica que acha que pode comprar o mundo… e talvez até a própria consciência. — Ele é isso e muito mais — disse o pai, com voz grave. — Mas o problema é que agora ele corre risco de verdade. Rose estreitou os olhos. — Risco de quê? O homem de terno foi direto: — O jovem Nascer recebeu ameaças sérias. Há quem queira usar o trauma dele contra a família. Ele já foi alvo de uma tentativa de ataque e recusou todos os seguranças que contratamos. É teimoso, orgulhoso. Mas aceitou ter alguém... diferente. Rose entendeu no mesmo instante. — Ele não quer homens armados ao redor, não é? — Exato. — O homem assentiu. — Mas ele não sabe que vai receber você. Mestre Kano deu um passo à frente, colocando a mão firme no ombro da filha. — Quero que cuide disso, Rose. Você é a única que pode. Ela abriu um sorriso torto. — Então é isso? Querem que eu cuide de um herdeiro mimado que acha que o mundo gira ao redor dele? — Não é tão simples — disse o pai, em tom severo. — Esse rapaz carrega dores que você não pode imaginar. Ele não precisa apenas de alguém que lute por ele, mas de alguém que não ceda à arrogância dele. Rose respirou fundo. Missão difícil, talvez a mais complicada que já recebera. E isso a instigava. — Quando começo? — Hoje mesmo — respondeu o homem de terno. — Ele está em sua cobertura agora. Vai ser apresentada como parte da equipe de proteção. Rose retirou as luvas e as jogou no chão. Limpou o suor e olhou para o pai com determinação. — Então está decidido. Vou mostrar a esse tal de Pedro Nascer que não se trata apenas de guardar a vida dele, mas também de ensinar a lutar por ela. Rose retirou as luvas e seguiu até o vestiário, já sentindo o peso da missão que carregaria a partir de agora. Do outro lado da cidade, as luzes noturnas refletiam nos prédios como constelações artificiais. No topo de um deles, isolado em sua fortaleza de vidro, Pedro Nascer afogava seus fantasmas em um copo de uísque. A cobertura em que morava parecia mais uma fortaleza de vidro suspensa sobre a cidade. Luxo em cada detalhe, mas também um vazio frio que combinava com a fama do dono. Pedro estava parado diante da sacada, copo de uísque na mão, os olhos perdidos no horizonte. Não dormia direito há meses. Desde o acidente, desde a noite em que perdeu sua noiva, nada mais fazia sentido. O álcool era seu único anestésico, mas nem ele calava as vozes que o acusavam sempre que fechava os olhos. Quando a porta se abriu atrás dele, Pedro não se virou. — Já disse que não preciso de babás — murmurou, entediado. — Que bom, porque eu também não sou babá — respondeu uma voz firme, feminina. Pedro virou-se lentamente e, por um instante, pareceu confuso. Diante dele estava uma mulher que parecia ter saído de outro mundo. Postura ereta, olhar afiado como lâmina, cabelos presos em um coque simples que só destacava ainda mais a disciplina em cada gesto. — Quem é você? — Rose Almeida. — Ela estendeu a mão. — Sua nova guarda-costas. Pedro soltou uma risada seca, quase debochada. — Isso só pode ser piada. — Não é — respondeu Rose, sem se abalar. — Quer você goste ou não, estarei aqui. Ele a encarou de cima a baixo, como quem avalia um carro novo que não pediu. Rose sustentou o olhar, sem vacilar. E foi nesse breve duelo silencioso que algo estranho aconteceu. Pedro, acostumado a dobrar qualquer um com sua arrogância, sentiu uma fissura na própria muralha. Rose, por sua vez, percebeu que por trás do sarcasmo e do olhar intenso havia mais do que um herdeiro mimado. Havia um homem quebrado. Ela não disse nada. Apenas segurou firme a pasta que carregava, esperando o próximo ataque verbal dele. Pedro tomou um gole do uísque, ainda encarando-a. — Muito bem, Rose Almeida. Vamos ver quanto tempo você aguenta. E, naquele momento, os dois sabiam que a luta mais perigosa já havia começado. Não no tatame. Não com golpes. Mas no coração.O dia amanheceu abafado, o céu pesado como se anunciasse tempestade. Na cobertura, Rose revisava a rotina de segurança pela terceira vez. Mapas, relatórios, turnos dos seguranças externos, reforço das câmeras — tudo parecia sob controle. Mas, no fundo, sabia que não estava. Não porque os sistemas fossem frágeis, mas porque ela mesma estava se tornando vulnerável.Desde o quase-beijo no salão, cada gesto de Pedro tinha outro peso. Cada olhar parecia uma provocação calculada, cada palavra vinha carregada de algo que não cabia nos relatórios que ela tanto revisava.— Você já decorou essas folhas de tanto olhar. — a voz dele a interrompeu.Rose levantou os olhos. Pedro estava encostado no batente da porta, de calça jeans escura e camisa aberta no peito, o cabelo bagunçado como se tivesse acabado de sair da cama. O sorriso de canto estava lá, mas havia cansaço nos olhos.— É meu trabalho. — ela respondeu, seca, voltando os olhos para os papéis.— Não, Almeida. — Ele avançou, aproximando-se
A chuva caía fina contra os vidros da cobertura, borrando a vista da cidade. O som das gotas preenchia o silêncio do salão de treino, onde Rose organizava os equipamentos em silêncio quase ritualístico.Pedro entrou descalço, de calça esportiva preta e camiseta cinza. O cabelo estava úmido, colado à testa, e os olhos carregavam aquela mistura de provocação e cansaço. Ele se encostou no batente, observando-a em silêncio por alguns segundos antes de falar.— Você nunca para. — disse, com um meio sorriso.— O inimigo também não. — Rose respondeu sem olhar para ele.— E se o inimigo for eu? — Ele avançou alguns passos, a voz mais baixa. — Porque às vezes parece que estou testando seus limites mais do que qualquer outra coisa lá fora.Rose ergueu o olhar, firme.— Está se superestimando, Pedro.Ele riu, mas sem humor.— Então prove.O treino começou com intensidade maior do que o normal. Pedro parecia mais disposto a desafiar do que a aprender. Tentava golpes arriscados, avançava sem técni
A manhã chegou silenciosa, mas carregada. O céu cinzento refletia o clima dentro da cobertura, onde cada sensor novo piscava como um lembrete da ameaça lá fora. Rose estava de pé antes de todos, treinando sozinha no salão. Os golpes firmes contra o saco de pancada ecoavam como batidas de tambor, ritmadas e implacáveis.Pedro apareceu no batente da porta, apoiado de braços cruzados. Usava apenas uma camiseta branca e calça de moletom escura. O cabelo desalinhado denunciava que tinha acabado de acordar, mas o olhar estava desperto, fixo nela.— Você treina até dormindo? — ele perguntou, a voz ainda rouca de sono.Rose não parou o movimento.— Eu treino para estar viva. Você deveria fazer o mesmo.Pedro entrou devagar, os passos lentos como se estivesse entrando em território proibido.— Ontem você me tirou a única coisa que me fazia sentir livre. Agora só me restam quatro paredes e você.Ela golpeou o saco de pancada com mais força, como se a frase fosse um soco no estômago.— E isso te
O dia amanheceu pesado, como se as nuvens carregassem a sombra da noite anterior. Rose não dormira nada. Passara horas em contato com a equipe de segurança, analisando câmeras, revendo protocolos, listando falhas estruturais do prédio que ninguém antes ousara apontar.Às sete da manhã, já estava de pé, circulando pela cobertura com a prancheta na mão. Conferia janelas, testava trancas, analisava rotas de fuga. O apartamento, que já lhe parecera um palácio de vidro, agora soava como uma armadilha brilhante.Pedro apareceu no corredor, ainda de camiseta e calça de moletom, os olhos semicerrados de sono — ou de exaustão. Ele a observou alguns segundos em silêncio, antes de resmungar:— Você anda por aqui como se fosse dona do lugar.— Não é muito diferente da verdade. — Rose não desviou o olhar da fechadura que testava. — Estou responsável pela sua vida. E se depender de mim, nenhum passo aqui será dado sem que eu saiba.Pedro soltou um suspiro e se jogou no sofá.— Então é isso? Estou c
A noite tinha sido curta. Rose mal dormira, atormentada pelo eco do nome que não saía de sua cabeça. Pedro. Cada vez que tentava afastar a lembrança, sentia o coração acelerar, como se estivesse traindo sua própria disciplina.O som do celular vibrando sobre a mesa quebrou o silêncio do quarto de hóspedes. Ela atendeu de imediato, reconhecendo o número.— Almeida. — A voz grave do contato de segurança soou urgente. — Interceptamos uma mensagem suspeita. Endereçada a “Pedro Nascer”.Rose endireitou-se na cama, o corpo inteiro em alerta.— Do que se trata?— Um e-mail anônimo. Ameaça direta. Cita o acidente da noiva e fala em terminar o que ficou inacabado.O sangue dela gelou.— Detalhes. Quero cópia imediata.— Já está a caminho. Mas há mais: alguém andou circulando a garagem do prédio esta madrugada. Sem autorização.Rose encerrou a ligação e respirou fundo, tentando conter a fúria que subia. A ameaça não era apenas sombra — estava cada vez mais concreta.Quando entrou na sala, Pedro
O céu estava carregado naquela manhã, nuvens pesadas encobrindo o sol. A cidade parecia respirar junto com a tensão que pairava na cobertura. Rose folheava relatórios de segurança sobre possíveis ameaças enquanto caminhava pelo salão, a postura impecável como sempre.Pedro estava sentado na poltrona, uma xícara de café à mão e o olhar fixo nela. Havia algo diferente em sua expressão: menos ironia, mais insistência.— Você sempre me chama assim… — disse ele de repente, quebrando o silêncio.Rose ergueu os olhos, sem entender.— Assim como?— “Nascer.” — Ele inclinou o corpo para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Quando quer me cutucar, me lembrar de quem eu sou, do peso que carrego… você me chama de Nascer.Ela franziu a testa, tentando negar, mas as lembranças vieram rápido: várias vezes já havia usado o sobrenome dele, especialmente quando queria impor distância, quando precisava se proteger.— É o seu nome — respondeu, seca, voltando os olhos para a pasta. — Não vejo prob
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