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Capítulo 6 — O Toque em Chamas

Pedro acordou com o corpo dolorido. Cada músculo parecia protestar contra o esforço do dia anterior. A sensação era nova para alguém que passava mais tempo em festas e reuniões do que em qualquer treino físico.

Levantou-se devagar, bufando. A cada passo, lembrava-se de Rose: os toques secos, as correções firmes, o olhar que nunca vacilava. Odiava admitir, mas ela conseguira arrancar dele algo que nem sabia que tinha: fôlego para continuar mesmo quando queria desistir.

Encontrou-a já na sala ampla da cobertura, de calça de treino escura e top esportivo, alongando os braços com a naturalidade de quem vive em movimento. O cabelo preso realçava o pescoço firme, e Pedro desviou o olhar rápido, irritado com a própria distração.

— Não acredito que você está pronta de novo — resmungou, passando a mão pelos cabelos. — Eu mal consigo andar.

Rose ergueu os olhos, impassível.

— Dor é sinal de que o corpo está aprendendo.

— Ou de que está morrendo. — Ele caiu no sofá, exausto só de olhar para ela. — Prefiro ficar com a segunda opção.

— Não tem escolha, Pedro. — Rose se aproximou, entregando-lhe uma garrafa de água. — Levante-se.

Ele pegou a garrafa, mas não se moveu.

— Você não cansa de dar ordens?

— Só quando o soldado aprende. — Ela cruzou os braços. — E você ainda está na primeira lição.

Pedro bufou, mas obedeceu. Estava cansado de perder.

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Minutos depois, estavam novamente no espaço de treino improvisado. Rose assumiu posição, e Pedro tentou imitá-la, ainda desajeitado.

— Postura. — Ela se aproximou, colocando a mão no ombro dele. Empurrou para baixo, ajustando a base. — Mais firme.

O toque fez o corpo dele reagir de um jeito inesperado. O calor atravessou a camiseta fina, espalhando-se pelo peito. Pedro engoliu seco e manteve os olhos fixos no nada, fingindo não notar.

— Assim? — perguntou, a voz um pouco rouca.

— Melhor. — Rose deu a volta por trás dele, encostando de leve as mãos em suas costas. — Endireite a coluna. Você está carregando o mundo nas costas, e isso te deixa vulnerável.

Ele riu baixo, nervoso.

— Você fala como se pudesse ver dentro de mim.

— Posso. — A resposta dela veio simples, certeira, e o fez prender a respiração.

Rose voltou à frente, ergueu a mão e posicionou o punho dele. Seus dedos tocaram os dele, corrigindo o ângulo. O contato breve incendiou o ar entre os dois.

Pedro tentou disfarçar com sarcasmo.

— Você sempre pega assim na mão dos seus clientes?

— Só nos que acham que sabem lutar quando não sabem nada. — Rose manteve o olhar firme. — Concentre-se.

Ele cerrou os dentes, dividindo-se entre a raiva e a estranha vontade de prolongar aquele toque.

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O treino começou. Rose atacava com golpes controlados, e Pedro tentava bloquear. A cada erro, ela o corrigia fisicamente: um empurrão no ombro, uma pressão firme no abdômen, um toque rápido no braço. Pequenos gestos, mas cada um deles parecia queimar mais do que qualquer soco.

— Use o quadril, não apenas o braço. — Rose segurou sua cintura, girando-a para mostrar o movimento correto.

Pedro engoliu em seco, sentindo a respiração descompassar.

— Você faz isso de propósito.

— O quê?

— Me provocar desse jeito. — Ele soltou o golpe, desajeitado, só para se livrar da tensão.

Rose arqueou a sobrancelha, séria.

— Se está distraído, o problema não é meu.

Ela avançou rápido, aplicando um golpe que o fez recuar. Pedro tropeçou, quase caindo, mas Rose agarrou-o pelo braço e o segurou firme. O corpo dele colidiu contra o dela outra vez.

O mundo pareceu parar.

Os olhos de Pedro se fixaram nos dela, tão próximos que sentiu a respiração quente roçar sua pele. Rose não recuou de imediato. Por um instante, os dois ficaram imóveis, presos em um campo de força invisível.

Pedro abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu.

Rose o soltou de repente, afastando-se como se tivesse despertado de um transe.

— Concentre-se. — A voz saiu firme, mas o olhar dela traía um lampejo de nervosismo.

Pedro sorriu de canto, recuperando-se.

— Se continuar me tocando desse jeito, Almeida, não garanto que vou conseguir.

Ela o encarou, séria, como se medisse o limite da provocação.

— Então aprenda rápido. Antes que alguém saia ferido.

E dessa vez, Pedro não teve certeza se ela falava da luta… ou do que estava nascendo entre eles.

O treino continuou. Pedro tentava se manter concentrado, mas cada vez que Rose corrigia sua postura, o corpo reagia mais do que a mente permitia.

Ela o empurrava, ele recuava. Ela o segurava, ele queimava por dentro. Não era apenas o esforço físico que o deixava ofegante, era a proximidade.

— Mais rápido. — Rose avançou, o punho erguido. — Bloqueie.

Pedro conseguiu aparar o golpe, mas o movimento foi desajeitado. Rose aproveitou a brecha, girou e o desequilibrou, empurrando-o contra a parede. O impacto fez o ar escapar do peito dele.

Antes que pudesse reagir, ela o prendeu com o antebraço no peito, os rostos a centímetros de distância.

— Se fosse um ataque real, você já estaria morto — disse, a voz baixa, firme.

Pedro sentiu o coração martelar. O calor do corpo dela contra o dele, o suor escorrendo pela têmpora, a respiração pesada… tudo conspirava contra sua sanidade.

— Ou talvez… — ele murmurou, o olhar preso nos lábios dela. — Talvez eu só estivesse… rendido.

Por um instante, o silêncio pareceu engolir o salão. Rose não se mexeu. Os olhos dela vacilaram, como se uma linha invisível estivesse prestes a ser atravessada.

Pedro inclinou-se um pouco, apenas um sopro de distância. O cheiro dela era uma mistura de esforço físico e algo suave, quase doce. A tensão entre eles se transformou em eletricidade pura.

Rose piscou, os dedos dela pressionando o peito dele mais forte, como se quisesse afastá-lo e ao mesmo tempo não conseguisse.

E então, recuou.

— Treino acabou. — A voz dela saiu seca, dura demais para disfarçar o nervosismo.

Pedro riu baixo, encostando a cabeça na parede.

— Você foge bem, Almeida. Mas não vai conseguir para sempre.

Ela pegou a toalha e se afastou, ignorando a provocação.

— Não estou aqui para isso, Pedro.

— Claro que não. — Ele passou a mão pelo rosto suado, sorrindo de canto. — Continue repetindo. Talvez um dia acredite.

Rose não respondeu. Apenas virou-se, indo em direção ao vestiário improvisado.

Pedro a acompanhou com o olhar até a porta se fechar. O peito ainda arfava, mas não pelo treino. Ele sabia.

O que estava crescendo ali não era força. Era fogo.

E cedo ou tarde, alguém iria se queimar.

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