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Capítulo 8 — O Jogo da Respiração

O relógio ainda marcava nove da manhã quando Rose entrou no salão de treino da cobertura. O espaço já parecia diferente para ela: não era mais apenas um lugar improvisado, mas um campo de batalha silencioso entre os dois.

Pedro estava encostado na parede, os braços cruzados, como se tivesse todo o tempo do mundo. Vestia calça esportiva e camiseta cinza que colava ao corpo, revelando músculos que ele provavelmente nunca se preocupou em exercitar com disciplina. O cabelo ainda úmido denunciava o banho apressado.

— Pronto para apanhar outra vez? — ela perguntou, largando a mochila no chão.

— Pronto para ver se você finalmente me dá uma chance de vencer. — Ele ergueu o queixo, com aquele sorriso torto que já a irritava e, secretamente, a intrigava.

Rose suspirou, alongando os braços.

— Hoje não é sobre vencer. É sobre controlar.

— Controle nunca foi o meu forte. — Pedro caminhou até ela, ficando perto demais de propósito. — Pergunte para qualquer um.

Rose ignorou a provocação, aproximando-se com a calma de quem já previa cada jogada.

— O problema é que você confunde controle com sufocar emoções. Não é isso. É direcionar energia.

— Agora você parece minha terapeuta de novo.

— Então escute como paciente. — Rose parou à frente dele, a poucos centímetros. — Hoje vai aprender o jogo da respiração.

Pedro arqueou a sobrancelha, desconfiado.

— Isso parece mais título de livro de autoajuda.

Ela respirou fundo, paciente.

— A respiração é o centro da luta. Se controla o ar, controla o corpo. Se controla o corpo, controla a mente.

Sem esperar resposta, Rose ergueu as mãos e tocou os ombros dele, fazendo-o endireitar a postura. Pedro endureceu por dentro com o contato, mas não se moveu.

— Feche os olhos. — A voz dela saiu baixa, firme. — Apenas respire.

Ele obedeceu, ainda rindo.

— Vai me hipnotizar agora?

— Silêncio. Inspire. — Ela encostou a mão em seu peito, sentindo a expansão dos pulmões. — Segure. Agora solte devagar.

Pedro abriu os olhos, encarando-a.

— Você não percebe o que está fazendo, não é?

— Estou ensinando. — Rose manteve o tom profissional, mas o olhar não conseguia disfarçar o calor do momento.

— Está me deixando vulnerável. — A voz dele saiu grave, arrastada. — E eu odeio me sentir assim.

— Vulnerabilidade não é fraqueza. — Rose aproximou-se mais, o rosto tão perto que a respiração dele roçava sua pele. — É onde a força nasce.

Por um instante, o salão inteiro pareceu se calar. Pedro fechou os olhos de novo, mas dessa vez não era para seguir ordens — era para não ceder à tentação de puxá-la para perto.

Rose percebeu. Sentiu o corpo dele tremer sob sua mão, como se a luta não fosse mais contra inimigos externos, mas contra algo muito maior: o desejo.

— Concentre-se no ar — ela disse, mas a própria voz vacilou por um instante.

Pedro abriu os olhos devagar, encontrando os dela.

— Difícil… quando o ar está entre nós.

O silêncio que se seguiu foi sufocante, carregado de algo que nenhum dos dois ousava nomear.

Rose afastou a mão do peito dele, respirando fundo para recuperar a disciplina.

— Continue praticando sozinho. — Virou-se, pegando a toalha para disfarçar o rubor no rosto.

Pedro ficou parado, observando-a. Um sorriso lento surgiu em seus lábios.

— Você também perdeu o fôlego, Almeida.

Ela se virou de volta, os olhos afiados como lâmina.

— Não confunda treino com fraqueza, Nascer.

— Quem falou em fraqueza? — ele rebateu, ainda sorrindo. — Eu chamaria de química.

Rose não respondeu. Apenas retomou a posição de guarda, tentando recuperar o foco. Mas, por dentro, sabia: a linha que os separava estava cada vez mais fina.

Rose manteve a posição de guarda, como se a distância de alguns passos pudesse apagar o que acabara de acontecer. Mas não podia. O corpo ainda lembrava do calor da mão dela contra o peito dele, e Pedro parecia perceber.

— Vamos de novo — ela disse, forçando firmeza na voz. — Quero que pratique o bloqueio lateral.

Pedro ergueu as mãos lentamente, os olhos ainda cravados nos dela.

— Se você acha que vou conseguir me concentrar depois do que acabou de fazer, está enganada.

— Do que eu fiz? — Rose arqueou uma sobrancelha. — Eu só ensinei você a respirar.

— E me deixou sem ar. — Ele avançou com um movimento rápido, tentando bloquear a investida dela.

Rose desviou, mas não como antes. O toque dos braços se chocando, o choque de corpos, foi mais prolongado, como se nenhum dos dois tivesse pressa em soltar.

Ela empurrou o ombro dele para corrigir a postura, mas a mão deslizou um segundo a mais do que deveria. Pedro percebeu. Cada músculo reagiu como se fosse faísca.

— Concentre-se — ela repetiu, quase num sussurro.

— Estou tentando — ele disse, a voz baixa, rouca. — Mas você não facilita.

Rose girou, aplicando uma chave simples para derrubá-lo. Pedro perdeu o equilíbrio e caiu de costas no tatame improvisado. Antes que pudesse se levantar, ela se inclinou sobre ele para imobilizá-lo.

A respiração dela descompassada roçava o rosto dele. A mão pressionava seu peito, firme, e o joelho apoiado ao lado de seu quadril mantinha-o preso.

— Morto. — Ela sussurrou, o olhar queimando sobre o dele. — Outra vez.

Mas Pedro não se moveu. Não piscou. Apenas ergueu a mão e tocou de leve o braço dela, como se o toque fosse inevitável.

— Se é assim que eu morro, não tenho do que reclamar.

Rose congelou por um instante. O coração batia tão forte que ela tinha certeza de que ele podia ouvir. A linha invisível que vinha separando os dois parecia prestes a se romper.

O rosto de Pedro se ergueu alguns centímetros, e os lábios ficaram perigosamente próximos dos dela. O calor, o suor, o silêncio… tudo conspirava.

Ela respirou fundo, sentindo o ar ficar pesado demais.

Pedro sorriu de canto, provocador, mas havia algo diferente no olhar dele: não era só deboche. Era desejo.

— Almeida… — ele murmurou.

Rose afastou-se de repente, como se tivesse despertado de um transe. Levantou-se num salto, pegou a toalha e virou de costas.

— Treino encerrado.

— De novo? — Pedro se levantou devagar, rindo. — Você foge toda vez que eu chego perto da vitória.

— Não confunda minha disciplina com fuga. — Rose jogou a toalha nos ombros, tentando disfarçar o rubor no rosto. — A diferença entre nós é que eu sei parar na hora certa.

Pedro deu alguns passos, aproximando-se até ficar atrás dela. Não tocou, mas sua voz baixou, grave.

— E se a hora certa já tiver passado?

Rose se virou, o olhar cortante, mas havia um brilho nos olhos que negava a própria rigidez.

— Então você que se controle, Pedro. Porque eu não vou perder a cabeça.

Ele sorriu devagar, quase satisfeito com a resposta.

— Ainda.

Rose saiu do salão antes que ele pudesse dizer mais, deixando o eco da respiração ofegante dos dois preencher o espaço.

Pedro ficou sozinho, passando a mão pelos cabelos molhados de suor. Sorriu para si mesmo, um sorriso torto, quase perigoso.

— Esse jogo da respiração vai acabar me matando.

Naquela noite, Rose se jogou na cama do quarto de hóspedes, mas demorou a dormir. Cada vez que fechava os olhos, sentia de novo o peso do corpo dele sob o seu, o calor da pele, a respiração misturada.

— Controle… — murmurou, apertando o travesseiro. — Controle…

Mas pela primeira vez em muito tempo, Rose Almeida não tinha certeza se conseguiria manter a disciplina que sempre a definira.

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