O quarto estava mergulhado na escuridão, mas Pedro não dormia. Fazia muito tempo que as noites deixaram de ser refúgio; agora eram armadilhas. Deitava-se, fechava os olhos, e os fantasmas vinham como ladrões, arrancando-lhe o pouco de paz que ainda fingia ter.Virou-se na cama, os lençóis revirados pelo corpo, o peito arfando como se tivesse corrido quilômetros. O coração batia rápido demais. Na mesa de cabeceira, a foto insistia em chamá-lo. Ele tentou ignorar, mas era impossível.Com dedos trêmulos, pegou a moldura. O vidro frio contra a pele fez um arrepio percorrer-lhe a espinha. Olhou o sorriso dela — Bárbara. Cabelos longos soltos ao vento, os olhos claros iluminados pela praia ao fundo. Ao lado, ele mesmo, tão diferente do homem que era agora: jovem, confiante, iludido com a ideia de que tinha o controle de tudo.— Eu te perdi — sussurrou, apertando a foto contra o peito.O peso da lembrança foi brutal, arrastando-o para trás no tempo como uma correnteza que não se pode lutar c
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