Olívia Belmonte guardou por anos um segredo inconfessável: o filho que nasceu de uma única noite com um desconhecido, durante o pior momento de sua vida. Agora, desesperada para pagar a cirurgia que pode salvar seu menino, ela aceita um emprego como secretária de um CEO frio e implacável — sem imaginar que ele é o mesmo homem daquela noite. Ian Moretti precisa de uma noiva de fachada para cumprir as exigências de sua família e garantir sua herança. Frio, pragmático e ainda ferido por antigas traições, ele transforma o desespero de Olívia em oportunidade: propõe um contrato que resolveria os problemas de ambos. Mas há algo que nenhum contrato pode prever: o segredo que os une para sempre. Quando a farsa os arrasta para os salões da alta sociedade e para a mira de quem mais quer destruí-los, Olívia precisa decidir se ainda pode esconder a verdade. E Ian vai descobrir que há limites para o controle — principalmente quando o maior risco não é perder a herança, mas entregar o coração.
Ler maisIan Moretti girava o anel entre os dedos. O ouro refletia a luz do restaurante caro, mas nada brilhava tanto quanto o desprezo nos olhos de Carolina.
— Você só pode estar brincando — ela disse, tomando um gole de vinho e encostando a taça na mesa com força, um sorriso incrédulo no rosto. — Eu? Fingir ser sua noiva de fachada? Está louco.
Ian manteve a expressão gelada. A sua frieza natural de sempre.
— Pensei que você fosse mais prática. Afinal, ganhamos todos se jogarmos juntos.
Ela soltou um riso curto e cruel, os cabelos loiros caindo em suas costas.
— Eu me venderia por muita coisa, Ian, mas não para te ajudar. E um conselho? Cresça. Avise ao seu avô que jamais me verá de branco ao seu lado.
Ele respirou fundo, o maxilar pulsando. Quando ela se levantou, pegou a bolsa e se inclinou para ele com um sorriso venenoso.
— Arrume alguém mais tola.
Ian fechou os olhos por um instante, tentando conter a raiva. O desprezo dela queimava como ácido. Não conseguia engolir a recusa de alguém tão desprezível quanto aquela mulher.
Quando ele voltou a abrir os olhos, percebeu o garçom vindo. Não, não era o garçom. Era a garçonete.
Ela equilibrava uma bandeja de drinks com cuidado, o rosto cansado, mas orgulhoso. E havia algo naquele olhar, dignidade, firmeza que o desarmou por um segundo.
Ele não pensou. Apenas esticou o braço e agarrou o pulso dela.
— Oi? — ela protestou, surpresa.
Ian se levantou.
— Esta aqui. — Sua voz soou cortante. — Esta é minha noiva.
A garota arregalou os olhos, chocada.
— Eu não... o que... Você! — arfou, reconhecendo o rosto dele como um fantasma do passado.
Mas Ian não pareceu perceber ou se importar. Virou-se para o salão lotado. Os flashes já se acendiam, os murmúrios cresciam. Tudo fazia parte do plano que dera errado com Carolina, mas agora tinha outro rosto ao seu lado.
Ele a puxou pela cintura.
— Sorria. — sussurrou no ouvido dela, frio como gelo. — Me faça esse favor hoje.
Ela tentou se soltar, o coração disparado.
— Eu não te conheço! — Uma mentira. Ela o conhecia melhor do que queria.
— Nem eu você. — Ele sorriu, falso. — Mas hoje você é minha noiva.
Ela sequer tivera tempo para processar tudo que se passou nos minutos seguintes. Foi tudo muito rápido, mas foi o suficiente para arruinar o fim do expediente daquela mulher.
E assim terminou a noite mais humilhante da vida dela sob os flashes das câmeras, os risos cruéis de Carolina, e a mão dele firme em sua cintura como se fosse dono dela.
Ela saiu do restaurante com o rosto em fogo, o estômago embrulhado. Passou o resto da madrugada sentada na beira da cama, encarando o nada. Relembrava cada palavra, cada clique de câmera, cada olhar invasivo. Tentou chorar, mas nem isso conseguiu.
Quando o sol finalmente nasceu, trouxe mais do que cansaço. Trouxe a realidade nua e crua: não havia mais tempo para chorar.
Por conta de sua noite mal dormida e a cabeça completamente atordoada, naquela manhã, Olívia Belmonte estava atrasada.
O blazer amarrotado, a saia torta, o cabelo preso de qualquer jeito. Respirou fundo antes de entrar no saguão imponente da empresa Moretti. Era o primeiro dia. A única chance que tinha.
“Preciso segurar esse emprego. Preciso do empréstimo para a cirurgia do Leo”, repetia como um mantra.
Na recepção, pegou o crachá de “secretária júnior” e subiu para o andar indicado. O coração batia descompassado.
Quando abriu a porta do escritório do CEO, congelou.
O mesmo homem da noite anterior estava lá, o “noivo” improvisado, o estranho que arruinara o pouco de dignidade que lhe restava.
Ian Moretti ergueu os olhos e parou ao vê-la.
— Você. — Ele se levantou devagar, o olhar afiado.
Olivia engoliu em seco. Os dedos tremiam sobre o relicário no pescoço.
— Eu... Você... — gaguejou, lutando para se recompor. — Você é o senhor Moretti?
Ian avançou um passo, os olhos faiscando.
— E você é a garçonete. — Não era uma pergunta. — O que está fazendo aqui?
Ela apertou o caderno contra o peito, mordendo o interior da bochecha até sentir o gosto de sangue.
— Meu nome é Olívia. Serei sua nova secretária. Passei na entrevista na última semana e hoje é o meu primeiro dia.
Ele a analisou de cima a baixo, um riso descrente escapando.
— Que ótimo. — Passou a mão no rosto. — Ótimo.
Ela respirou fundo, o estômago revirado. Em outra situação, teria fugido sem olhar para trás. Mas não podia. Não quando a vida de Leo dependia desse salário.
— Eu só quero trabalhar. Por favor. — Sua voz saiu trêmula. — Prometo esquecer o que aconteceu ontem.
Ian suspirou, parecendo ponderar. Mas um brilho cruel já surgia em seu olhar.
— Você tem filhos?
Olívia congelou. O estômago revirou como sempre que ouvia essa pergunta em entrevistas.
Ela já sabia o roteiro: entrevistadores que balançavam a cabeça, que diziam “não parece o perfil ideal”, que a recusavam antes mesmo de avaliar seu currículo.
Eram sempre as mesmas desculpas veladas: “Mãe solteira, não vai ter tempo. Vai faltar. Não é confiável.”
Ela hesitou. Os dedos tremeram sobre o caderno. Pensou em mentir, mas não podia. Não quando era por ele, pelo Leo.
— Um. — sussurrou.
Por um instante, preparou-se para ouvir o “sinto muito”.
Mas Ian não disse nada disso. Ele apenas ficou olhando para ela, em silêncio.
Até que um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios.
— Que bom. — murmurou, arrastado.
Ela franziu o cenho, confusa. “Que bom?” Ninguém nunca tinha dito isso antes.
Antes que pudesse perguntar, ele se inclinou para a frente, a voz ficando baixa, ameaçadora.
Olívia prendeu o fôlego, o coração disparando. Não sabia o que a assustava mais: o que ele diria... ou o modo como a fitava. O mesmo rosto de seis anos atrás.
O silêncio depois da pergunta de Nicolau era quase sagrado, como o segundo antes da tempestade.Olivia sentia o olhar de Nicolau sobre ela como um raio dissecando a pele. Ian ao lado estava tenso, quase imóvel. E Benjamin... Benjamin sorria como quem esperava pela queda.Ela respirou fundo. Levantou o queixo. Cada célula do seu corpo gritava para correr, mas ela ia não mais.— É isso mesmo, Olivia? — Nicolau repetiu, com o garfo ainda suspenso no ar. — Você tem um filho?Ela demorou um segundo para respirar. O sangue zunia no ouvido. Não pela pergunta em si, mas por quem estava ali, observando. Benjamin sorria com a boca, mas os olhos diziam outra coisa. Clara, quieta, como uma cobra aguardando o bote. Ian, em suspenso. Esperando.Olivia pousou o guardanapo com calma no colo. Ajeitou as mangas do vestido e respondeu com uma frieza que atravessou a sala.— Tenho.Clara soltou uma risadinha de escárnio. Benjamin cruzou os braços triunfante.— E onde está o pai dessa criança? — Nicolau f
A confirmação veio uma hora depois. A assistente do hospital ligou, a voz seca e objetiva:— O pagamento foi feito pela manhã. Valor integral. Com prioridade de urgência.Olivia ficou um segundo em silêncio, o celular ainda colado ao ouvido. A informação afundou como pedra.Então Ian tinha pago antes mesmo da conversa. Antes da chantagem.Ou seja: ele só queria ver até onde ela iria. Se iria continuar fazendo sua parte naquele maldito acordo.Aquilo doeu mais do que qualquer ofensa. Ian tratava a saúde de Leo como cláusula contratual. E ela… aceitou. Não sabia mais o que deveria esperar daquele homem.Mas agora, nada mais importava. Porque ele estava acordado.No quarto, o cheiro de desinfetante com lavanda ainda revirava o estômago, mas Olivia nem sentia. Leo estava desperto. Os olhos pequenos, negros, piscando devagar sob as pálpebras inchadas.— Mamãe?A voz dele saiu fraca, mas viva. Os olhos pequenos e negros se abriram devagar, e ele sorriu do jeitinho torto de sempre. Olivia s
Olivia ficou parada no jardim, o ar gelado da noite fazendo seu corpo se arrepiar. As luzes da festa brilhavam atrás dela, mas tudo parecia distante, como se um túnel se formasse entre ela e o resto do mundo. O sangue pulsava forte nas têmporas, e o gosto de raiva, amargo e incontrolável, a fazia engolir em seco.Clara havia ido embora com Benjamin, mas o estrago estava feito. A mentira deles agora tinha nome, roupa cara e olhos de serpente. Olivia sabia que a mulher faria de tudo para convencer Benjamin a usar aquilo como arma contra ela.Mas, bem... eles não sabiam que Olivia já estava no meio do jogo deles.“Se eles mentem... eu escolho quando expor.”O pensamento se repetia, virando mantra. Ela não era mais a mulher que fugia de confrontos. Não hoje. Mas não seria a que criaria um escândalo ali, na festa. Ainda não.Essa verdade seria exposta na hora certa. No palco certo.Com passos rápidos, ela voltou para dentro da mansão.Encontrou Ian perto do bar, sem o paletó, com as mangas
Antes mesmo que Olivia alcançasse Clara, a mulher já se afastava, como se sentisse a fúria que se aproximava por trás.O salto de Clara ecoava no mármore do corredor lateral. Marchava como se estivesse entrando em cena no próprio espetáculo. Quadris rígidos. Queixo alto. Postura de rainha de mentira.Olívia agarrou uma taça deixada na bandeja de um garçom, virou o conteúdo de uma vez, ignorou os olhares curiosos e foi atrás.O corredor dava em um jardim lateral. Um quadrado de grama recortada milimetricamente, cercado por jasmins e lâmpadas pendentes. Uma mulher sentada mexia no celular, mas não prestava atenção em nada.Clara estava ali. Perto da fonte. De costas, retocando o batom no espelhinho. Como se estivesse posando para uma revista.— Vai fazer pose pra sua mentira também? — Olivia falou baixo, mas com veneno suficiente pra cortar o ar.Clara parou. Respirou fundo. Mas não se virou. Era como se Olivia nem merecesse a sua atenção, o seu olhar.— Você me seguiu?— Você não devia
Clara não deveria estar ali.Mas estava. Bem ali. De pé na entrada do salão, como se fosse dona do lugar. Ombros retos, sorriso pronto, olhos percorrendo tudo com calma de predadora.Olivia a reconheceu no segundo em que o salto tocou o mármore. Nem precisou ver o rosto: bastava a maneira como andava. Como quem sempre soube onde pisa, mesmo quando pisa em cima dos outros.O perfume doce veio primeiro. A lembrança depois.As risadas abafadas vindas do próprio quarto. O som do zíper sendo fechado com pressa quando ela abriu a porta e encontrou ela. Clara, de lingerie, ajeitando o cabelo com a cara mais calma do mundo, sem pressa, sem culpa.Tudo voltou. E voltou no meio daquela maldita festa.Clara parou perto do bar. Pegou uma taça como se estivesse em casa. Olhou ao redor, procurando alguém com os olhos. Encontrou. Não Benjamin. Mas Olívia.Quando os olhos delas se cruzaram, não foi surpresa. Foi um aviso. Como se soubesse que encontraria Olivia ali. Olivia deu um passo atrás. O peit
Aquela noite não acabava nunca.Olivia sorria porque precisava, não porque conseguia. Cada passo ao lado de Ian parecia ensaiado, como uma peça mal dirigida.O salão ainda estava cheio demais. Luzes refletindo no mármore, taças tilintando, risadas misturadas com música de fundo. Mas tudo que ela sentia era o peso quente do olhar de Benjamin queimando sua nuca.Ela não olhava. Não podia. Se olhasse, cairia ali mesmo. Sentia o ar carregado, grudando na garganta como fumaça. E a sensação de que estava correndo de um passado que comprou ingresso para o seu presente fazia tudo latejar.Benjamin. Ali. De novo. Como um vulto saído das ruínas. Como um erro que não morreu. Um fantasma que ela jurava ter enterrado.— Você está bem? — Ian quebrou o barulho todo com a voz baixa, rente ao ouvido dela.Olivia piscou, ajeitou o rosto num sorriso rápido.— Cansada, só isso. A noite foi longa.Ian assentiu devagar. Mas os olhos... aqueles olhos não largavam o rosto dela. Olhar dele nunca era olhar. Er
Último capítulo