Mundo ficciónIniciar sesión"— Seja minha noiva de mentira. Em troca, pago o tratamento do seu filho." A proposta soava como ironia cruel: o pai da criança oferecendo dinheiro para salvar a vida do próprio filho — sem nem ao menos saber disso. Olívia sentiu raiva, mas logo percebeu: Ian Moretti, o homem mais rico e temido da cidade, não fazia ideia de que aquela única noite havia lhe dado um herdeiro. "— Aceito. — ela respondeu, com a voz firme." Um filho inesperado. Um acordo impensável. E um segredo capaz de mudar tudo. Afinal, quando Ian descobriria que a maior mentira era justamente a que os unia?
Leer másIan Moretti girava o anel entre os dedos. O ouro refletia a luz do restaurante caro, mas nada brilhava tanto quanto o desprezo nos olhos de Carolina.
— Você só pode estar brincando — ela disse, tomando um gole de vinho e encostando a taça na mesa com força, um sorriso incrédulo no rosto. — Eu? Fingir ser sua noiva de fachada? Está louco.
Ian manteve a expressão gelada. A sua frieza natural de sempre.
— Pensei que você fosse mais prática. Afinal, ganhamos todos se jogarmos juntos.
Ela soltou um riso curto e cruel, os cabelos loiros caindo em suas costas.
— Eu me venderia por muita coisa, Ian, mas não para te ajudar. E um conselho? Cresça. Avise ao seu avô que jamais me verá de branco ao seu lado.
Ele respirou fundo, o maxilar pulsando. Quando ela se levantou, pegou a bolsa e se inclinou para ele com um sorriso venenoso.
— Arrume alguém mais tola.
Ian fechou os olhos por um instante, tentando conter a raiva. O desprezo dela queimava como ácido. Não conseguia engolir a recusa de alguém tão desprezível quanto aquela mulher.
Quando ele voltou a abrir os olhos, percebeu o garçom vindo. Não, não era o garçom. Era a garçonete.
Ela equilibrava uma bandeja de drinks com cuidado, o rosto cansado, mas orgulhoso. E havia algo naquele olhar, dignidade, firmeza que o desarmou por um segundo.
Ele não pensou. Apenas esticou o braço e agarrou o pulso dela.
— Oi? — ela protestou, surpresa.
Ian se levantou.
— Esta aqui. — Sua voz soou cortante. — Esta é minha noiva.
A garota arregalou os olhos, chocada.
— Eu não... o que... Você! — arfou, reconhecendo o rosto dele como um fantasma do passado.
Mas Ian não pareceu perceber ou se importar. Virou-se para o salão lotado. Os flashes já se acendiam, os murmúrios cresciam. Tudo fazia parte do plano que dera errado com Carolina, mas agora tinha outro rosto ao seu lado.
Ele a puxou pela cintura.
— Sorria. — sussurrou no ouvido dela, frio como gelo. — Me faça esse favor hoje.
Ela tentou se soltar, o coração disparado.
— Eu não te conheço! — Uma mentira. Ela o conhecia melhor do que queria.
— Nem eu você. — Ele sorriu, falso. — Mas hoje você é minha noiva.
Ela sequer tivera tempo para processar tudo que se passou nos minutos seguintes. Foi tudo muito rápido, mas foi o suficiente para arruinar o fim do expediente daquela mulher.
E assim terminou a noite mais humilhante da vida dela sob os flashes das câmeras, os risos cruéis de Carolina, e a mão dele firme em sua cintura como se fosse dono dela.
Ela saiu do restaurante com o rosto em fogo, o estômago embrulhado. Passou o resto da madrugada sentada na beira da cama, encarando o nada. Relembrava cada palavra, cada clique de câmera, cada olhar invasivo. Tentou chorar, mas nem isso conseguiu.
Quando o sol finalmente nasceu, trouxe mais do que cansaço. Trouxe a realidade nua e crua: não havia mais tempo para chorar.
Por conta de sua noite mal dormida e a cabeça completamente atordoada, naquela manhã, Olívia Belmonte estava atrasada.
O blazer amarrotado, a saia torta, o cabelo preso de qualquer jeito. Respirou fundo antes de entrar no saguão imponente da empresa Moretti. Era o primeiro dia. A única chance que tinha.
“Preciso segurar esse emprego. Preciso do empréstimo para a cirurgia do Leo”, repetia como um mantra.
Na recepção, pegou o crachá de “secretária júnior” e subiu para o andar indicado. O coração batia descompassado.
Quando abriu a porta do escritório do CEO, congelou.
O mesmo homem da noite anterior estava lá, o “noivo” improvisado, o estranho que arruinara o pouco de dignidade que lhe restava.
Ian Moretti ergueu os olhos e parou ao vê-la.
— Você. — Ele se levantou devagar, o olhar afiado.
Olivia engoliu em seco. Os dedos tremiam sobre o relicário no pescoço.
— Eu... Você... — gaguejou, lutando para se recompor. — Você é o senhor Moretti?
Ian avançou um passo, os olhos faiscando.
— E você é a garçonete. — Não era uma pergunta. — O que está fazendo aqui?
Ela apertou o caderno contra o peito, mordendo o interior da bochecha até sentir o gosto de sangue.
— Meu nome é Olívia. Serei sua nova secretária. Passei na entrevista na última semana e hoje é o meu primeiro dia.
Ele a analisou de cima a baixo, um riso descrente escapando.
— Que ótimo. — Passou a mão no rosto. — Ótimo.
Ela respirou fundo, o estômago revirado. Em outra situação, teria fugido sem olhar para trás. Mas não podia. Não quando a vida de Leo dependia desse salário.
— Eu só quero trabalhar. Por favor. — Sua voz saiu trêmula. — Prometo esquecer o que aconteceu ontem.
Ian suspirou, parecendo ponderar. Mas um brilho cruel já surgia em seu olhar.
— Você tem filhos?
Olívia congelou. O estômago revirou como sempre que ouvia essa pergunta em entrevistas.
Ela já sabia o roteiro: entrevistadores que balançavam a cabeça, que diziam “não parece o perfil ideal”, que a recusavam antes mesmo de avaliar seu currículo.
Eram sempre as mesmas desculpas veladas: “Mãe solteira, não vai ter tempo. Vai faltar. Não é confiável.”
Ela hesitou. Os dedos tremeram sobre o caderno. Pensou em mentir, mas não podia. Não quando era por ele, pelo Leo.
— Um. — sussurrou.
Por um instante, preparou-se para ouvir o “sinto muito”.
Mas Ian não disse nada disso. Ele apenas ficou olhando para ela, em silêncio.
Até que um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios.
— Que bom. — murmurou, arrastado.
Ela franziu o cenho, confusa. “Que bom?” Ninguém nunca tinha dito isso antes.
Antes que pudesse perguntar, ele se inclinou para a frente, a voz ficando baixa, ameaçadora.
Olívia prendeu o fôlego, o coração disparando. Não sabia o que a assustava mais: o que ele diria... ou o modo como a fitava. O mesmo rosto de seis anos atrás.
Aquele beijo foi como acender um pavio que ambos vinham tentando evitar. Quando seus lábios se encontraram, algo primal despertou entre eles. Matheus não a beijou com pressa, mas com uma deliberação devastadora, como se cada movimento de seus lábios fosse uma pergunta que só seu corpo poderia responder.Ele a levantou nos braços como se ela não pesasse nada, seus músculos firmes contra seu corpo, e a carregou até o sofá sem quebrar o beijo. — Me deixa ver você — ele sussurrou, sua voz rouca contra seus lábios. Suas mãos subiram pela camiseta, encontrando a pele quente de sua cintura. — Dessa vez, vou te lembrar por que não consegue me esquecer.Carla respondeu puxando a camisa dele por sobre a cabeça, revelando um torso musculoso marcado por cicatrizes discretas, histórias que ela ainda não conhecia. Seus dedos traçaram os contornos de seus músculos enquanto ele desabotoava seu jeans com mãos surpreendentemente habilidosas.— Você é tão linda quando para de pensar. — ele murmurou, be
O sol da manhã dançava através das janelas da casa de Carla, projetando padrões dourados que se moviam lentamente pelo chão de madeira. A luz parecia zombar de seu estado interior; enquanto o mundo exterior brilhava com promessas de um novo dia, ela permanecia presa nos vestígios emocionais da noite anterior. Ainda vestindo a mesma camiseta larga e com o cabelo preso em um coque desleixado, Carla se movia pela casa como um fantasma em seu próprio espaço.Quando a campainha tocou, seu primeiro instinto foi ignorar, talvez quem quer que fosse desistisse e a deixasse em sua solidão autoimposta. Mas o som persistente ecoou pelo apartamento, cada toque uma agulha de ansiedade penetrando em sua já frágil compostura.Ao abrir a porta, o ar pareceu sair de seus pulmões de uma vez só.Matheus.Ele estava parado no corredor, não como o segurança profissional que ela conhecia, mas como um homem cuja postura rígida não conseguia completamente esconder a tensão que habitava seus ombros. Suas mãos
Sobre os vidros do alto prédio do hotel, a cidade se estendia como um tapete de luzes cintilantes, completamente alheia ao turbilhão emocional que consumia Ian. Ele mantinha o vidro do carro bem fechado, mas criando uma fenda perfeita para observar sem ser visto. Como um espectro em seu próprio drama, ele assistia à cena que se desenrolava no saguão em frente.Lá estavam eles. Olívia, com seu cabelo escuro preso de qualquer maneira, falava com Helena enquanto tentava manter um sorriso no rosto. Mas Ian conhecia aquele sorriso; era o mesmo que ela usava quando estava prestes a desmoronar, quando as paredes que erguia para proteger os outros começavam a rachar. Um sorriso trêmulo, cheio de fendas por onde a dor escapava.E Léo. Seu filho. O menino balançava as pernas despreocupadamente na cadeira do saguão, seus olhos curiosos seguindo o movimento constante do hotel. Cada gesto, cada expressão, era uma revelação dolorosa e maravilhosa.Foi quando Léo riu de algo que Helena disse que al
O sol da manhã filtrou-se pelas frestas das cortinas como um intruso gentil, pintando faixas douradas no chão do quarto de Carla. Cada raio de luz parecia uma zombaria cruel do turbilhão que habitava o peito de Olívia. Ela permaneceu diante do espelho por tempo suficiente para que seu reflexo começasse a parecer o de uma estranha, uma mulher com seus traços, mas com olhos de alguém que havia envelhecido décadas em uma única noite.Sua mão trêmula segurava a escova de cabelo sem realmente usá-la. Cada movimento parecia exigir uma energia que ela não possuía. Como poderia transformar essa mulher pálida, com olheiras roxas e mãos trêmulas, em alguém capaz de enfrentar a tempestade que se aproximava? Ela tentou puxar os ombros para trás, endireitar a postura, mas o peso em seu peito a mantinha curvada.— Por Léo — sussurrou para seu reflexo, as palavras saindo como uma prece secular. — Tudo por ele.Do quarto ao lado, o som que tanto amava chegou até ela, o riso despreocupado de Léo, tão
O quarto de hóspedes na casa de Carla estava mergulhado em penumbra. O abajur deixava um círculo tênue de luz sobre a cama onde Léo dormia, respirando de forma tranquila, alheio ao caos que devastava o mundo de sua mãe. Olívia estava sentada no chão, encostada na parede, as pernas recolhidas contra o peito. As lágrimas haviam parado, mas o rosto ainda estava manchado, e os olhos, vermelhos, denunciavam horas de choro contido.Cada vez que olhava para o filho, o coração se partia mais um pouco. Ele dormia tão sereno, tão bonito, e ela só conseguia pensar que Ian, o homem que mais amou e mais a destruiu, agora sabia. Sabia de tudo.E com isso, podia tirar tudo.Carla apareceu à porta, silenciosa, trazendo uma xícara de chá. Parou, hesitando diante da cena: Olívia no chão, os dedos entrelaçados, o olhar perdido no menino. Colocou a xícara na mesinha e se aproximou devagar.— Você precisa dormir um pouco.— Não consigo — murmurou Olívia, sem erguer os olhos.Carla se abaixou ao lado dela.
O silêncio pairou entre eles como uma sentença, pesado e absoluto. Por um instante desorientador, Olívia questionou se seus ouvidos a traíam, se o sangue pulsando em suas têmporas havia inventado aquelas palavras. Até o vento noturno pareceu conter a respiração, deixando apenas o som fantasma de suas batidas cardíacas aceleradas.— O quê? — Ela se virou lentamente, como se movendo através de um sonho pesado. — Matheus, repete o que você acabou de dizer.Ele a encarou, as mãos cravadas nos bolsos do casaco, a postura rígida. Seu rosto mantinha a impassibilidade profissional de sempre, mas Olívia, que aprendera a ler as nuances mínimas de sua expressão, captou um brilho de desconforto nos olhos dele, uma sombra de culpa que ele rapidamente suprimiu.— Você ouviu perfeitamente, Olívia — ele respondeu, a voz baixa, mas incrivelmente clara na quietude da noite. — Ian quer ver o Léo. Sozinho.O mundo pareceu inclinar sob seus pés. — Não — a palavra saiu como um reflexo, um instinto viscera





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