O salão estava lotado. Gente elegante, taças reluzentes, garçons deslizando como sombras silenciosas.
Olívia parou na entrada por um segundo, sentindo o pânico subir pela garganta. Luzes douradas dançavam sobre os espelhos, e a música suave não abafava os sussurros. Ela ajustou o vestido alugado e respirou fundo. Não estava ali para impressionar. Só para concluir. Entrar, fazer o necessário e sair. “Por Leo. Só por Leo.” Olhou em volta, procurando Ian. Quando o viu perto do bar, cercado por dois homens de terno escuro, sentiu um leve arrepio. Ele também a viu. E não disfarçou. Caminhou até ela com passos firmes, o olhar varrendo seu corpo de cima a baixo. Não era desejo. Era avaliação. — Está... apresentável. — comentou, sem emoção. — Vem comigo. Ela sentiu a garganta apertar com o comentário, como se fosse reduzida a uma peça de roupa. Cerrou os dentes para não responder e apenas assentiu, caminhando ao lado dele, tentando não tropeçar nos saltos desconfortáveis. — Quanto tempo eu preciso ficar aqui? — perguntou em voz baixa. — Leo está no hospital, Ian. Eu quero cumprir o que for necessário e ir embora. — Você precisa conversar com meu avô. — ele respondeu. — E parecer convincente. — O que exatamente ele quer ver? Ian parou diante de uma mesa ornamentada e serviu duas taças de champanhe. Entregou uma a ela sem olhar. — Meu avô, Nicolau Moretti, controla parte dos fundos da empresa. Ele não confia em mim. Acha que sou irresponsável demais pra liderar o império que ele construiu. Ela franziu o cenho, tomando um gole pequeno da bebida, apenas para ocupar as mãos. — E você acha que trazer uma noiva muda isso? — Não uma noiva qualquer. Uma mulher "de verdade", estável, dedicada, que me "equilibra". Uma imagem de família. Ele valoriza isso mais que lucros. Ela mordeu o lábio. Fazia sentido. Um homem como Ian não precisava de amor, precisava de narrativa. — Então essa é a sua chance de provar que amadureceu? — ela perguntou, seca. — Arranjando uma noiva falsa? Ele inclinou a cabeça, sorriu com um canto da boca. — Você entende rápido. É por isso que escolhi você. Olívia sentiu a raiva subir com seu sarcasmo, mas engoliu. — O que eu preciso dizer pra ele? — ela quis saber, só desejando acabar com aquilo o mais rápido possível. — Pouco. Seja educada. Sorria. Não erre. — Ian começa. — Diga que estamos noivos há três meses. Que me conheceu por acaso. E que vai se mudar comigo em breve. O resto eu cuido. Ela assentiu, apertando a taça com força. Um tremor percorreu seus dedos. Que papel tosco ela estava se prestando passar. — E depois disso, posso ir? — ela pergunta, ansiosa. — Depende. Se ele gostar de você, talvez precise ficar até o fim da festa. — Ele se inclinou um pouco. — E ah, você precisa sorrir quando estiver do meu lado também. Obedecer em público. Foi o que assinamos, lembra? Ela engoliu em seco e com uma careta, forçou um sorriso. — E se ele não gostar de mim? — ela finalmente pergunta. — Aí perdemos tudo. E você... bem, volta pra estaca zero. — ele diz com a maior franqueza e frieza do mundo. Antes que ela respondesse, Ian fez sinal com a cabeça. Um senhor de cabelos brancos, terno impecável e bengala de madeira se aproximava. Os olhos eram duros como gelo. Não sorria. Ela sentiu um frio repentino nas mãos. Nicolau Moretti era ainda mais imponente do que imaginara. — Nicolau Moretti — disse Ian, com formalidade. — Gostaria de apresentar: Olivia Belmonte. Minha noiva. O velho a encarou por longos segundos, em silêncio absoluto, apenas analisando-a, o que deixou Olivia completamente desconfortável e deslocada. Sentiu o suor frio escorrer pelas costas. As palavras de Ian martelavam na cabeça dela: “Sorria. Seja educada. Não erre.” Mas a língua dela parecia presa, porque um movimento em falso e tudo ruiria. Então, finalmente, ele falou: — Hum. Vamos ver se você vale o que ele está apostando. Olívia sorriu o melhor que pôde, mantendo a postura ereta, mesmo que por dentro estivesse desmoronando. — Boa noite, senhor. É uma honra. — A honra será minha se você provar que é diferente das outras. — Ele a olhou de cima a baixo, avaliando não só sua aparência, mas sua compostura. — Gosto de gente que sabe onde pisa. Ian manteve a expressão firme ao lado dela, mas a tensão era evidente. Tudo estava em jogo. — Tenho ouvido histórias... — continuou Nicolau, tomando um gole da própria taça. — De garotas interesseiras, de escândalos discretos. Mas ele me disse que você é diferente. Que trabalha. Que é discreta. Que não veio por dinheiro. Enquanto Nicolau falava, tudo o que ela queria era checar o celular. Ver se o hospital havia ligado. Saber se Leo havia acordada. Mas ali, ela tinha que sorrir. Fingir que estava feliz. Quando ele finalmente parou de falar, Olivia mal piscava. Cada palavra soava como um teste. Respirou fundo, lembrando do rosto de Leo entubado na UTI. — Eu vim apenas por ele. — respondeu, com calma firme, enquanto olhava para Ian. — E porque acredito no que estamos construindo. Nicolau deu um leve sorriso de canto. O primeiro. Então olhou para Ian. — Talvez você finalmente tenha aprendido. Antes que alguém pudesse responder, ele apontou com a bengala para uma mesa à frente. — Sente-se conosco. Quero ver como vocês se comportam juntos. Ela caminhou com Ian até a mesa, os olhos de vários convidados os seguindo. Olivia sentia-se em uma vitrine. A cada passo, mais leve ficava sua taça, mais pesado seu peito. Sentaram-se, e Nicolau ocupou a ponta da mesa. Outros familiares começaram a se aproximar, e Olivia sorriu para cada um com educação ensaiada. Mas sua mente não parava de correr. "Será que Leo já acordou? Será que está melhor? Será que o hospital tentou ligar?" A mão tremia ao segurar o celular escondido no colo, apenas verificando a tela bloqueada. Nenhuma notificação. — Está tudo bem? — Ian sussurrou entre dentes, sem sorrir. — Não. Mas ninguém aqui precisa saber disso. — ela respondeu, num sussurro seco. Ele ergueu a sobrancelha por um instante. Depois, apenas brindou com um desconhecido e virou o rosto para o lado. Olivia manteve o sorriso, a postura, o roteiro. Mas por dentro, tudo nela gritava para fugir. "Termina logo. Por favor. Só termina logo." Mas algo em Nicolau a deixava alerta. Aquela não era só uma festa. Era uma triagem. Um teste de valor. Um julgamento disfarçado de celebração. E agora Olivia sabia. Não era Ian quem tinha o controle de todas as decisões ali, mas aquele homem que estendia sua mão até ela. E ela ainda teria que sorrir. Mesmo com o coração partido. Mesmo com o medo gritando. Mesmo sem saber se o filho acordaria no dia seguinte.