Capítulo 3

O corredor do hospital parecia mais longo do que nunca. Cada passo de Olívia ecoava como um aviso, como se o próprio chão soubesse que ela estava à beira do colapso.

Ela correu. Esbarrou em uma maca, deixou a bolsa cair, nem parou para pegar direito. O suor escorria pelas costas apesar do ar-condicionado glacial. O coração parecia bater fora do peito.

— Senhora Belmonte? — a voz do Dr. Ernesto veio da porta da emergência pediátrica assim que ela parou.

Ela congelou. O corpo inteiro em alerta, puxava o ar com força para dentro do peito. Cada segundo parecia mais difícil respirar.

— Ele piorou? — arfou, com os olhos arregalados, suas mãos tremiam.

O médico assentiu com um suspiro pesado, e no mesmo instante, uma lágrima silenciosa desceu dos olhos de Olivia.

— O quê... — sua voz saiu em um murmúrio, a garganta doía enquanto ela tentava segurar o choro.

 O médico viu o desespero em seus olhos, e empurrando os óculos para cima no nariz, ele respondeu:

— O estado de Leo se agravou. Ele precisa ser internado agora. A infecção se espalhou, e o quadro está instável.

— Mas vocês vão cuidar dele, não vão? — A voz dela saiu quase infantil, como se pedir com jeitinho fizesse diferença. — Por favor, ele precisa...

O médico a interrompeu quando percebeu a dor na voz dela.

— Vamos cuidar dele. Já estamos iniciando os procedimentos. Mas, Olívia... o hospital exige uma entrada. Vinte mil reais.

Vinte mil.

As palavras bateram nela como um tapa. O ar fugiu dos pulmões. As pernas amoleceram. Como arranjaria tanto em tão pouco tempo?

— Eu... eu não tenho isso. — ela sussurra e quase ouve os cacos do seu próprio coração se despedaçando em seu peito.

O médico pressionou os lábios, e ele estava prestes a dizer que sentia muito, que já não havia mais nada a ser feito. Foi quando Olivia o interrompeu.

— Mas... mas eu consigo. Dou um jeito. Eu dou. Eu juro. — ela afirma, com uma convicção cega.

O médico assentiu, mas sua expressão era clara: o tempo estava contra eles.

— Quanto antes, melhor. Cada hora faz diferença. — ele conclui.

Ela só conseguiu assentir com a cabeça e se afastar. As luzes do hospital pareciam mais fortes. O branco, mais cruel. As palavras, martelando: vinte mil reais... agora.

No calor do seu desespero, Olivia tenta mais uma vez recorrer a um empréstimo. Ela correu até a agência bancária que ficava localizada em frente ao hospital, os dedos suados tentando segurar os documentos. Na fila, mal conseguia ficar de pé.

— Atendimento seguinte — disse o atendente, sem olhar nos olhos dela.

Ela passou os papéis. RG, extratos, comprovantes. E o laudo médico de Leo, amassado, com as bordas dobradas. Já havia entregado aqueles documentos tantas vezes que já sabia do procedimento de cor.

— Estou tentando um empréstimo. Urgente. Meu filho está internado no hospital aqui em frente.

O atendente digitou no sistema por alguns segundos. O silêncio era um aviso.

— Infelizmente, sua solicitação foi negada. Seu score está muito abaixo do necessário. Não temos margem.

— Mas... é meu filho. Ele precisa operar! Ele pode... — a voz falhou. — Ele pode morrer!

— Senhora... eu entendo. Mas não posso fazer nada.

Ela sentiu os olhos de todos na fila. Gente olhando. Gente julgando. Ela empurrou os papéis de volta pra dentro da pasta, quase os rasgando, e saiu.

O céu estava nublado quando ela parou na calçada, sem saber pra onde ir. O som dos carros parecia distante, abafado. A respiração curta. O coração descompassado.

“Vinte mil reais.”

“Nenhum crédito.”

“Leo... está piorando.”

Ela se sentou em um ponto de ônibus, a cabeça baixa, os cotovelos nos joelhos. O blazer suado, o rosto inchado. Olhou para as próprias mãos e as viu tremerem, enquanto suas próprias lágrimas molhavam as palmas.

Você faria qualquer coisa para manter esse emprego?” A voz de Ian voltou à mente como veneno.

Olivia fechou os olhos. Viu Leo tossindo, enrolado no cobertor. Ouviu o bip das máquinas. O choro dele. A febre.

E então pensou: “Pelo meu filho... talvez eu consiga aguentar isso.” E assim, ela seguiu em frente.

A recepcionista da Moretti Inc. arregalou os olhos ao vê-la de volta.

— A senhorita... voltou?

Ela estava surpresa. Provavelmente, não eram todos os dias que alguém se demitia e voltava horas depois com o rabo entre as pernas, como ela fizera. Mas bem, nem todo mundo necessitava tanto daquele emprego quanto ela.

Por isso, Olivia apenas assentiu para recepcionista e apertou o botão do elevador com força. O metal gelado sob seu dedo contrastava com o calor que subia do estômago.

No 20º andar, as portas se abriram e o mundo silenciou.

Ian estava em pé, de costas, ao telefone. Parou ao vê-la. Seus olhos a analisaram como quem examina um detalhe previsto. Ele desligou sem pressa.

Ela não disse "oi". Não disse "por favor". Só soltou, com a voz quase irreconhecível:

— Ainda está de pé?

Ele caminhou até a frente da mesa, com calma. Sem surpresa. Como se tivesse certeza de que ela voltaria.

— Sim. Mas agora as condições mudaram.

Ele a pasta de couro preta e empurrou em sua direção.

— Leia.

Ela abriu. Cada cláusula era um soco:

“Zero envolvimento emocional.”

“Compromisso integral de imagem pública.”

“Residência conjunta obrigatória.”

“Obediência total às regras de convivência em público.”

“Multa por quebra contratual.”

“Sigilo absoluto.”

Ela mordeu o lábio. Os olhos marejando. As letras pareciam distantes.

— Isso... isso é uma prisão.

— É um contrato. Você disse que faria qualquer coisa. E bem, você quem veio pedir agora, não?

Olivia baixou os olhos, se odiava por aquilo. Se sentia envergonhada, humilhada.

— Isso aqui não é trabalho. Isso aqui é um teatro doentio. — ela murmura, passando os olhos pelas diversas cláusulas.

— Um teatro que pode salvar seu filho. — Ian diz. Curto, direto e cruel.

O silêncio caiu como um veredicto diante das palavras dele.

Ela fechou os olhos, respirou fundo. Por um instante, tudo ficou em branco. Nenhum som. Nenhum rosto. Só Leo.

E com aquela imagem em sua mente, ela assinou.

Ian pegou as folhas com a precisão de um advogado experiente. Guardou, travou a pasta, e recostou-se.

— Em breve, você vai morar comigo. Vamos anunciar o noivado numa festa daqui a cinco dias. E você vai me obedecer... em público.

Ela levantou o rosto, os olhos queimando. Mas quando lembrou do seu filho Leo, Olivia aceitou.

— Quando receberei o dinheiro? — pergunta, se certificando de que ele cumpriria sua palavra.

Ian sorriu, a voz baixa:

— Bem rápido. Você segue as regras... eu pago.  

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