AMAR E CRIME/ COMPLEXO DA PENHA

AMAR E CRIME/ COMPLEXO DA PENHAPT

Romance
Última atualização: 2025-08-03
Castro  Atualizado agora
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Índice

No Complexo da Penha, ele é a lei. Bruno Kaio — ou só B.K — é o nome que silencia conversas e faz corações dispararem. Dono do morro, rei do tráfico, homem que nunca amou. Frio, sujo de poder, cercado por drogas, armas e mulheres que se jogam pelo sabor do perigo. Amar? Isso ele não conhece. Ele só precisa gozar... e dominar. Até que ela aparece. Priscila fugiu de um relacionamento abusivo e jurou nunca mais entregar seu corpo — nem sua alma. Marcada por traumas, chega à Penha para recomeçar ao lado da irmã mais velha, casada com um dos homens de confiança do próprio B.K. Ela quer paz. Ele quer posse. Ignorando o medo e o desejo, ela o enfrenta. E pela primeira vez, o dono do morro se vê desarmado por uma mulher. Entre fuzis e paixões, começa uma guerra de vontades. Quem se rende primeiro: o coração dela... ou o dele?

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Capítulo 1

Onde o Fuzil Canta

O barulho do fuzil não assusta mais. É quase como se fizesse parte da paisagem.

Era quarta-feira, duas e meia da tarde, e o sol derretia o asfalto da entrada principal do Complexo da Penha. Uma criança descalça corria atrás de uma pipa vermelha, uma senhora subia com sacola de mercado e, no meio da cena, um grupo de cinco homens de chinelo, camisa regata e fuzil no ombro vigiava a entrada da comunidade.

— Boa tarde, tia. — Um deles acenou, educado, mesmo com a arma pendurada no peito.

No morro, o certo e o errado não têm linha muito clara. Tem regra, mas não tem lei. Tem respeito, mas não tem perdão.

Priscila apertou os dedos no volante do carro alugado. O coração batia como se quisesse fugir antes dela mesma. O bairro era novo, mas a sensação de perigo... essa era antiga. Sentia no estômago.

Estava chegando pra recomeçar a vida, depois de quase ter perdido tudo — inclusive a alma — na mão de um homem que chamava de marido.

"Nunca mais. Homem nenhum manda em mim de novo."

A voz dela ecoava na própria mente, como promessa. Mesmo que a mão ainda tremesse, mesmo que o corpo ainda estremecesse só de lembrar.

Estacionou ao lado da mercearia da dona Léa, que ela não conhecia, mas que agora seria seu ponto de referência.

— Olha quem tá aí! — Uma voz animada chamou.


Rute veio correndo, batendo chinelo no chão quente. Os cabelos loiros estavam presos no alto da cabeça, e a barriga, coberta com camiseta larga, denunciava a correria do dia a dia.

— Cê chegou, minha preta! — Rute abraçou Priscila apertado, mas sentiu o corpo dela ainda duro, distante.

— Cheguei. — Ela respondeu baixinho.

O abraço demorou segundos demais pro gosto de Priscila. Ela ainda não confiava em toque nenhum.

— Tá tudo bem? — Rute perguntou com um olhar de quem já sabia que não tava.

— Vai ficar. — respondeu seca. Não tava ali pra desabafar. Tava ali pra viver.

Rute morava num sobrado simples, numa das subidas da favela. A escada era estreita, mas o cheiro do café que vinha de dentro trazia um pouco de lar.

— O Fabão tá trabalhando lá em cima, mas já já chega. Ele tá ansioso pra te conhecer. — Rute comentou enquanto abria a porta.

— Ele trabalha com o quê mesmo? — Priscila perguntou, já sabendo a resposta, mas fingindo distração.

— Ele é da segurança da área… cuida da “firma”. — respondeu com um olhar rápido, como quem testa o terreno antes de pisar.

Priscila só assentiu com a cabeça. A “firma”, naquele canto da cidade, não era loja nem empresa formal. Era o tráfico. Era o comando. Era o verdadeiro poder.

E o nome que todo mundo respeitava — ou temia — era um só: B.K.

Bruno Kaio. Dono do morro. Rei do crime. Diabo de calça jeans e corrente de ouro.

Todo mundo falava nele como se fosse lenda. Uns com medo, outros com desejo. Um cara que, dizem, já mandou matar só porque a outra olhou torto. Mas que também dava dinheiro pra fazer a festa das crianças. Que já queimou um traidor vivo, mas pagou o velório da avó de um soldado.

Duplo. Perigoso. Irresistível pra algumas. Repugnante pra outras.

Pra Priscila? Só mais um homem com fuzil. E ela já tinha sobrevivido a um com distintivo.

Mais tarde, no fim da tarde, quando o sol começava a se esconder atrás da caixa d’água da favela, Fabão chegou.

— E aí, princesa? — disse com voz grossa e sorriso largo, estendendo a mão.

Priscila apertou, firme.

— Oi.

— A casa é sua, viu? Aqui a gente se protege. Aqui não tem ex batendo em porta, não. — disse encarando os olhos dela.

Ela soltou um meio sorriso de canto.

— É bom saber.

Fabão era grande. Braço grosso, pescoço tatuado com o nome da mãe e uma aliança de prata improvisada no dedo. Dava pra ver que era leal, mas também dava pra ver que não era homem de dizer não pro patrão.

— O patrão tá passando aí hoje. Vai dar uma olhada na quebrada. Qualquer coisa, se ouve barulho, não se assusta, não. — avisou ele com a naturalidade de quem fala do ônibus das seis.

Priscila apenas assentiu de novo. A barriga deu um nó.

— E o patrão é esse tal de B.K., né? — soltou, como quem j**a verde pra colher maduro.

Fabão riu.

— É ele mesmo. O rei da favela.

Rute cortou o clima:

— Vamo comer alguma coisa, né? Tem arroz, feijão, frango de panela...

Mas o assunto já tava feito. Nome falado, energia lançada. E no morro, energia é coisa que não se desfaz fácil.

Duas horas depois, a quebrada começou a mudar de tom. As vozes dos rádios da boca subiram. Motos passaram rápido. Os olheiros desceram dos becos com mais atenção.

Priscila observava da janela, enquanto fingia estar distraída.

Então, ele veio.

Chegou em silêncio, numa Pajero blindada, com vidro escuro. Um moleque bateu palma avisando a chegada. Os homens da base se organizaram. Era quase uma coreografia.

B.K saiu do carro devagar. Camisa branca, bermuda de tactel preta, corrente de ouro pesada no pescoço. Um relógio reluzente no braço esquerdo. E um olhar… que parecia atravessar parede.

Ele subiu parte da viela, cumprimentando alguns com aceno curto de cabeça. O resto abaixava o olhar.

Foi ali, do portão de ferro da casa da irmã, que Priscila viu ele pela primeira vez.

Os olhos de B.K bateram nos dela como um soco mudo. Pararam por segundos demais. E na Penha, segundos assim viram eternidade.

Ela não desviou.

Ele não sorriu.

Ela também não.

Só abaixou a cortina devagar. Sem medo. Mas sem interesse também.

— Quem é ela? — perguntou ele pro Fabão, depois, já na rua de baixo.

— Cunhada. Irmã da Rute. Acabou de chegar.

— Qual é o nome?

— Priscila.

B.K soltou um “hmm” com canto de boca. E nada mais.

Mas na cabeça dele, algo girou. Algo que ele não conseguia nomear. Ainda.

Na madrugada, Priscila acordou com o som do primeiro disparo. Dois tiros secos. Depois silêncio. Depois vozes. Depois a sirene ao longe.

O coração dela disparou de novo. Mas não era pânico. Era instinto. Ela sabia quando correr e quando calar. Ficou quieta. Sentou na cama. Escutou o som da rua.

Dois homens gritando.

Um choro de mulher.

Depois a voz dele.

Baixa. Imponente.

— Aqui, ninguém faz o que quer.

Mais três disparos. Um corpo no chão. Correria. Silêncio.

Era a voz de B.K. Ela reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

Ali, naquela noite quente, onde o fuzil cantava e o medo dançava, Priscila entendeu: ela não tinha fugido do perigo. Tinha apenas mudado de endereço.

E o pior?

O perigo agora… tinha olhos de lobo e voz de rei.

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