O apartamento no bairro nobre cheirava a lasanha congelada e limpeza superficial. Rafael Tavares entrou, pendurou o casaco no cabideiro com um suspiro de satisfação. O cheiro do hospital, da antissepsia e do medo, ficara para trás. Em seu lugar, o aroma reconfortante de uma casa, de uma vida bem arrumada.
— Papai! — Dois vultos pequenos correram em sua direção. Pedro, de oito anos, e Sofia, de seis. Ele os abraçou, beijando o topo de suas cabeças, o sorriso no rosto um reflexo genuíno.
—Como foi o dia, meus amores? Lição de casa feita?
— Fizemos com a mamãe antes dela sair — disse Sofia, agarrando-se à sua perna.
Foi então que Marina, sua esposa, surgiu da cozinha, vestindo roupas confortáveis, o cabelo preso num rabo de cavalo desleixado. Ela parecia cansada, mas sorriu ao vê-lo.
— Plantão tranquilo? — ela perguntou, oferecendo a bochecha para um beijo.
— Rotina — ele mentiu com naturalidade, o gosto da vitória do primeiro vazamento ainda doce em sua boca. — Você jantou?
— Comi com