Capítulo 7

— Como você sabia da cicatriz?

Olivia ouve a voz de Ian atrás dela mais uma vez. Insistindo na mesma maldita pergunta. Ela sabia que ele não iria sossegar e deixar aquela história para trás.

Ela fecha os olhos, enquanto sente a pergunta dele cortando o ar como uma lâmina fina. Olivia piscou, o sangue correndo gelado nas veias. Ele havia a seguido e parecia sedento por uma explicação.

A verdade é que Ian não parecia nervoso, parecia cauteloso. Como um caçador que descobriu que o animal diante dele talvez carregasse garras também.

Olivia respirou fundo, desviando o olhar.

— Eu... li uma matéria. Acho que foi uma entrevista antiga.

— Mentira ruim — ele disse, com um meio sorriso, seco. — Nenhuma câmera já pegou. Fica sob o cabelo. E eu nunca falei dela, como consegui.

— Você deve estar enganado — ela rebateu, tentando manter a voz firme.

Ian não respondeu. Apenas a encarou. O tipo de silêncio que não exigia grito pra doer.

Ela sentiu as mãos suarem. E o peso do segredo no peito crescer. Não era a hora de ser revelado aquilo, ainda. Talvez nunca fosse.

Mas antes que Ian pudesse falar mais alguma coisa, a porta da varanda se abriu e uma voz grave preencheu a sala:

— Posso interromper os pombinhos? — pergunta, numa voz forçada.

Era Nicolau Moretti.

Na aparência e postura extremamente elegante, o seu terno escuro seguia alinhado, olhos vivos apesar da idade. Ele trazia um copo de conhaque, mas parecia mais interessado nos dois à frente do que na bebida.

— Estavam tendo uma conversa particular? — perguntou com leve ironia.

Olivia se afastou de Ian um passo quase imperceptível. Mas Nicolau notou. Notava tudo. E aquilo o deixou em alerta. Algo estava errado?

— Estávamos discutindo sobre a impressão da festa — Ian rapidamente respondeu com um sorriso ensaiado.

— Ótimo. Porque quero convidá-los para algo mais íntimo. Um jantar com a família, aqui mesmo. Nada formal, mas... importante. — Nicolau anuncia.

Ian assentiu, Olivia manteve o sorriso educado, mesmo com a pele quente e o estômago fechado. Não acreditava que iria passar por mais um jantar infernal daqueles.

Quando todo esse pesadelo vai acabar? Pergunta a si mesma, chorando internamente. Por fora? Um belo e falso sorriso.

Nicolau se virou para ela.

— Gosto de gente que sabe onde pisa. Já vi muito rosto bonito tentando bancar estabilidade. Mas você tem outra coisa... — ele estreitou os olhos. — Tem firmeza. Isso me interessa.

Ela agradeceu com um aceno discreto. E pensou: Você não faz ideia de onde estou pisando.

— Em breve, decisões importantes serão tomadas — continuou o velho. — E eu valorizo três coisas: sangue, responsabilidade... e quem sabe manter a cabeça no lugar mesmo quando o chão some. Entenderam?

Ian murmurou um "sim, senhor", como se tivesse passado a vida inteira ouvindo aquele mesmo sermão. Olivia apenas fez que sim com a cabeça. Em seguida, Nicolau girou nos calcanhares, pronto pra sair, mas a porta da frente bateu antes disso.

No salão, mais pessoas continuavam chegando. Olivia sentiu olhares queimando suas costas.

— É ela, a tal noiva de Ian? — sussurrou uma mulher perto do piano, disfarçando com o leque, mas falava alto o suficiente para que ela pudesse ouvir.

— Ninguém nunca ouviu falar dela. E surgiu do nada. Tem cheiro de acordo — respondeu outra, com um sorriso venenoso.

— Disseram que ela tem um filho... — comentou um rapaz, ajustando os punhos da camisa. — Solteira. E ainda por cima, sem sobrenome de peso.

— Escândalo à vista — disse a mulher mais velha, girando a taça de vinho. — Essa história vai implodir. É questão de tempo.

Olivia ouviu parte dos sussurros ao passar e fingiu que não ouviu. Mas cada palavra cortava como faca. Endireitou os ombros, tentando parecer mais firme do que estava. Odiava estar na ponta da língua de pessoas cruéis e venenosas.

Ian percebeu o desconforto dela. Ele aproximou por trás, encostando os lábios no ouvido dela, o que ajudou a enviar uma onda de arrepios por todo o corpo dela. Aquela proximidade fez com que seu rosto ficasse completamente vermelho.

— Ignore. — ele sussurra. — Eles vivem disso. E você está acima dessas pessoas.

— Estou mesmo? — Olivia sussurra de volta. — Porque às vezes parece que eu sou o alvo perfeito. — ela murmurou, com um sorriso falso para um casal que a encarava.

Ele não respondeu. Apenas ofereceu o braço para ela. Ela aceitou.

Nesse mesmo instante, um homem atravessou as portas, tirando os óculos escuros. Quem diabos usava óculos escuros a noite? Vestia um terno cinza claro, cabelo arrumado com gel. Olhar astuto.

— Benjamin — disse Nicolau com um sorriso satisfeito. — Estávamos te esperando.

Ian apertou os olhos. A tensão em sua mandíbula ficou visível.

— Tio — disse Benjamin, cumprimentando-o com um leve aceno de cabeça.

— Sobrinho — Ian respondeu, seco.

Olivia ainda estava de costas, mas algo naquele nome fez o corpo dela congelar.

Benjamin?

Ela virou devagar, como se o tempo fosse feito de concreto. E então os olhos se encontraram.

Olivia. Benjamin.

Foi como um soco mudo. Ele arregalou os olhos por um milésimo de segundo, depois os estreitou. O canto da boca dele subiu, como se achasse tudo aquilo uma piada cruel.

Ela sentiu o ar sumir. As memórias voltaram como estilhaços: o sofá, a traição, a chuva na calçada. A noite em que o mundo dela acabou.

— Olha só — Benjamin murmurou, quase para si. — A vida é mesmo engraçada.

Nicolau pareceu não perceber o choque. Apenas fez sinal para que todos entrassem de novo.

— Agora estamos quase completos. Só falta decidirmos quem realmente merece levar esse nome à frente — disse, já caminhando para dentro.

Mas Olivia ficou parada. Ian a olhava de lado, desconfiado. Benjamin apenas sorria.

— Me dê um minuto. Preciso checar como o Leo está. — Olivia murmura, a voz embargada, fingindo pegar o telefone.

Quando ela finalmente se afasta para respirar, o peito em chamas, sentiu passos atrás de si. Pela primeira vez desejou que fosse Ian. Não era.

— Eu devia imaginar que você cairia de novo nos braços errados — disse Benjamin, parando no corredor, encostado à parede.

Ela não respondeu.

Só apertou os olhos, como quem segura o grito de uma década inteira.

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