A noite tinha um silêncio estranho no Complexo da Penha. Não era ausência de barulho — porque no morro sempre havia o som dos rádios, dos motos subindo e descendo, das conversas atravessando vielas. O que existia era uma suspensão, como se o morro prendesse o ar esperando alguma coisa acontecer.
Priscila voltava da casa da irmã. Rute insistira que ela dormisse lá, mas ela preferiu o quarto simples que dividia com a sobrinha quando visitava. Queria um pouco de solidão para organizar a cabeça. Desde o encontro com Caio, seu ex, o peito parecia um tambor batendo fora do ritmo. O olhar dele tinha sido uma navalha — os olhos que ferem, como ela repetia para si mesma.
E ainda havia B.K.
O homem parecia saber cada passo que ela dava. Nos olhos dele, havia um tipo de paciência predatória, como se esperasse a hora exata de dar o bote.
Ao entrar no barraco, Priscila acendeu a lâmpada fraca. A porta de madeira fechou com um estalo. Ela respirou fundo, tentando se convencer de que estava segura.