O dia estava abafado, e o ar no Complexo da Penha parecia mais pesado que o normal. Priscila voltava do mercadinho carregando duas sacolas com arroz, feijão e algumas frutas. O sol, mesmo já inclinado, ainda queimava a pele. A cada passo, ela sentia o suor escorrer pelas costas e grudando a blusa no corpo. Passou pela viela estreita onde o som distante de um baile ecoava, misturado ao cheiro de churrasco improvisado vindo de algum quintal.
Ela não percebeu de imediato, mas alguém a observava.
Parado na esquina, recostado no capô amassado de um carro velho, estava Rodrigo. O mesmo Rodrigo que, há pouco mais de um ano, quase destruiu sua vida. Ele não parecia ter mudado — o mesmo olhar frio, os ombros largos, a barba malfeita. Vestia calça jeans escura e uma camiseta preta surrada, mas era nos olhos que estava o perigo.
Os olhos dele não só a viam — eles atravessavam. Feriam.
— Olha só… se não é a princesinha fugitiva — disse, com um meio sorriso que não tinha nada de caloroso.
Priscila