O calor do fim de tarde pesava mais do que o normal. O asfalto da comunidade soltava fumaça, a laje fervia, o vento não dava trégua. Priscila se abanava com a mão, sentada na mureta da laje de casa, observando o vai e vem lá embaixo. Fabão tinha saído pra resolver “uns corres” e Rute dormia, exausta da faxina que tinha virado o dia.
Do alto, a favela era outro mundo. Um mundo que pulsava diferente. Cada viela parecia esconder um segredo. E em cada olhar que subia até ela, Priscila sentia algo que ainda não sabia nomear — medo, curiosidade, desejo ou tudo junto.
E então ele apareceu.
B.K.
De chinelo, bermuda branca, camisa da Lacoste aberta, colar de ouro balançando no peito tatuado. Subiu os últimos degraus da escada como quem já conhecia o terreno. Como se fosse dele. E era.
Priscila não se moveu. Mas o corpo dela respondeu primeiro que a cabeça: o coração disparou, a boca secou, e a raiva que ela cultivava como escudo balançou.
— Tá sempre na laje, hein, princesa? — ele soltou, com