— Tá acordada ainda? — A voz de Rute veio baixinha do outro lado da cortina que dividia os quartos.
Priscila demorou pra responder. Secou uma lágrima que nem percebeu escorrer.
— Tô.
— Quer conversar?
— Não.
Rute não insistiu. Sabia reconhecer o tom. Priscila estava ferida — e era o tipo de ferida que não se via, mas sangrava por dentro.
Na boca de fumo, Fabão tragava o cigarro como quem engolia veneno. Observava o vai e vem da noite: os moleque com os radinho, as mina indo e vindo da laje do patrão, o som baixo do funk com batida de guerra.
Mas ele não tava ouvindo música nenhuma. Só o eco de um silêncio perigoso.
— Ela mexeu contigo, né? — perguntou pra B.K, que tava ali parado, olhando a cidade de cima com a frieza habitual.
B.K não respondeu.
— Tu sabe que isso dá merda, né, patrão?
— Não tô pedindo opinião.
— Mas vai ter que ouvir. A mina é irmã da minha mulher. Se acontecer alguma coisa, ela é sangue da Rute, e tu sabe como é que ela fica.
— A mina é minha agora. — A voz saiu ba