A manhã nasceu abafada no Complexo. O sol batia nas lajes e refletia nas telhas de zinco, enquanto a favela já fervilhava: criançada correndo descalça, mulheres discutindo no portão, motos subindo e descendo as vielas. Mas havia algo diferente no ar. Um silêncio escondido, como se todos estivessem esperando a próxima jogada de uma partida perigosa.
Priscila sentia isso no corpo. Desde o encontro com Caio, o coração parecia viver em sobressalto. Cada passo na rua era um risco, cada sombra um aviso. Mas havia também a voz de B.K. ecoando: “Então escolhe, Pri. Só não demora. Aqui, quem hesita, morre.”
Ela não queria escolher. Não queria estar entre dois monstros. Mas sabia que a vida não dava pausa.
Era quase meio-dia quando uma viatura da PM parou na entrada do beco principal. O giroflex desligado, mas o peso da farda falava por si só. Do carro, desceu Caio. Uniforme impecável, óculos escuros, a arma presa no coldre. Não parecia mais o homem que a espancava no escuro do quarto — parecia