A tarde caía sobre o Complexo da Penha com um silêncio que parecia quebrar ossos. Os sons típicos do morro — risadas, crianças correndo, rádios estourando — haviam se apagado, substituídos por um clima pesado e palpável. Cada sombra parecia espreitar, cada porta rangia sob a ameaça de algo prestes a acontecer.
Priscila estava no quarto, sentada na beira da cama, olhando para o chão. O coração batia tão rápido que parecia tentar atravessar o peito. As mãos trêmulas seguravam o lençol como se fosse a última âncora de segurança.
— Pri... — a voz de Rute, suave, entrou no quarto. — Eu sei que tu tá pensando em fugir.
— Fugir? — Priscila riu nervosa, sem humor. — Pra onde? Não tem lugar nesse morro que eu possa ir sem ser vista.
Rute sentou ao lado dela, passando a mão nos ombros da irmã.
— Eu sei, mana. Mas fugir não é só distância, é sobrevivência. Caio não vai desistir, B.K. não vai perdoar, e eu não quero perder nenhuma de vocês.
Priscila respirou fundo.
— Eu só queria que ele sumiss