Mundo de ficçãoIniciar sessãoSophia acreditou ter encontrado o amor quando se casou com Zahir Ayman — um homem misterioso, poderoso e de olhar que queimava como o deserto. Mas o que parecia um conto de fadas rapidamente se transformou em uma prisão de silêncios, ciúmes e verdades ocultas. Zahir se casou com ela por motivos que Sophia desconhecia — e quando a verdade veio à tona, seu coração se partiu. Ferida, grávida e sem forças para enfrentá-lo, ela fugiu, deixando apenas uma carta e a lembrança de um amor impossível. Dois anos se passaram. Sophia agora vive longe, criando sozinha o filho que Zahir nunca soube que existia. Entre o trabalho simples e as memórias que a assombram, ela tenta reconstruir a própria vida — até o dia em que o passado a encontra novamente. Porque Zahir nunca desistiu. E quando o destino os coloca frente a frente outra vez, ele descobrirá que o amor pode ser uma ferida tão profunda quanto a vingança que o moveu um dia. Será possível reconstruir o que foi destruído pela mentira e pelo orgulho? Ou o deserto que os separou jamais permitirá que floresça o perdão? **Bashir** Camila é de origem árabe, aprendeu desde pequena a dança do ventre. Para sanar suas dívidas, faz pequenos bicos depois do trabalho como dançarina. Bashir entrou na vida de Camila intempestivamente, depois de um grande mal-entendido no hotel, onde ela foi fazer um teste para a vaga de dançarina. Ele a julgara e condenara como um juiz, sem direito a defesa. Camila sai de lá humilhada, jurando nunca mais pisar no hotel. Bashir descobre seu erro de julgamento...
Ler maisSt. Lawrence– Presente momento
Sofia
O vento do mar tinha um gosto salgado e suave, e o som das ondas parecia embalar meus pensamentos, como se quisesse me convencer de que a vida ainda podia ser simples. Eu observava meu filho, Vitor, brincar na beira da praia — uma faixa de areia estreita, cercada por rochedos escuros que pareciam guardar segredos antigos. A água, incrivelmente azul, formava pequenas espumas brancas ao se desfazer nas marolas, e cada estalo das ondas soava como um sussurro do tempo.
Atrás da praia, a vegetação densa exibia o verde vibrante das plantas tropicais, e as palmeiras altas dançavam ao sabor do vento quente. O sol, impiedoso, fazia cintilar a superfície do mar e se espalhava pela pele como fogo. Vitor, meu pequeno de um ano e meio, levantou uma conchinha branca com as mãozinhas ainda úmidas de areia. O sorriso dele era puro, um rasgo de luz no meio das minhas lembranças. — Linda! — sussurrei, inclinando-me sobre ele e sorrindo de volta. Ele respondeu com uma gargalhinha curta, como se tivesse compreendido o meu encanto. Olhei o relógio de pulso: dez horas. Tínhamos acordado tarde. Era sábado, e mesmo assim eu costumava vir à praia mais cedo, antes que o calor se tornasse tão intenso. O céu estava completamente limpo — nem uma nuvem para amenizar o brilho cortante do sol. Peguei Vitor pela mãozinha e o levei até a beira do mar. Lavei-lhe as perninhas e as mãos, observando a espuma envolver seus pés miúdos. Depois o ergui no colo. Ele protestou, agitando as pernas com força, inconformado por deixar a brincadeira. — Shiii… Vitor, vamos ver a Puppy? — murmurei perto do ouvido dele. Ao ouvir o nome da cachorrinha da vizinha, ele se acalmou de imediato e tentou pronunciar o nome com a inocência da infância: — Puuu… Sorri. — Isso mesmo, a Puppy. Seguimos pela pequena trilha que saía da praia. Era um caminho estreito, ladeado por mato baixo e salpicado de pequeninas flores amarelas e roxas, típicas dos lugares arenosos. O perfume leve da vegetação se misturava ao cheiro salgado do mar. Essa trilha levava até uma rua simples, de terra batida, que me conduzia em cinco minutos à minha casa — um lar pequeno, alugado, mas que eu chamava de meu refúgio. Antes de entrar, parei diante da casa da minha vizinha, Callie, para mostrar o cachorrinho ao Vitor. O poodle abanou o rabo com energia, e meu filho quis descer do colo, tentando se aproximar, ainda receoso de tocá-lo. Quando percebi que o sol começava a castigar sua pele clara, voltei a pegá-lo nos braços — o que, claro, gerou protestos infantis e choramingos. Cruzei o portão da minha casa, que rangia com o vento, e atravessei o quintal estreito. À direita e à esquerda, o que um dia fora um jardim agora se transformara num emaranhado de mato e flores secas. Entrei com ele e deixei a porta aberta para aliviar o calor abafado. Fui direto ao banheiro e enchi a pequena banheira com água morna. Assim que Vitor ouviu o barulho da água, o choro cessou. Tirei-lhe as roupinhas molhadas, e ele mergulhou feliz, brincando com o patinho de borracha. Apliquei shampoo em seus cabelos escuros, massageando com delicadeza. Aquele cabelo… era o mesmo do pai. Negro, denso, rebelde. Cada fio me fazia lembrar de Zahir. Vitor era a cópia viva dos Ayman — a mesma pele morena, o mesmo olhar profundo e inquisidor.Conheci Zahir Abulla Ayman quando eu trabalhava no Banco Golden, na área de aplicações financeiras. Ele era um dos meus clientes — um nome de peso, envolto em elegância e mistério. Na verdade, eu havia conhecido toda a família Ayman, pois a conta que Zahir movimentava pertencia à Naturalle, a indústria de cosméticos da família. De vez em quando, o irmão dele, Bashir, aparecia na agência para depósitos ou transferências, e a senhora Zaida Ayman — matriarca firme e de expressão severa — comparecia raramente, acompanhada pelo filho mais velho, apenas para verificar as aplicações e controlar de perto cada detalhe.
Entro na minha suíte sentindo o peso inteiro da noite sobre meus ombros. O silêncio do quarto é enorme, quase acusador. Tiro o paletó, desfazendo cada botão com impaciência, como se aquilo pudesse tirar de mim o gosto amargo do que aconteceu.Vou para o banheiro, abro o chuveiro no quente e fico ali, debaixo da água, muito mais tempo do que o necessário. Mas nada relaxa. A água escorre pelo meu corpo, mas não leva a culpa embora.As palavras do segurança — “ela tem uma vida difícil… é uma menina trabalhadeira…“ — martelam na minha mente, como se cada sílaba me atingisse no estômago.E eu a tratei daquela forma.Por um erro meu.Por um julgamento precipitado.Por causa de um fantasma do passado — de Raifa — que eu permiti que falasse mais alto do que minha razão.Saio do banho, seco o rosto devagar e vou até a cama. O lençol de cetim está frio, macio — conforto que agora parece indevido. Deito-me, ajeito o travesseiro, tento diminuir a tensão dos músculos… mas o sono não vem.Amanhã eu
Bashir fitou as duas duramente. E falou quase em árabe, com o sotaque carregado.— Guardem para vocês esse assunto. Não quero fofocas do que houve no hotel, isso eu irei resolver pessoalmente.Elas assentiram concordando e depois olharam uma para a outra. Bashir soltou o ar dos pulmões.— Esse assunto não é apenas para preservar a imagem do hotel, mas da moça também. Principalmente pela moça. Se eu souber que alguém está fomentando esse assunto, não poderá fazer parte da equipe do hotel. Estamos entendidos? Quem mais sabe do ocorrido?A camareira mais nova disse.— Apenas nós e Heitor Félix, o segurança que é também padrinho da moça.— Sabe se ele ainda se encontra no hotel?— Sim, ele trabalha no turno da noite. Ele faz a ronda externa.Bashir assentiu e sério as viu sair. Ele apertou o térreo. Ia resolver tudo isso agora! Se não resolvesse, isso tudo viraria uma bola de neve. A imagem da moça chorando lhe deu uma dor angustiante no peito. E o erro de seu julgamento pesou.Bashir ca
Ele a conduziu por fora do Hotel e o contornou. Na parte externa tinha uma porta lateral. Ele abriu com a chave e acendeu a luz. Era um depósito onde guardavam produtos de limpeza, arrastando duas cadeiras a fez sentar.—Estou sem saber o que dizer. ocê tem certeza que estamos falando da mesma pessoa? Como era a pessoa que te atacou?Descreveu o homem e a impressionante sala que entrou, contou tudo. Mas ocultou a entrada do segundo homem bem vestido, Ayman, que pelo sobrenome e a julgar pelas suas roupas, era importante no hotel. Esse a abalara muito mais, por pertencer ao seu povo. Sem ter direito a se defender, preferiu tirar suas conclusões e ainda por cima a tratou como uma vagabunda.— A descrição que me deu não bate com o gerente artístico do hotel e nem o local que você fez a sua apresentação.— Não?Heitor a olhou pensativo.— Quem te levou ao local?Camila, com a pergunta dele, e depois de ter passado a adrenalina, se deu conta que pudesse ter entrado na porta errada. Mas iss
Camila se viu solta e o homem que a agarrara sorrir. Seus olhos assustados se voltaram para o dono daquela voz com forte sotaque. Bashir fitou a odalisca, sem conseguir deixar de reparar na beleza exótica da garota. Ela tinha traços da linhagem de seu povo. Isso o deixou mais insatisfeito. Tinha que acabar com isso, frequentemente escutava histórias dessas dançarinas saindo com seus clientes, ou funcionários.A imagem de Raifa a mulher que um dia enganara seu irmão surgiu na sua frente.Camila sentiu um grande alívio e reparou no homem alto, muito alto. Seus cabelos pretos encostavam na gola da camisa. Alguns fios prateados já cresciam em suas têmporas, embora ele não aparentasse mais de trinta e sete ou trinta e oito anos. Os olhos eram negros e profundos. O rosto parecia uma escultura em granito, ele agora a fitava de cima a abaixo. Ela sentiu uma onda de calor tomar conta dela. Embora o olhar do homem sobre ela fosse gélido, e duro como um aço.Nunca se sentira assim, tão sem açã
Terminado o aquecimento, ainda alongo braços, pescoço e pernas. Preciso sentir meu corpo desperto, alerta, vivo. Pulo algumas vezes, mexo os quadris, giro os braços — tudo para soltar qualquer resquício da fábrica, do cansaço, do peso que carrego diariamente.Uma batida suave na porta me faz parar.Abro, e Thomas sorri ao me ver pronta — ou melhor, transformada.Eu, no entanto, o encaro séria. Agora estou concentrada.— Pelo visto, já está pronta, ele comenta.— Sim, respondo.— Muito bem. Então vamos.Saio atrás dele, mas a poucos passos no corredor, outro rapaz surge correndo.— Thomas! Renata está pedindo você lá embaixo. Urgente! Rápido!Vejo Thomas empalidecer, completamente sem ação por alguns segundos.— Droga… — ele murmura. Depois se vira para mim. — Você… você pode seguir sozinha daqui?Ele aponta para frente.— É fácil. Vá até o final do corredor, pegue o elevador, terceiro andar, vire à direita e entre na segunda porta à direita.Ele franze a testa. — Não, não… é isso mesm
A loira ergue o queixo, e eu faço o mesmo, ajeitando minha mochila nas costas, sentindo a fita preta que segura o fecho defeituoso roçar na minha palma.— Sim, sou eu — digo com firmeza.Ela levanta as sobrancelhas perfeitas, moldadas com maquiagem profissional, e então se vira para o rapaz ao lado.— Thomas, leve a senhorita Aminah ao camarim e mostre o local do teste.O sorriso dele é educado, simpático.— Vem comigo, por favor.Eu o sigo pelo saguão luxuoso sem me importar com os olhares que recebo — alguns curiosos, outros julgadores. Já me acostumei a ser medida de cima a baixo por quem acha que posso ser reduzida ao que visto ou ao modo como cheguei até ali.Entramos em um corredor comprido, cheio de portas e iluminação suave. Dois seguranças muito bem vestidos, de terno negro impecável e crachá no peito, patrulham o local em passos firmes. Suas expressões são sérias, profissionais, quase inabaláveis.Caminho ao lado de Thomas até que ele para diante de uma porta grande, do lado
Último capítulo