Mundo ficciónIniciar sesiónClara acreditava viver o casamento perfeito. Cinco anos ao lado de Arthur — o homem que ela considerava o amor da sua vida. Por ele, deixou a carreira, os sonhos e a própria rotina para se tornar a esposa ideal. Mas tudo desmorona numa única noite. Um jantar preparado com amor. Uma mesa posta. Uma mensagem no grupo das amigas. Uma foto em um restaurante que tinha o significado do amor deles — e a mão dele ali, inconfundível. Quando Clara chega ao restaurante, o mundo dela desaba. Arthur não apenas a trai, como tenta justificar o erro com uma proposta absurda: um casamento aberto. Para sua surpresa, Clara aceita — não por submissão, mas porque algo dentro dela desperta. Determinada a se reconstruir, ela decide voltar ao mercado de trabalho e acaba reencontrando Henrique, um antigo colega de juventude que sempre foi apaixonado por ela. Hoje, ele é dono de uma grande empresa — e está disposto a oferecer a ela uma nova chance, no trabalho e na vida. Enquanto Clara redescobre sua força e vive uma paixão verdadeira, Arthur entra em espiral de ciúme, culpa e desespero. A amante engravida, e ele a força a interromper a gestação — decisão que termina em tragédia e o confronta com as consequências irreversíveis de suas escolhas.
Leer másO cheiro do molho tomava conta da cozinha. Clara mexia a panela distraída, tentando disfarçar o nervosismo que crescia cada vez que olhava o relógio. As velas já estavam acesas, o vinho respirando, a mesa posta com o capricho que só ela tinha. Tudo estava do jeito que Arthur gostava.
Cinco anos de casamento. Cinco anos de um amor que ela acreditava ser o tipo que dura pra sempre.
Ele mandou mensagem dizendo que ainda estava resolvendo algo no escritório. “Chego em vinte minutos.”
Clara olhou o celular, suspirou. Tentou se convencer de que ele estava preso no trânsito, que talvez tivesse parado pra comprar flores, quem sabe uma sobremesa. Arthur sempre fazia essas pequenas surpresas. Ele era assim — atencioso, gentil, um marido que parecia saído de um sonho.
Mas aquela noite tinha algo estranho. Um silêncio incômodo dentro da casa, uma solidão que ela não sabia explicar.
Pra se distrair, abriu o W******p. No grupo das amigas, risadas, mensagens, fotos de jantares, drinks, um pouco de tudo. Até que uma imagem fez o coração dela parar por um instante. Era a Marina, uma das meninas da faculdade, jantando em um restaurante elegante. Até aí, tudo normal. Mas o problema era o restaurante.
Clara reconheceu o cenário de imediato — o La Terraza, o lugar que guardava cada lembrança boa do casal: o primeiro encontro, o pedido de casamento, as comemorações de aniversário.
E na foto, bem ao lado do prato de entrada, ela viu algo que fez o estômago revirar. A mão dele. O relógio prateado que ela mesma dera no último Natal.
Por alguns segundos, o mundo ficou em silêncio. O som do relógio da parede parecia distante, como se o tempo tivesse parado.
Clara não pensou. Apenas pegou a bolsa e as chaves. O vento lá fora estava frio, cortante. As luzes da cidade passavam rápidas pela janela do carro enquanto ela dirigia. O coração batia descompassado, as mãos tremiam no volante.
Quando estacionou em frente ao restaurante, ficou parada por um tempo, observando através do vidro.
Arthur.
Sorrindo.
Com outra mulher.
Ela estava de vermelho. Jovem, linda, com aquele tipo de leveza que só quem ainda não viveu o peso do amor tem.
Clara desceu do carro. Caminhou até a porta. Cada passo parecia ecoar dentro dela. O garçom tentou detê-la, mas ela apenas sorriu — um sorriso tenso, sem alma — e entrou.
Arthur demorou alguns segundos pra perceber. Quando o fez, o riso morreu no rosto dele.
Ela parou diante da mesa.
A outra mulher abaixou os olhos. Arthur ficou pálido, tentando se levantar.
Silêncio. O tipo de silêncio que grita.
Ela respirou fundo, sentiu as lágrimas queimarem por trás dos olhos, mas não deixou que caíssem.
Virou-se e foi embora, deixando pra trás o homem que jurou amá-la “até o fim”
O voo de volta parecia mais silencioso do que o de ida.Clara olhava pela janela, observando as nuvens cortadas pela asa do avião. O sol se escondia entre tons de dourado e cinza, e tudo parecia suspenso, como ela.Henrique dormia ao lado, com o casaco dobrado sobre o colo e o semblante tranquilo. Ela tentou fingir que nada havia mudado, que o beijo da noite anterior fora apenas parte do “plano”, uma distração do momento. Mas cada vez que fechava os olhos, lembrava do toque dele, firme e ao mesmo tempo gentil, e do jeito como o mundo pareceu parar por alguns segundos.O coração, teimoso, não entendia de estratégias.Quando desembarcaram em São Paulo, o clima era outro. O ar mais frio, as pessoas apressadas, a rotina voltando com pressa. Henrique a esperou enquanto ela pegava a mala. O gesto simples, a paciência dele, o olhar atento, a confundia.— Posso te deixar em casa — ofereceu.— Não precisa, Henrique. Você já fez demais.Ele sorriu, aquele sorriso tranquilo que parecia esconder t
O domingo amanheceu calmo, com o sol atravessando as cortinas do hotel e o som distante da cidade despertando aos poucos. Clara abriu os olhos devagar, sentindo a estranha sensação de leveza que vinha com os dias em que nada doía. Por alguns segundos, esqueceu que estava longe de casa. Esqueceu de Arthur, do passado, da confusão. Lembrou apenas do riso da noite anterior e do olhar de Henrique quando disse que às vezes esquecia que tudo era só um plano.Tomou banho, prendeu o cabelo e vestiu uma roupa leve — calça clara, blusa simples, tênis. Quando desceu pro saguão, ele já estava lá, com o celular na mão e aquele sorriso fácil de quem parecia carregar o dia no bolso.— Dormiu bem? — perguntou, entregando a ela um copo de café.— Até demais — respondeu. — Quase esqueci que tínhamos uma reunião.— É domingo, lembra? — ele riu. — O trabalho é amanhã. Hoje é só a “namorada de fachada” e o namorado dedicado.Ela revirou os olhos, mas não conteve o sorriso.— Você realmente leva esse papel
A semana passou depressa. O assunto da foto ainda ecoava pelos corredores da Vascon, mas Clara fingia que não ouvia. O plano estava funcionando — talvez até bem demais. Henrique, por outro lado, parecia se divertir com tudo. Sempre aparecia com um comentário espirituoso, um gesto ensaiado, um toque rápido demais para ser apenas atuação. Na manhã de sexta-feira, ele entrou na sala dela com aquele ar de quem já sabe que vai mudar o rumo do dia.— Arruma as malas, chefe. Temos uma reunião em Belo Horizonte amanhã cedo.Clara levantou o olhar, desconfiada.— Amanhã cedo? E você me avisa hoje?Henrique sorriu, aquele sorriso controlado que escondia intenções.— Pensei que você gostasse de surpresas.Ela bufou, mas havia um brilho divertido nos olhos. — Não se acostume.O voo foi tranquilo, apesar do silêncio que se instalou entre eles no início. Clara tentava manter a postura profissional, mas Henrique era especialista em quebrar defesas.— Sabe o que percebi? — ele começou, olhando pela j
Arthur ficou parado na porta por longos segundos depois que o carro de Clara desapareceu na esquina.O som do motor se perdeu, mas a imagem dela indo embora ficou grudada no fundo dos olhos — o cabelo preso, o perfume leve, a forma tranquila com que entrou no carro de outro homem. Tranquila. Essa palavra o feria mais do que qualquer traição. Ela não gritou, não chorou, não implorou. Ela simplesmente foi.Ele entrou de novo em casa, como quem volta a um campo de guerra depois da explosão. O silêncio parecia zombar dele. As xícaras limpas, o lençol bem esticado, o cheiro de sabão — tudo tão organizado, tão impessoal. Sem ela, a casa era só cenário. Sentou-se no sofá, o corpo tenso, a mente girando.Pensou em ligar pra ela, em ir atrás, em dizer que o casamento aberto era um erro, que ele só queria testá-la, que tudo passou dos limites. Mas a imagem de Henrique abrindo a porta do carro, o olhar dele firme e seguro, voltava como um soco no estômago.Arthur sentiu raiva. Não só de Henrique
Clara acordou com o som da porta batendo.Por um instante, achou que estava sonhando — o relógio marcava pouco antes das sete da manhã.O coração acelerou quando ouviu o barulho das chaves e o som inconfundível de passos firmes no corredor.Arthur.Ela sentou na cama, o corpo em alerta.A última vez que ele tinha aparecido sem avisar, o casamento ainda existia — ao menos nas aparências.— O que você está fazendo aqui? — perguntou, quando ele entrou no quarto, ainda de roupa social, o rosto cansado, os olhos vermelhos.Arthur a encarou como se tivesse passado a noite ensaiando aquela cena.— Eu moro aqui, não moro? — disse, com um riso curto, ácido. — Ou o “namorado novo” já te convenceu a mudar o endereço?Clara respirou fundo, forçando um sorriso calmo.— Ah, então é isso. Já começou o interrogatório. Que curioso… pensei que casamento aberto não incluía prestação de contas.— Não me provoca, Clara. — A voz dele saiu mais alta do que pretendia. — Você sabe muito bem o que eu vi.Ela l
POV ARTHURA foto apareceu no meio da tarde, como um soco vindo de onde ele menos esperava. Arthur estava com o notebook aberto, o e-mail do financeiro na tela, quando a notificação do celular vibrou. Ele olhou sem interesse, até reconhecer o rosto. Não o dele. O dela.Clara.Clara, com o cabelo preso, a pele iluminada pela luz da manhã, o sorriso contido e — Deus — o braço de Henrique envolvendo os ombros dela. A legenda era curta, quase insolente: “Algumas coisas não precisam de legenda.”Arthur sentiu a garganta fechar, o estômago revirar. Ficou olhando por longos segundos, incapaz de desbloquear o celular. Como se, se não tocasse na tela, aquela imagem não existisse. Mas ela existia. E estava no mundo.— Amor? — A voz de Luísa veio da cozinha, leve, distraída. — Você prefere massa ou salmão?Ele não respondeu. A palavra “amor” o feriu como agulha. Repetiu mentalmente: casamento aberto. Foi o que ele propôs, não foi? A tal “liberdade” que ele jogou na mesa como quem troca carta mar
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