A manhã nasceu cinzenta na Penha. O céu pesado parecia refletir o clima do morro, ainda marcado pelo confronto dos dias anteriores. Nos becos, o cheiro de pólvora já havia se misturado com o da comida fritando cedo, mas o silêncio denunciava: ninguém estava em paz.
Priscila acordou com o coração acelerado, mesmo sem ouvir tiros. Era como se o corpo tivesse aprendido a viver em alerta. Cada batida na porta, cada passo no corredor a fazia prender a respiração.
Rute a observava da cozinha.
— Tu não tá dormindo direito, mana. Vai acabar ficando doente.
Priscila deu de ombros, mexendo no café com desatenção.
— Como é que alguém dorme aqui, Rute? Toda noite parece que o mundo vai acabar.
A irmã tentou sorrir, mas o olhar era sério.
— O mundo sempre acaba um pouco aqui. Mas a gente aprende a levantar e fingir que não.
As palavras a atingiram fundo. Priscila queria acreditar que era forte, que estava recomeçando. Mas, no fundo, sentia-se mais prisioneira do que nunca.
Mais tarde, um dos rapaz