Mundo de ficçãoIniciar sessãoIsabella viveu nas sombras — treinada para sobreviver, moldada pela dor, condenada ao silêncio. Filha de um império que jamais conheceu, a herdeira desconhecida da máfia cresceu acreditando que o amor era uma fraqueza… até Alessandro atravessar seu caminho. Entre segredos, vingança e lealdade, Isabella precisará escolher entre o sangue que a condena e o amor que a liberta. Agora, livre das correntes do passado, ela não precisa mais desaparecer para sobreviver — pode reinar ao lado do homem que transformou sua escuridão em luz. Uma história sobre poder, e o tipo de amor que desafia até o destino.
Ler maisISABELLA
Meu mundo sempre foi escuro antes do amanhecer. Não no sentido literal — sempre tivemos luzes acesas, salas protegidas, câmeras — mas no silêncio, nos segredos. Mamãe dizia que era para meu próprio bem, e talvez fosse. Cresci aprendendo que uma arma pode salvar ou tirar vidas, que números e sistemas são tão perigosos quanto balas. Que a fraqueza é fatal. Não lembro de ter sido criança de verdade. Meu corpo queimava com o arco e flecha grande demais para minhas mãos, com socos e chutes que me deixavam em carne viva, com dores de cabeça quando tentava aprender matemática, línguas ou sistemas de tecnologia. Mas eu amava-a, e ela me amava. Ela sempre cuidava de mim. Então, naquela madrugada, fui acordada pelo som de batidas na porta. Meu coração disparou, como sempre. — “Mamãe, tem alguém batendo na porta!” — sussurrei. Ela pegou a arma. Instinto. Reflexo. Treinamento. Eu me escondi, observando cada movimento. — “Sou eu. Riccardo.” Mamãe engoliu em silêncio, escondeu a arma nas costas e abriu a porta. Riccardo parecia desesperado — algo que ele só ficava quando a família estava em perigo. Eu sabia disso, porque mamãe me ensinou: “Observe, leia as pessoas.” — “Irmã, desculpa a hora, preciso de você!” — “Entre, o que aconteceu?” — respondeu mamãe, firme, controlada. Sempre atenta observando os perigos à sua volta. — “Alessandro foi perseguido. O carro capotou e, para despistar a gangue, ele entrou na floresta. Meus homens não conhecem este terreno. Você conhece, vive aqui há 16 anos.” Meus dedos se apertaram contra meu corpo. Vive aqui? Não, me escondo. Eu conhecia a floresta melhor do que qualquer um. Melhor até do que mamãe imaginava. — “Errado duas vezes. Não vivo aqui, me escondo! Viktor não pode saber da existência dela. E não sou eu quem conhece a floresta… é Isabella!” Senti o ar ficar pesado. Riccardo engoliu, tentando escolher as palavras certas. Ele sabia o que isso significava. — “Você sabe o que isso significa… a existência dela não pode…” — “Eu sei. Não pediria se não fosse importante, Donatella… é meu filho.” Mamãe olhou para ele, olhos duros, decididos, me defende: — “É minha filha.” Aquelas palavras soaram como um estalo no silêncio da noite. Eu, Isabella, pequena e quase invisível para o mundo, era a chave para algo maior do que eu poderia compreender. Alessandro estava em perigo, e meu padrinho, desesperado, estava ali porque sabia que a única capaz de lidar com aquilo era eu. O silêncio da madrugada era denso. Cada respiração parecia amplificada, cada sombra se movendo na parede da cabana lembrava que eu nunca poderia vacilar. Minha coluna ardia de treinos passados, os cortes nos meus braços e mãos ainda latejavam. Cada músculo parecia gritar: você não é mais criança, Isabella. Mas eu era. E, mesmo assim, tinha que ser melhor. Mamãe se virou para mim devagar, como se lutasse consigo mesma. O rosto duro de guerreira deu lugar, por um instante, àquele olhar que eu só via quando ela pensava que eu dormia. — Eu não queria que fosse, Isabella… — a voz dela saiu baixa, quase um sussurro. — Mas o padrinho precisa. — Eu sei, mamãe — respondi, o estômago apertado. — Eu sou uma sombra. Ela respirou fundo, engolindo algo que não disse. Com um gesto firme, puxou meu capuz e o ajustou na minha cabeça. O tecido áspero tocou minha pele como uma armadura invisível. — Não tire o capuz por nada — ordenou. — Não mencione uma palavra que possa dar qualquer dica de quem você é. Os dedos dela tremeram quando tocaram minha face. Pequeno, mas perceptível. Ela raramente tremia. — É assim que vão encontrá-lo — continuou. — Ligue o GPS. Deixe que os homens do seu padrinho rastreiem o sinal. Não tente ser heroína, encontre ele, deixe-o em segurança e volte. Eu assenti. O treinamento falava mais alto, mas dentro de mim algo pesava. — Eu sei, mamãe. Eu sou uma sombra. — Repeti. Ela segurou meu rosto entre as mãos e me forçou a olhar nos olhos dela. E naquele instante, a guerreira sumiu. Ficou só a mãe. — Para o mundo, meu amor… você é a sombra. — Sua voz quebrou um pouco. — Mas para mim, você é a luz. A floresta não era escura apenas pelo céu fechado. Era escura porque cada sombra poderia matar, cada barulho podia ser armadilha. Meus pés afundavam na terra molhada, galhos chicoteavam meu rosto, e a dor nos ombros de tanto carregar o arco parecia uma lembrança cruel. O GPS indicava o ponto aproximado. Não havia tempo para hesitar. O primeiro inimigo surgiu. Flecha certeira. Silêncio absoluto. O segundo tentou cercar-me, mas meu corpo e mente, treinados até o limite, reagiram antes que ele pudesse pensar. Cada golpe, cada movimento, calculado com precisão mortal. A dor, o cansaço, tudo se dissolvia em eficiência. Os últimos inimigos foram derrubados com a mesma frieza. Não havia celebração. Apenas a missão. Coloquei o GPS camuflado em um tronco, pronto para ser rastreado pelos homens do padrinho. — “Isso vai levá-los até você,” sussurrei para Alessandro. — “Eles vão cuidar do resto.” Segurei seu braço e o guiei pela trilha principal, atenta a qualquer perigo. Deixando seguro próximo ao GPS. Cada passo era calculado. Cada respiração, controlada. A floresta parecia reconhecer que a sombra havia feito seu trabalho. --- O sol ainda não havia despontado. Observei à clareira onde os homens do meu padrinho se aproximavam. Alessandro estava seguro, sendo levado para um local protegido. Voltei para casa. Riccardo me recebeu com os olhos arregalados, um misto de alívio e orgulho. — “Isabella…” — disse, a voz baixa e firme — “você… conseguiu. Obrigado. Alessandro está seguro. Ele vai ficar bem.” Antes que qualquer palavra pudesse soar como reconhecimento pessoal, senti a mão de mamãe no meu ombro. Donatella estava rígida, quase como uma estátua viva, o olhar varrendo tudo ao redor antes de se fixar em mim. — “Não envolva mais minha filha nos erros de Alessandro.” — Sua voz foi firme, glacial. — “Não importa o que ele faça ou para onde vá, você não tocará minha Isabella.” Riccardo desviou o olhar, entendendo a intensidade daquela linha que ela traçava. Mamãe não disse mais nada. Apenas ajustou meu capuz. O mundo se tornou apenas nós duas novamente. Eu, sombra; ela, a guerreira que nunca desistia. Enquanto observava Alessandro sendo levado em segurança, senti algo claro: a vida que eu conhecia era cruel e brutal, mas sob a tutela de Donatella, eu sempre teria um escudo. E ali, na penumbra da manhã que nascia, eu sabia que, para o mundo, eu era a sombra perfeita. Mas para ela… eu continuaria sendo sua luz. ... Silêncio. A floresta parecia prender o fôlego. — “Mamãe…” — sussurrei, quebrando a tensão. — “Por que a gente vive se escondendo? Por que não podemos existir de verdade?” Ela respirou fundo antes de se virar. Por um instante, pensei que ela fosse me abraçar. Mas Donatella era feita de aço — e aço não cede facilmente. — “Porque o mundo não perdoa erros, Isabella.” — Sua voz era fria, calculada, mas o olhar… o olhar tremia. — “Você é a lembrança viva de uma traição entre impérios. Sua existência é uma ofensa a dois reinos. Viktor Rostov não pode saber. Nenhum deles pode.” — “Mas ele é meu pai…” — murmurei, e vi o olhar dela endurecer ainda mais. — “Ele é o homem que me amou e me destruiu. E se souber que você existe, vai tentar usá-la — ou matá-la — antes que o mundo descubra o que você representa.” Ela se aproximou, a mão fria sobre meu rosto quente. — “Você é metade Rússia, metade Itália. A união que nenhuma das duas máfias permitiria. Você é o elo, Isabella. E elos… são quebrados quando ameaçam o poder.” Eu engoli em seco. Quis dizer que não tinha medo, mas Donatella sempre via através de mim. — “Por isso, minha filha…” — a voz dela suavizou — “enquanto eu respirar, ninguém vai te encontrar. Você será a sombra da floresta, e eu serei a muralha que te protege.” Aquela foi a primeira vez que entendi o peso do nome que me deram. E também a primeira vez que percebi que o amor de uma mãe pode ser o segredo mais perigoso do mundo.ALESSANDRO Mateo olhou para mim com aqueles olhos grandes, cheios de curiosidade.— Papai, é verdade o que o vovô Rick disse? Que a mamãe é uma super-heroína?Sorri, sentindo meu peito apertar de orgulho e carinho.— É verdade, meu filho. Ela sempre foi.Nesse instante, Isabella apareceu no jardim, trazendo Sofia e Marcella de mãos dadas. As meninas estavam vestidas da mesma cor, como se fossem três pequenas fadas correndo pelo mundo.— Vão descobrir o que a vovó Gi pediu para fazer para o jantar… — disse Isabella, sorrindo, com aquele brilho travesso nos olhos que sempre me encantava.As crianças saíram correndo, rindo e brincando, enquanto ela se aproximava de mim, ainda sorrindo.— Obrigada. — disse ela, com suavidade e amor no olhar.Me aproximei, sentindo cada gesto, cada presença dela ao meu redor.— Pelo quê? — perguntei, com a voz baixa e cheia de emoção.Isabella roçou os lábios nos meus:— Por me mostrar que a vida é mais que sobreviver.Isabella agora é livre, não precisa
ALESSANDRO Chiara estava amarrada à cadeira no centro do porão, as luzes frias refletindo no suor que escorria de sua testa. Tentava manter a postura — cabeça erguida, queixo desafiador — mas o leve tremor nas mãos a entregava.Mesmo assim, ela riu. Aquela risada falsa, aguda, que apenas os que acham que ainda têm controle conseguem sustentar.— Então é isso? — zombou. — O grande Alessandro D’Amato, reduzido a interrogador. Pensei que fosse mais divertido.Cruzei os braços, sem responder. Aprendi que o silêncio pesa mais que qualquer ameaça.Mas o som da porta se abrindo fez seu sorriso sumir. O salto delicado que ecoou pelo chão de pedra foi o suficiente para gelar seu sangue.Isabella entrou. Serenidade letal. O cabelo ainda úmido da chuva, o olhar calmo e cheio de intenções.Chiara piscou várias vezes, confusa, até deixar escapar um sussurro:— Você... você não pode estar viva.Isabella inclinou a cabeça, como quem observa um inseto curioso.— Bem que eu queria — respondeu, em tom
ISABELLA A briga começou como teatro calculado — intenso, convincente, porém absolutamente controlado. Donatella gravava escondida, mãos firmes, câmera tremendo só o suficiente para parecer clandestina. Eu sentia o coração acelerar, não por medo, mas porque cada palavra, cada gesto, era uma peça afiada do plano.— Você acha mesmo que pode me dar ordens, Alessandro? — eu gritei, voz cortante.Ele avançou, encarnando a fúria combinada. — Ordens? Tento apenas evitar que você se arrisque por orgulho!— Orgulho que me manteve viva quando juramentos e alianças falharam — rebati. As palavras soavam cruas, críveis.Alessandro empurrou a mesa, papéis voaram; eu saí com passos que soavam como sentenças. Donatella fingiu desligar a câmera. No corredor, quando ele me puxou de volta, o beijo que deu não era cumplice do teatro: era promessa.— Até a linha de chegada, — murmurou ele contra os meus lábios.— Até a linha de chegada, — respondi, e parti para a floresta, pés descalços, arco nas costas,
ALESSANDRO O amanhecer parecia calmo demais.O tipo de calma que antecede uma tempestade — silenciosa, densa, quase cruel.Do andar de cima, ouvia o choro breve de um dos bebês, logo acalmado pelo toque paciente de Isabella.Era estranho… mesmo depois de tudo o que enfrentamos, ela parecia a única capaz de manter a sanidade da casa.E era exatamente por isso que me corroía por dentro o fato de ela ser o centro da armadilha.Quando entrei no quarto, Isabella estava diante da janela, o roupão leve.A luz da manhã desenhava sua silhueta — uma visão que em qualquer outro dia me faria esquecer o mundo.Mas aquele não era um dia comum.— Eu te amo — falei, aproximando-me. — A mulher, a guerreira, a mãe… e agora, a isca mais perigosa.Ela riu, um riso curto, sem humor.— A isca, Alessandro? Que nome bonito para a mulher que você está prestes a colocar no centro da mira de Arthur.— O farol. — corrigi, tocando seu rosto. — O farol que vai atrair o inimigo até o abismo.Isabella virou-se, sen
ALESSANDRO O vapor escapava pela fresta da porta do banheiro, trazendo o perfume suave de lavanda misturado ao cheiro de sabonete neutro. Um contraste quase poético com o peso que pairava sobre a casa — como se, por alguns minutos, o mundo lá fora tivesse deixado de existir.O som do chuveiro cessou, e por um instante, o silêncio me envolveu. Então, a porta se abriu devagar.Isabella surgiu, envolta em um roupão branco, o cabelo ainda úmido, pingando em pequenas gotas que escorriam pela curva do pescoço. Havia algo de hipnótico em vê-la assim — despida da guerra, dos medos, da postura de caçadora. Apenas ela.Sorri, e as palavras saíram antes que eu pudesse contê-las:— Eu amo todas as suas versões.Ela ergueu o olhar, surpresa. Um meio sorriso se desenhou em seus lábios.— Todas? — perguntou, aproximando-se. — Até a que te deixa louco de preocupação?— Principalmente essa — respondi. — Porque é a prova de que você ainda está aqui.Isabella riu, e o som foi leve, raro. Sentou-se no m
ALESSANDRO O som do motor se perdeu na curva da estrada antes mesmo que a luz dos faróis fosse engolida pelo portão de ferro. Donatella estacionou com a precisão de sempre e saiu do carro antes mesmo que o motor silenciasse por completo. A noite estava fria, úmida, e o ar cheirava a terra molhada — o mesmo cheiro que sempre anunciava o início de algo perigoso.Eu e Riccardo aguardávamos na entrada da casa, ao lado das colunas de pedra. Quando vi Donatella abrir a porta de trás do carro e murmurar “a princesa está no carro”, soube que o plano havia sido executado com perfeição.Isabella desceu logo atrás dela. O rosto estava limpo, mas as botas ainda traziam lama até o tornozelo. Havia um brilho satisfeito em seus olhos — aquele tipo de satisfação que só aparece quando a caça se entrega acreditando ser caçadora.— A princesa, hein? — murmurei, cruzando os braços. — Espero que não tenha dado muito trabalho.Isabella soltou uma risada leve, quase divertida.— Trabalho? Nenhum. Só uma bo





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