ALESSANDRO
Três dias. Três dias desde o atentado. Meu pai segue em coma. O hospital virou um quartel silencioso, e eu, o novo centro gravitacional de tudo que ele deixou para trás. As famílias observam. Os inimigos, aguardam. E a Bratva, ao que parece, voltou a respirar. Desde que o nome Viktor Rostova foi pronunciado, algo dentro de mim mudou. Não pela ameaça — mas pelo significado. Rostova não se move por acaso. Se ele procura um herdeiro, é porque há poder envolvido. Linhagem. Sangue. E meu pai sabia. O computador diante de mim é um mosaico de rostos, conexões, registros apagados e arquivos criptografados. Levi trouxe o melhor hacker que tínhamos — o tipo de homem que não dorme enquanto o código não se curva. — “O que temos?” — pergunto. O homem digita, o som do teclado é o único ruído no bunker subterrâneo. — “Viktor Rostova está fora do radar há anos. Nenhuma aparição pública, nenhum rastro digital. Só movimentações antigas na fronteira da Geórgia e da Ucrânia. Mas... tem algo estranho.” — “Diga.” Ele vira o monitor em minha direção. Um mapa aparece, vários pontos vermelhos piscando pela Europa. — “Esses são os locais onde acreditamos que os intermediários da Bratva operam. Mas veja isso.” Um ponto solitário. Na Itália. Centro-sul. Região florestal, praticamente inabitada. — “A Bratva não atua aqui,” — murmuro. — “Exatamente. Por isso investigamos mais a fundo. Há mais de dezoito anos, houve registros de movimentação militar e desaparecimento de uma agente italiana: Donatella Moretti.” O nome acende um alerta em minha mente. Moretti. A antiga rede de espionagem da Camorra, dissolvida décadas atrás. — “Continue.” — “Desapareceu após uma missão em território russo. Alguns relatórios sugerem envolvimento pessoal com um homem da Bratva… e uma gravidez não autorizada. Mas são boatos não confirmados, conversas de copo após uma missão ou outra” A peça encaixa. Rostova. O herdeiro. — “Você está dizendo que o filho de Viktor Rostova é italiano?” — “Estou dizendo,” — o hacker hesita — “que a criança nunca saiu da Itália.” Silêncio. Por um instante, o som do teclado desaparece, e só o pulsar do meu sangue preenche o espaço. Levi, de pé ao meu lado, cruza os braços. — “Então o filho que Viktor procura... está em nosso território.” Eu me levanto, o olhar fixo no mapa, na mancha verde de floresta. Floresta inabitável, perigosa, hostil. O mesmo tipo de floresta onde, anos atrás, eu quase morri. Onde uma “fada” me salvou. E desapareceu. Engulo em seco, o pensamento se tornando uma lembrança, depois um pressentimento. Não pode ser coincidência. — “Rastreie tudo. Satélite, registro de energia, sinais térmicos. Qualquer coisa que se mova naquele perímetro, eu quero saber.” — “E se encontrarmos?” — Levi pergunta. Meu olhar continua fixo no mapa, a voz baixa, cortante, na imagem do meu pai, sereno por fora, mas lutando pela vida por dentro. O sobrenome caído no esquecimento e uma promessa: — “Então o herdeiro da Bratva vai descobrir que o inferno… também fala italiano.”