ISABELLA Meu mundo sempre foi escuro antes do amanhecer. Não no sentido literal — sempre tivemos luzes acesas, salas protegidas, câmeras — mas no silêncio, nos segredos. Mamãe dizia que era para meu próprio bem, e talvez fosse. Cresci aprendendo que uma arma pode salvar ou tirar vidas, que números e sistemas são tão perigosos quanto balas. Que a fraqueza é fatal. Não lembro de ter sido criança de verdade. Meu corpo queimava com o arco e flecha grande demais para minhas mãos, com socos e chutes que me deixavam em carne viva, com dores de cabeça quando tentava aprender matemática, línguas ou sistemas de tecnologia. Mas eu amava-a, e ela me amava. Ela sempre cuidava de mim. Então, naquela madrugada, fui acordada pelo som de batidas na porta. Meu coração disparou, como sempre. — “Mamãe, tem alguém batendo na porta!” — sussurrei. Ela pegou a arma. Instinto. Reflexo. Treinamento. Eu me escondi, observando cada movimento. — “Sou eu. Riccardo.” Mamãe engoliu em silêncio, esconde
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