Ela salvava vidas com as mãos. Ele as tomava com um estalar de dedos. Dr.ª Isabela Diniz, 30 anos, neurocirurgiã em Istambul, vive uma rotina disciplinada, cercada por bisturis, protocolos e ética. Mehmet Demir, 36 anos, líder silencioso de um clã mafioso turco, comanda o submundo com a frieza de quem já viu o inferno e voltou. Dois mundos destinados a nunca se cruzarem… até que o destino resolve operar sua própria cirurgia.
Ler mais“Há um momento na vida em que o amor deixa de ser apenas paixão. Ele se transforma em escudo. Em arma. Em guerra.”⸻Era como se uma nova versão de mim mesma tivesse despertado naquela manhã. Quando abri os olhos, o lado da cama onde Emir dormia estava vazio. O travesseiro ainda guardava seu cheiro — mistura de couro, tabaco e desejo. Mas o calor dele já havia se dissipado. Ele havia partido.E eu, apesar do medo, sabia o que precisava fazer.Desci as escadas da mansão vestida com uma calça jeans justa, uma camisa preta colada ao corpo e a pistola que Ayla havia me dado presa ao meu quadril. Nunca pensei que um dia estaria armada dentro de uma mansão mafiosa, mas ali estava eu, caminhando entre homens que me olhavam com respeito e temor. Não porque sabiam quem eu era. Mas porque sabiam de quem eu era.E eu pertencia a Emir Kaya.Na sala principal, Ziya, o braço-direito de Emir, me esperava com expressão rígida.— Ele pediu que você ficasse aqui — disse ele, direto.— E eu pedi a você
Você está prestes a descobrir até onde alguém pode ir por amor, por medo, por vingança.⸻A chuva caía fina, escorrendo pelos vidros do carro preto blindado enquanto ele cortava as ruas estreitas de Istambul com precisão calculada. Do banco traseiro, eu observava as luzes da cidade dançarem com o reflexo dos faróis. Meus dedos estavam entrelaçados nos dele. Era assim que eu me agarrava à realidade. À segurança. À única pessoa que ainda me fazia sentir algo além do caos: Emir.— Estamos perto — ele disse, a voz baixa, com os olhos fixos no celular, onde acompanhava a localização de um dos seus informantes.Havíamos passado os últimos dias rastreando Mehmet, o traidor que, até duas semanas atrás, sentava à mesa de Emir como um irmão. Agora, ele estava foragido, escondido em algum canto obscuro da cidade, depois de tentar entregar segredos da organização para um cartel russo.— Por que ele fez isso? — perguntei, tentando entender como a lealdade de alguém poderia mudar tão drasticamente.
O retorno a Istambul teve o gosto agridoce de um respiro temporário. A cidade se estendia diante de nós como um tabuleiro minado, onde cada peça movida poderia significar a vitória ou a ruína. Estávamos de volta, mas nada era como antes. Eu sentia isso nos olhos de Mehmet, no silêncio de Yasmin, até mesmo na forma com que os guardas se posicionavam ao redor da mansão.Engin havia declarado guerra, e agora ela se espalhava como veneno pelas raízes da máfia turca.Mas o que mais me preocupava não era a guerra em si. Era o que ela faria com Mehmet.⸻Naquela manhã, estávamos sentados na varanda do quarto. O céu ainda carregava as primeiras tonalidades de azul, e a cidade começava a despertar embaixo de nós. Ele segurava uma xícara de café turco entre os dedos, mas não tomava um gole sequer. Seu olhar estava longe, como se buscasse respostas no horizonte.— Ele mexeu com a estrutura das famílias — disse ele. — Engin está oferecendo acordos melhores. Dinheiro, rotas, até mulheres. Alguns d
A manhã chegou carregada de tensão. A mansão estava silenciosa demais. Até mesmo os empregados, normalmente ágeis e solícitos, andavam como sombras nos corredores. Algo estava mudando. Eu podia sentir no ar, como se o mundo estivesse prestes a desabar.Mehmet ainda não tinha voltado para a cama. Eu o encontrei novamente no terraço, como na noite anterior, mas desta vez ele estava ao telefone, falando em turco com alguém que parecia irritá-lo profundamente.— …não quero justificativas. Se não resolver isso em vinte e quatro horas, não me ligue mais — disse ele, encerrando a ligação com força.Ele se virou e me encarou. A exaustão estampada no rosto. A barba por fazer, a camisa amarrotada, o olhar… sombrio.— Temos um problema em Izmir. Um dos carregamentos foi interceptado. Não foi a polícia.— Foi Engin?— Provavelmente.A resposta seca, sem rodeios. Sentei-me na poltrona de vime, sentindo a brisa da manhã acariciar meu rosto.— Então ele já começou.— Sim. E se ele teve coragem de at
Os dias seguintes ao descobrimento do traidor foram cobertos por uma calma artificial. Era como se a mansão respirasse aliviada por fora, mas ainda sangrasse por dentro. Os homens voltaram às rotinas com olhos mais atentos, conversas mais curtas e olhares que atravessavam paredes. Mehmet, por outro lado, parecia ainda mais contido, como um vulcão que congelava por fora, acumulando magma por dentro.Eu percebia. Estava em cada gesto, em cada silêncio prolongado durante as refeições, em cada olhar que ele trocava comigo quando achava que eu não estava vendo. E foi em um desses silêncios que Yasmin me chamou de lado, na biblioteca.— Precisamos conversar — disse ela, encostando-se à estante de livros antigos como se buscasse apoio ali.— Sobre o quê?— Mehmet não confia mais em ninguém, Elif. Nem em mim. E por mais que ele te ame, você está cada vez mais no olho do furacão.— Ele não me ama, Yasmin.Ela riu com ironia.— Ama sim. Mas está com medo. Do que você representa. Do quanto você
A tempestade caiu sobre Istambul naquela noite como um presságio. Relâmpagos cruzavam o céu, rasgando o escuro com violência, e o som dos trovões se confundia com os barulhos dentro da mansão. Mehmet havia convocado todos os homens de confiança. A sala de reuniões, escondida atrás de uma parede falsa no andar térreo, estava cheia de tensão e ódio contido.Eu assistia tudo de uma cadeira no canto da sala, minha presença permitida apenas porque Mehmet havia exigido. Ainda assim, eu sentia os olhares desconfiados, julgadores, de todos ao meu redor. Para eles, eu era apenas a médica que se tornara a amante do chefe. Mas o que ninguém sabia é que, com o tempo, eu também estava me tornando algo mais — uma sombra dentro do império de Mehmet, uma testemunha dos horrores e das glórias daquele reino sangrento.Ele entrou por último, os olhos negros mais sombrios do que nunca. Estava com uma camisa escura, as mangas dobradas, revelando os antebraços fortes. A arma presa à cintura parecia parte d
Acordei com o peso de um corpo sobre o meu. Não era opressor, era reconfortante. Mehmet dormia profundamente, uma das mãos entrelaçada à minha, a outra ainda pousada em minha cintura, como se me guardasse mesmo em sonhos. Sua respiração era lenta, quase imperceptível, mas o calor que emanava dele me cercava por inteiro.Lá fora, o dia já havia nascido. A mansão estava silenciosa, como se aguardasse o próximo sopro de caos. Meu corpo ainda sentia os ecos da noite anterior — a posse, o suor, os gemidos abafados, os olhos dele cravados em mim como uma sentença. Eu estava marcada. De todas as formas possíveis.Me mexi com cuidado, sem querer acordá-lo. Mas ele murmurou meu nome como um feitiço e me puxou para mais perto, colando sua boca à minha nuca.— Vai fugir de mim agora? — a voz rouca, arranhada pelo sono.— Só precisava respirar. — sorri.Ele me virou com um movimento rápido e me prendeu sob o corpo.— Não tem permissão pra respirar longe de mim.— Isso é um sequestro romântico?—
A manhã amanheceu abafada, o céu nublado como se anunciasse tempestades não apenas climáticas, mas também emocionais. A mansão já estava em movimento — homens armados, carros sendo preparados, ordens trocadas em voz baixa. O clima estava tenso. Eu sentia nas paredes, nas pessoas, no olhar de Mehmet.Ele surgiu à porta do quarto vestindo uma camiseta preta justa ao corpo, calça jeans e botas. Simples. Mas havia algo letal em sua presença. Uma combinação de homem e predador que fazia meu corpo reagir de forma involuntária.— Pronta? — ele perguntou, estendendo a mão para mim.— Pronta. — respondi, com mais firmeza do que sentia.Ele me guiou para fora do quarto, e descemos os corredores em silêncio. No quintal dos fundos, uma mesa longa estava preparada. Sobre ela, várias armas de diversos tamanhos. Pistolas, revólveres, um rifle. Tudo meticulosamente organizado.— Isso é… assustador. — murmurei, tentando manter a calma.— Vai parecer menos com o tempo. — ele se aproximou e pegou uma pi
Os primeiros raios de sol entravam pelas frestas da cortina, mas o quarto ainda parecia mergulhado num limbo entre sonho e realidade. A noite anterior me deixara marcada de um jeito que nenhuma outra havia feito antes. Não era apenas o sexo, ou a intensidade do momento — era a promessa. O pedido. A sensação de pertencimento que crescia entre nós como algo indestrutível.Acordei com a respiração quente de Mehmet no meu pescoço. Seu braço me envolvia pela cintura, possessivo e protetor. Por um segundo, desejei que o mundo lá fora desaparecesse. Que fôssemos apenas nós dois, naquela cama, entre lençóis amassados e promessas sussurradas.Mas a realidade tem um jeito cruel de invadir os momentos mais doces.— Já acordada? — sua voz veio rouca, preguiçosa, os lábios roçando minha pele.— Acordada e tentando memorizar cada centímetro seu.Ele riu baixinho. Sua mão deslizou pelas minhas costas nuas, descendo com lentidão calculada até a curva da minha cintura.— Ontem você aceitou casar comig