ISABELLA
O vento trazia um cheiro estranho naquela noite. Não era chuva, nem fogo. Era o cheiro de metal, de roupas pesadas, de homens que se moviam com cautela. Meu instinto gritou antes mesmo de meus olhos perceberem: Eles estão aqui. Levi. E alguns dos homens mais leais a Alessandro. Não eram tantos. Não ainda. Mas era o suficiente para que minha sombra fosse detectada. Respirei fundo, tentando ouvir além do barulho das árvores. Eles não sabiam o que enfrentavam. Mas também não sabiam que eu estava pronta. O coração disparado, mas a mente fria, corri pela trilha que conhecia desde pequena. Cada passo calculado, cada galho quebrado ou folha amassada, um alerta silencioso. Eles rastreavam, seguiam sinais que eu sabia apagar. Mas o instinto deles, a determinação deles… não podia subestimar. Não podia lutar contra a Camorra — não diretamente. Mas podia me mover. E sobreviver. A floresta é minha aliada. O silêncio, meu escudo. O medo, meu guia. Quando alcancei a cabana, meu corpo latejava, mas não por fadiga. Era adrenalina. Era necessidade. Donatella estava lá. No meio de mapas espalhados, fotos, registros — rastreando pistas sobre o atentado a Dom Riccardo. Ela não olhou para mim de imediato. O olhar dela estava preso a algo muito mais sério. — “Mamãe…” — comecei, a voz baixa, quase engasgada. — “Eles… Levi… Alessandro enviou homens. Estão rastreando… eu sinto. Eles sabem… sabem sobre mim.” Ela se levantou devagar. O olhar de guerreira retornou, implacável. — “Mostre-me onde eles podem nos ver.” Caminhei até a porta e apontei para a direção da trilha que eles poderiam usar. Ela inclinou a cabeça, calculando. — “Rostova.” — murmurou, para si mesma, baixinho. — “Isso está ficando maior do que pensei. Maior do que eu gostaria” — “Eles estão atrás de mim.” — confirmei. — “Acho que Alessandro quer me encontrar antes que Viktor tenha chance.” Donatella respirou fundo, os punhos cerrados. — “Então é hora de nos movermos. Não podemos esperar que eles venham até nós.” — “Eles são poucos,” — comentei, tentando medir a situação. — “Podemos despistá-los… por agora.” — “Não é apenas por agora, Isabella.” — Ela me cortou, firme. — “É por sempre. Sempre que alguém souber onde você está, será caçada. É por isso que você treinou tanto. E é por isso que deve confiar em mim, sempre.” Senti o peso das palavras. A adrenalina ainda queimava minhas veias, mas havia também conforto. Por mais que o mundo inteiro quisesse me reduzir a um alvo, Donatella ainda era meu escudo. — “Vamos partir então,” — disse ela, já coletando armas, mapas e suprimentos. — “Rastros limpos. Sem confrontos. Sobrevivência em primeiro lugar, não precisamos disso agora" Concordei silenciosa, ajustando o arco nas costas, a adaga presa à cintura e pegando a minha mochila pequena, sem história. A floresta à nossa volta parecia respirar conosco, cúmplice do nosso segredo. Naquela noite, Isabella Moretti não era apenas filha de uma espiã. Ela era sombra. E, como sempre, a luz de Donatella atrás dela a mantinha viva.