Angeline é uma jovem de beleza angelical, com cabelos cor de fogo e olhos que refletem a luz da inocência. Em um mundo onde vive para agradar os outros, sua vida é uma sequência de desejos alheios, sufocando seus próprios sonhos. No entanto, assim como Lúcifer, o anjo que caiu da graça, Angeline está prestes a descobrir que até os mais puros têm um lado obscuro. À medida que a pressão de ser perfeita se torna insuportável, uma figura demoníaca aparece em sua vida, oferecendo a ela a liberdade que tanto anseia. "ᴠᴏᴜ ᴛᴇ ǫᴜᴇʙʀᴀʀ ᴅᴇ ᴅᴇɴᴛʀᴏ ᴘᴀʀᴀ ғᴏʀᴀ, ᴠᴏᴄᴇ̂ ɪʀᴀ́ ɪᴍᴘʟᴏʀᴀʀ ᴀ ᴍᴏʀᴛᴇ, ᴘᴇᴅɪʀᴀ́ ᴘᴀʀᴀ ǫᴜᴇ ᴏ sᴇᴜ Dᴇᴜs ᴀᴄᴀʙᴇ ᴄᴏᴍ sᴇᴜ sᴏғʀɪᴍᴇɴᴛᴏ. Vᴏᴄᴇ̂ ᴇ́ ᴍɪɴʜᴀ, Aɴɢᴇʟɪɴᴇ! E ᴇᴜ sᴏᴜ ᴏ ᴜ́ɴɪᴄᴏ ǫᴜᴇ ᴅᴇᴠᴇ ᴀᴅᴏʀᴀʀ." Atraída por essa sedução sombria, Angeline se vê dividida entre o desejo de conformar-se e a necessidade de se libertar. À medida que Angeline se aprofunda em um mundo repleto de sombras e tentações, ela precisa confrontar sua verdadeira identidade. Em meio a essa batalha interna, deve decidir se se tornará um símbolo de resistência ou se será tragicamente consumida por sua própria queda. Esta é a história de uma jovem que, ao tentar encontrar sua própria voz, corre o risco de se perder no abismo entre o bem e o mal.
Ler maisFlorença | Toscana
O dia em Florença é sempre belo, adoro a sensação de liberdade que tenho aqui, pelo menos nas proximidades do internato. O lugar é repleto de árvores e tem um jardim fantástico, o que compensa ser afastado de todos e no meio do nada. Estou aqui há tanto tempo que não sei diferenciar mais. Não reclamo por amar a paz deste lugar, mas um pouco de liberdade é sempre bom. — Angeline? Escuto a voz da madre me chamar. Olho para cima e lá está ela me olhando com seus grandes olhos pretos. A madre é como uma mãe para mim, uma que nunca tive. — Suba aqui em cima, preciso de você, querida. — Sim, Senhora! Já estou indo, madre. Respiro mais uma vez o ar livre e entro. Sigo para a sala da madre no final do corredor. Ela disse que a vista é melhor, assim pode observar todas as meninas. Exagero, é claro. Não temos contato com ninguém de fora, exceto os nossos pais. Pelo menos as meninas que recebem visitas da família, o que não é o meu caso. — Posso entrar? — bato levemente na porta. — Sim, querida! — diz com a voz baixa. Entro em sua sala e a madre está sentada em sua cadeira, seus olhos recaindo sob mim e um sorriso brotando em seus lábios. — Sente-se, Angeline. Faço como ela manda, uma curiosidade sobre mim é que sou muito obediente, o que faz com que eu seja motivo das piadas das outras meninas, elas dizem que sou a mulher que todo homem gostaria de ter, completamente submissa. — Teremos uma garota nova conosco, gostaria que mostrasse tudo a ela, ela ficará como sua colega de quarto. — Sim, madre. Os dormitórios são divididos, no meu quarto só tem eu e outra garota, porém ela mal fala comigo, então me animo com a possibilidade de ter uma amiga. — Angeline… Essa menina vem de uma família muito importante, não entrarei em detalhes com você, mas quero que tome cuidado com tudo que dirá perto dela. O seu irmão irá trazê-la hoje à tarde, parece que ele andou tendo problemas com ela e somos a última solução. — Não se preocupe, madre, farei como deseja. — Por isso, é tão querida, é um anjo, Angeline. — sorri para mim. Abro um grande sorriso, a madre sempre diz que sou um anjo desde pequena, nunca fui desobediente com ela ou com as irmãs, sempre doce e carinhosa com todos. — Pode ir, querida. Assim que eles chegarem, mando te chamar. Levanto-me da cadeira com calma e aceno em concordância. Lembro-me de que tenho umas tarefas para fazer, caminho para o meu quarto, porém, infelizmente, tenho o azar de cruzar com o grupinho de Amanda, ela não me deixa em paz. — Olha só o que temos aqui… — Bom dia, meninas! — tento passar pela mesma que segura meu braço. — Não tão rápido… Está com pressa para cumprir o que a suprema madre ordenou? — Seu tom é debochado. Fico em silêncio e abaixo um pouco a cabeça. — Odeio seu jeito sonso, Angeline! Finge ser prestativa e bondosa, mas por dentro é uma alma venenosa. — Não sei o motivo de agir assim, nunca fiz nada para você. — Não precisa de motivos, idiota! — me empurra. — Vamos embora, deixa essa garota aí… Não serve mesmo para nada! — uma de suas amigas diz rindo. — Sim, por isso nunca recebe visitas de ninguém, nem a família a quer por perto. — Saí andando, rindo. Fico parada no mesmo lugar, as lágrimas querendo cair dos meus olhos, tudo que elas disseram é verdade, nem minha família gosta de mim, minha mãe faleceu no meu parto, eu nunca vi nenhuma foto sua, só ouvi alguns relatos do meu irmão do meio, Luigi é o único que gosta de mim, mesmo que não venha me ver, ele manda cartas. Vou para o quarto e me deito na cama chorando, dói muito, mas sou forte, é provação. No banheiro, tiro o uniforme do internato, somos obrigadas a usar essa vestimenta, que consiste em uma saia um pouco acima do joelho, blusa social branca, blazer azul, meias 3/4 e sapatilhas pretas. Meu banho não é demorado, sou prática na limpeza, mas também em economizar. Saí enrolada em um roupão e com uma toalha na cabeça. Temos uma pequena cômoda no quarto onde podemos guardar nossas coisas. Não tenho muitas, pois não podemos usar roupas normais aqui dentro. Então, pego outro par do uniforme, que estava guardado e visto. Costumo deixar meu cabelo solto, gosto de como ele é livre. Saio do quarto e vou para o jardim, me sento em um banco de frente para uma árvore, o céu hoje está lindo e bem azul, as pequenas nuvens complementam essa beleza. — Merda! Escuto alguém xingar e olho para trás vendo uma garota. Observo atentamente a menina, ela não é daqui, suas roupas demonstram isso. — Posso te ajudar? — me levanto do banco. Só agora a menina percebe minha presença. — Estuda aqui? — pergunta olhando minha roupa. — Moro aqui. — Estou procurando a saída, eu me perdi. — Por que está aqui? — pergunto curiosa. Percebo que ela não responde minha pergunta, parecendo exitar. — E então? — abro um sorriso inocente. — Quero fugir, tá legal? — bufa. — Fugir? Por qual motivo? — Meu irmão, quer que eu venha morar nessa merda de lugar. Olho para ela, confusa e surpresa. Irmão? Garota tentando fugir? Ela é a menina que a madre falou! — Espera… Você é a nova garota! — Nova garota? — levantou uma das sobrancelhas perfeitamente alinhadas. — É que a madre me disse que chegaria uma nova menina hoje, eu deveria te apresentar o lugar, vai ver que não é tão ruim. — Qual o seu nome? — Angeline… — Ok, Angeline. Obrigada, mas não estou a fim de conhecer esse lugar, não ficarei aqui. — Ah, que pena… Realmente senti uma pequena tristeza, essa menina era a primeira que não me tratava com indiferença. — Qual o seu nome, então? — É... — SOFIA! Antes que a menina terminasse de falar, uma voz muito potente chamou seu nome, me tremi inteira só com o seu grito, e pelo jeito Sofia também. — Dannazione! — Qual a porra do seu problema, Sofia? Mandei que me esperasse, deveria te mandar logo para a Rússia. Só com essa menção, a garota que descobri chamar Sofia se tremeu inteira e arregalou os olhos. Eu ainda estava de costas, sentia medo desse homem apenas ouvindo sua voz. — Desculpa, fratello… Eu não fugi, apenas vim conhecer o jardim, fiz até uma amiga. — olhou para mim, suplicante. — Angeline? A voz da madre ecoou em meus ouvidos, me virei lentamente com a cabeça baixa. — Sim, madre? — O que ela diz é verdade? Pensei por alguns segundos, nunca havia mentido na minha vida. — Sim… É verdade… Escutei Sofia dar um suspiro nervoso atrás de mim, provavelmente por eu gaguejar. — Você fede à mentira, menina! — diz com a voz raivosa. — Angeline não mente, Don. Por favor, isso precisa acabar logo. — Olhe para mim! — ordena. Além de tremer, comecei a suar também, ótimo, Angeline. — É surda, menina? — segurou no meu queixo, levantando com brusquidão. De repente, esqueci até como respirar, seus olhos avaliaram os meus, pareciam perdidos, hipnotizados, eu olhava no fundo dos seus olhos e não via nada, apenas escuridão. Aquilo me assustou, como ele me olhava, me apavorava. Como se minha pele lhe queimasse, ele me soltou e se afastou novamente. — Você ficará aqui, Sofia. E espero que aprenda a se comportar como uma mulher de verdade, porque, pelo que vejo, estão criando meninas mentirosas por aqui. — diz, olhando furioso para a madre. Percebo quando ela engole em seco e abaixa a cabeça. — Angeline, leve Sofia para conhecer o dormitório dela, depois quero você na minha sala. — O tom dela é severo. — Sim, senhora. Vamos, Sofia! Caminho na frente devagar, Sofia para perto do irmão. — Fratello... — Cala a boca, não quero ouvir suas mentiras. Sofia abaixa a cabeça e anda até mim, seguimos o nosso caminho, não me atrevo a olhar para trás, mas sinto seu olhar me acompanhar. {…} — Obrigada por mentir por mim. — Não precisa agradecer, até porque não funcionou. — Abro um sorriso pequeno. Sofia começa a trocar de roupa na minha frente, o que me deixa ligeiramente envergonhada. — Mesmo assim, Angel… Obrigada! — Angel? — Sim, um apelido, espero que não se importe. — Claro que não, nunca me deram um apelido. — Abro um grande sorriso. Alguém b**e na porta. — Pode entrar! — digo quando vejo Sofia já vestida. Uma das irmãs aparece na porta. — A madre quer vê-la, Angeline. — Já estou indo, irmã. Ela assentiu e saiu. — Acha que está encrencada? — Talvez… Mas a madre sempre foi boa comigo, não estou com medo. — Se você diz… Me despeço de Sofia e sigo para a sala da madre. Bato na porta após respirar fundo. — Entre! — Com licença, madre. Ela me olha enquanto caminho em sua direção, meu coração quase saindo pela boca. Ela gesticula com a cabeça para que me sente, assim eu faço. — Por que mentiu, Angeline? Direta como sempre. — Desculpa, madre! — abaixo a cabeça envergonhada. — Estou esperando… — Menti porque é a primeira vez que tenho uma amiga, sei que é errado, mas na hora me pareceu o certo. — O que fez foi muito sério, menina. Sabe quem aquele homem é? Olhei para ela, confusa. — O Don, seu líder! Don? Ouvi a madre chamá-lo assim, porém não me atentei a esse detalhe. Aquele homem é o Capo di Tutti Capi, traduzindo, O chefe de todos os chefes. Meus olhos se arregalaram de medo, se ele quisesse, poderia ter me matado ali mesmo, pois não cumpri com minha palavra de lealdade. — Eu não sabia, madre… — Eu sei. Agora que já sabe, tome cuidado com seus atos, gosto muito de você, Angeline, sabe disso. — Perdão, madre! — Tudo bem, mas terá um pequeno castigo. Lavará todos os banheiros por uma semana. — Sim, senhora! — Agora pode ir. Me levantei e fui para a porta, ainda estava pensativa quanto ao que escutei. — Pobre criança… Ouvi a voz baixa da madre dizer.Epílogo Cinco anos se passaram. O tempo, embora implacável, não foi suficiente para apagar os traços do caos deixado por uma traição que mudou o rumo da máfia para sempre. Matteo Fontana, agora com 30 anos, saiu da prisão depois de cumprir cinco anos em regime fechado. Silencioso, mais frio do que nunca. As rugas marcavam seu rosto, e o olhar carregava o peso da dor, da saudade e da fúria contida. Fora da cadeia, sua primeira ordem foi clara: Encontrar Angeline, apagar qualquer rastro dela e limpar seu nome, custasse o que custasse. Quem estivesse no caminho seria descartado. Sem piedade. Angeline, aos 23 anos, vivia agora em Tromsø, na Noruega, sob a identidade de Elena Moretti. Longe da máfia, dos tiros e da culpa, trabalhava em uma pequena livraria no centro da cidade e dava aulas particulares de italiano para estrangeiros. Mantinha uma vida discreta e reclusa, envolta em neve, silêncio e saudade. Carregava o vazio de ter deixado seu filho para trás. Luca agora tinha 5 anos. El
Três meses depois... Três meses.Noventa dias.Dois mil e cento e sessenta horas.Preso. Isolado. Cheirando mofo, sangue e arrependimento. A cela é pequena, mas o ódio ocupa cada centímetro.Aqui, a escuridão tem nome.Angeline. A mulher que eu amei. A mulher que eu protegi. A mesma que me destruiu com um único movimento. Frio. Preciso. Letal. A prisão é uma tortura silenciosa. O tempo não anda, rasteja, me arranhando como lâmina cega, me lembrando todos os dias que eu fui enganado. Traído.Fudido. Já não sei o que é sono.Só tenho raiva.Só tenho sede de vingança. Hoje é dia de visita.Giovanni chega primeiro, com o olhar duro e atento de sempre. Logo atrás dele, Verônica entra com Isabella e Luca. — Papai! — Isabella grita, os olhinhos brilhando, sem entender que o pai dela agora vive atrás das grades. Que o homem que ela ama é chamado de criminoso. Me ajoelho. Ela se joga nos meus braços e eu a aperto como se fosse minha âncora nesse inferno. Ela é tudo que me resta de luz.
O cheiro de Luca ainda era o mesmo. Doce, puro… como se ele ainda estivesse no meu ventre. Ele tinha só um mês. Um mês. E já estava sendo arrancado dos meus braços. — Meu amor… — sussurrei com os lábios tremendo enquanto passava os dedos na bochecha macia dele. — Mamãe te ama. Mais do que qualquer coisa nesse mundo, você sabe disso? Ele resmungou baixinho, os olhos fechados, alheio ao caos que nos cercava. Tão pequeno. Tão frágil.E eu tão impotente. As lágrimas escorriam sem controle. Não tentei conter. Não havia mais dignidade para salvar. — Me perdoa, Luca… me perdoa por não poder te proteger, por não poder ficar. Eu daria tudo para te ver crescer… — minha voz quebrou. — Mas eu fiz isso por você. A assistente social se aproximou. Meu corpo inteiro enrijeceu quando vi os braços dela estendidos. — Não! Só mais um segundo… — supliquei, apertando Luca contra o peito. — Angeline… — Giulia se aproximou com calma, mas firme. — Está na hora. Beijei a testa do meu filho, tentando m
Eu já sabia que não ia sair dali. As paredes da cela pareciam mais próximas a cada dia, como se tentassem me engolir. Mas não era o concreto que me esmagava, era a traição. O gosto amargo que não saía da minha boca, por mais que eu cuspisse no chão ou socasse as paredes até os nós dos dedos arderem. Angeline. O nome dela era um veneno que eu não conseguia parar de engolir. Cada vez que pensava nela, meu peito ardia de raiva… e saudade. A promotora apareceu no final da tarde, acompanhada de dois agentes. O terno preto dela estava impecável, o salto batendo seco no chão, e os olhos tão frios quanto os meus já tinham sido um dia. Giulia Bianchi. Claro que eu lembrava daquele sobrenome.O marido dela sangrou até morrer na calçada de um prédio no centro de Palermo. Um erro. Um aviso. Um castigo.Fui eu quem ordenei a execução. Foi o meu nome que ele amaldiçoou com o último fôlego. E agora… ela estava ali.Na porra da minha frente.Com um sorrisinho vitorioso, como se finalmente tiv
Fiz dezoito desejos antes de sair de casa.Nenhum deles se realizou. O restaurante estava perfeito, do jeito que Matteo gostava: exclusivo, luxuoso, com vista para o mar. A noite era quente, o vinho fluía pelas taças, as conversas entrelaçadas com risos abafados. Isabella estava animada com os doces da mesa, Sofia ria com Alessandra e Verônica ao fundo. Ivan observava tudo em silêncio, como sempre. Luigi me lançava olhares silenciosos, protetores. Bianca estava ao lado dele, contida. Giovanni discutia algo em voz baixa com Matteo, que parecia finalmente relaxado depois de dias tensos. E então o mundo parou. Policiais armados, coletes, distintivos.O caos invadiu o salão.Os soldados da máfia já estavam em posição, mas Giovanni levantou a mão, pedindo calma. — Mandado de prisão para Matteo Fontana. — disse o policial da frente, estendendo os papéis. Giovanni tomou os documentos com a frieza que só um subchefe treinado teria. Mas seus olhos… seus olhos procuraram algo no papel. E
Acordei com um silêncio estranho. A cama ainda estava quente do lado dela, o que me dizia que ela não tinha saído há muito tempo. Mas não estava ali. Levantei. O sol começava a cortar pelas frestas da cortina, o cheiro de café fresco já existia. Mas nenhum som de passos. Nenhum sinal de Angeline. Desci as escadas e encontrei a sala vazia. — Angeline? — chamei, mas só ouvi o eco da minha própria voz. Minha mente, já contaminada por tudo que aconteceu, se encheu de desconfiança. Ela nunca saía sem avisar. Estava subindo as escadas, tentando não pirar. Mas já estava com o celular na mão quando ouvi a porta da frente se abrir. Desci em dois segundos. Ela entrou devagar, parecendo querer passar despercebida. Quando me viu, travou. Olhos vermelhos. Corpo tenso. — Onde você estava? — perguntei direto, sem rodeios. — Estava no jardim. — respondeu rápido demais. Mentirosa. Cruzei os braços, encostei na parede e só a encarei. Ela subiu as escadas sem dizer mais nada. Fui atrás. Tinha
Último capítulo