ALESSANDRO
O cheiro de desinfetante e sangue misturado ainda me persegue desde o hospital. Os corredores da ala privada estão silenciosos, mas o som dos aparelhos — aquele bip contínuo — parece zombar de mim. Meu pai ainda respira, mas apenas porque as máquinas não desistiram dele. O olhar de Giorgia está perdido. Ela não chora mais. Ela espera. E eu… não tenho esse luxo. A Camorra não espera. O poder não espera. E os inimigos, muito menos. Quando Levi entra na sala, sei que ele traz algo importante. O olhar dele é rápido, nervoso, mas focado — como quem traz uma bomba e teme o impacto que ela vai causar. — “Fala,” — ordeno, sem levantar os olhos do copo de uísque perfeitamente escolhido por aquele que agora luta pela vida. Trazido por algum dos seguranças, a situação exigia. — “Pegamos um dos homens que estavam no perímetro do ataque,” — ele começa. — “Falou mais do que devia depois de umas horas. Você teria gostado” — “Quem mandou?” -Sem margem para qualquer outro comentário desnecessário Levi hesita. — “Não exatamente quem, mas por quê.” Levanto o olhar. Ele sabe que não tenho paciência para rodeios. Principalmente diante da situação em que estávamos — “Viktor Rostova.” O nome cai como chumbo no ar. Bratva. Rússia. Um império que só se move quando há sangue a ser cobrado. — “Rostova?” — repito, devagar. — “Por que ele atacaria Riccardo D’Amato?” Levi engole seco. — “O agente disse… que não era pelo Don. Era por algo que o Don sabia.” Silêncio. Meu pai sempre foi o tipo de homem que sabia demais. Agia no silencio — “Continua.” — “Rostova está procurando alguém. Um herdeiro.” Meu corpo endurece. — “Um filho?” Levi afirma com um aceno. — “Foi o que o agente jurou antes de desmaiar, ou morrer, não sei. Viktor quer o filho. Foi por isso que seu pai foi atacado — ele sabia onde o garoto estava. Ou, pelo menos, sabia quem podia levá-lo até ele.” O ar fica denso. As engrenagens se movem na minha mente, rápidas. Rostova. Um filho escondido. Um Don quase morto. As peças começam a se alinhar — e o instinto fala mais alto. Aperto o copo entre os dedos, sentindo o estalo do vidro rachando. Olho para Levi enquanto só sangue do vidro começa a gotejar. — “Se Viktor quer o filho…” — minha voz sai baixa, gélida. — “…nós o encontramos primeiro.” Levi hesita. — “E se for uma armadilha?” — “Então queimamos a armadilha junto com quem a montou. Mas foi por um Rostova que meu pai se feriu, o Don, se é inocente ou nao. Eu o quero sob minha custódia” Me levanto, o olhar fixo na janela do hospital, onde a noite cobre Nápoles como um lençol de chumbo. Meu pai pode estar entre a vida e a morte. Mas o império ainda respira. E, agora, o nome Rostova volta a ecoar — um nome que o inferno não esqueceu.