CAPITULO 2

ISABELLA

Eu tinha onze anos quando matei pela primeira vez.

Não por escolha.

Mas porque, no nosso mundo, hesitar é morrer.

Era fim de tarde. O sol se escondia atrás das copas das árvores, e o céu alaranjado tingia as folhas como se o próprio sangue estivesse no ar.

Mamãe estava em missão, vigiando uma rota próxima à estrada velha.

Eu fiquei na cabana — sozinha, como ela havia me ensinado.

“Silêncio é segurança”, ela dizia.

“Barulho é convite para a morte.”

Mas naquela tarde, o silêncio quebrou.

Um estalo.

Passos pesados.

Vozes baixas.

Peguei o arco, o coração acelerado, os dedos trêmulos.

A sombra surgiu entre as árvores — um homem grande, sujo, com o distintivo da Camorra pendendo do pescoço.

Eu o reconheci.

Um dos homens de confiança do meu tio, Riccardo.

— “Isabella, não é?” — ele disse, um sorriso torto nos lábios. — “Sua mãe é esperta… mas ninguém engana Riccardo por muito tempo.”

Meu sangue gelou.

Ele sabia.

— “Você vai me dizer onde ela está escondendo o resto do armamento… ou talvez eu diga a coisa certa pra pessoa errada.” — ele rosnou, dando um passo à frente.

Eu recuei, o arco erguido, mas ele não parou.

Riu. Um riso sujo, debochado.

— “Uma garotinha com brinquedos de gente grande. Bonito. Ela te treina pra quê, hein? Pra ser substituta ou escudo?”

O som da provocação cortou mais fundo que qualquer lâmina.

Meu corpo se moveu antes que minha mente entendesse.

A flecha voou.

Um assovio breve.

Um impacto seco.

Silêncio.

Os olhos dele se arregalaram, surpresos — um som rouco escapou da garganta enquanto a flecha o atravessava bem no peito.

Ele caiu de joelhos. Depois, imóvel.

O arco escorregou das minhas mãos.

A respiração falhou.

E o mundo, por um instante, pareceu parar.

Eu o olhava, incapaz de piscar.

O sangue se espalhava pelo chão, quente e real.

E o medo me invadiu, pesado, sufocante.

O que eu tinha feito?

Quando Donatella chegou, me encontrou ajoelhada, imóvel.

A flecha ainda cravada no corpo.

O chão manchado.

E eu — apenas uma menina — com as mãos tremendo como se nunca mais fossem parar.

Ela não disse nada no início.

Olhou a cena. Depois olhou pra mim.

E então se aproximou, lenta, sem armas.

Ajoelhou-se ao meu lado e segurou minhas mãos.

Elas estavam frias.

— “Olhe pra mim, Isabella.” — a voz dela era firme, mas baixa, controlada.

Eu levantei o rosto, os olhos marejados, o corpo rígido.

— “Eu… eu não queria…” — murmurei. — “Ele ia… ia contar, mamãe…”

Ela passou a mão no meu cabelo, afastando uma mecha colada pelo suor.

Seus olhos, duros como aço, se suavizaram.

— “Eu sei.” — disse. — “E é por isso que você teve que agir.”

— “Mas eu o matei…” — sussurrei, quase sem voz.

— “Você sobreviveu.” — respondeu.

Ficamos ali, as duas, em silêncio.

A chuva começou a cair devagar, lavando o sangue entre as folhas.

Donatella então me envolveu nos braços, o gesto mais raro de todos.

Seu corpo tremia levemente, não de medo, mas de um tipo de tristeza que eu ainda não entendia.

— “Nunca deseje matar, Isabella.” — sussurrou em meu ouvido. — “Mas nunca hesite quando for sua vida em risco.”

Ela se afastou um pouco, me fazendo encará-la.

Seus olhos estavam marejados, mas firmes.

— “Você sente medo agora. Isso é bom. Significa que ainda é humana.” — disse. — “Mas, um dia, vai aprender a esconder esse medo. Porque o mundo lá fora não vai te perdoar por senti-lo.”

Naquela noite, ela me fez enterrar o corpo.

Cada pá de terra era uma lição.

Cada respiração, um lembrete.

Quando terminamos, Donatella colocou a mão sobre o montículo de terra e disse:

“A morte de uma inocência pela minha culpa.”

Eu a olhei, sem entender o peso daquelas palavras.

Mas ela sabia.

A partir dali, a infância que eu ainda tentava segurar se perdeu de vez.

E o nome Isabella Moretti passou a significar apenas uma coisa:

A sombra que aprendeu a matar.

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